Como ontem referi, e depois de ter “caricaturado”, ao longo destas crónicas, muitos dos discursos, falta de moral seria não apresentar o que preparei para o Congresso, furtando-me assim à crítica.
Pois quem vai à guerra… Bom, aqui vai o dito, dividido em dois módulos de cerca de 3 minutos cada.
Caros Companheiros:
Dado que o tempo é escasso e não tendo grande jeito para a retórica, optei por reduzir a minha intervenção a contar uma pequena história, respeitante a uma pessoa que conheci no decorrer da minha carreira profissional, feita na área das empresas industriais e de serviços e da banca. Tratando-se de uma história, e como sou optimista, pode ser que me ouçam; mas sei que corro o grave risco, a esta hora da noite, de adormecer definitivamente o auditório. A ver vamos!...
Era uma vez um Presidente, o Presidente e principal dono de uma empresa, por sinal americana, que fundara há uns trinta anos, que crescera, se tornara multinacional e actuava à escala global.
Esse Presidente era visto como tendo um comportamento bastante singular: por um lado, era conhecido como adepto de uma gestão muito participada, promovendo frequentes reuniões com as diversas hierarquias, mesmo as mais baixas, a que fazia questão de estar presente e sobretudo tinha o hábito de recrutar para postos chave da empresa pessoas com culturas muito diversas ou que já tinham provado, em empresas concorrentes, estar nos antípodas da sua prática empresarial.
Dados os êxitos da sua empresa, calcorreava o mundo como convidado para muitas conferências e simpósios nos mais variados sítios.
Um dia, no período de perguntas de uma conferência para que fora convidado na Universidade de Harvard, a fim de explicar o sucesso da sua empresa, um dos participantes levantou-se e questionou-o desta maneira: Sr. Presidente, gostava que me respondesse a duas questões. A primeira é a seguinte: é conhecido o seu gosto por uma gestão muito participada, mas que leva a perdas grandes de tempo. Ora sendo o senhor praticamente o detentor exclusivo do capital das suas empresas, por que é que as principais decisões não são tomadas imediatamente por si? E a segunda: também é sabido que o senhor frequentemente recruta colaboradores que já evidenciaram uma cultura e uma prática empresariais completamente diferentes da sua. Não traz essa sua opção atritos e dificuldades de decisão para dentro da empresa?
O Presidente respondeu de forma simples, como simples era a sua maneira de ser.
Quanto à primeira questão, respondeu o Presidente, gostava de lhe dizer que sou o detentor exclusivo do capital, mas não sou o detentor exclusivo do bom-senso. Por isso, procuro ouvir o maior número de pessoas. Não me arrependo, já que a sua contribuição tem sido relevante para a tomada das medidas certas que fizeram o que esta empresa é.
Quanto à segunda questão, gostava de lhe dizer que sempre considerei estarem a mais nas minhas empresas os colaboradores que pensam exactamente como eu. Se pensam como eu, não são precisos, bastaria eu!…
Se não tivesse podido adquirir mais três minutos no mercado de tempos, teria ficado por aqui, com uma frase do género:
Caros Companheiros: todos sabemos que um Partido político não é uma empresa, mas estes dois bons princípios de gestão a que aludi gostava de os ver concretizados no nosso Partido. Aliás, o Presidente do Partido tem falado de renovação e, no ponto 7 da sua moção, refere mesmo, a bold, para melhor se ver, que “o partido tem de se abrir mais à participação activa dos seus militantes”. É tempo assim de passar da retórica, em que todos convêm, para a prática, em que muitos discordam. E por aqui me fico, que o meu tempo chegou ao fim. Muito obrigado pela vossa atenção.
Mas, com mais três minutos adquiridos no mercado de tempos, a conclusão será mais desenvolvida no capítulo seguinte.
Pois quem vai à guerra… Bom, aqui vai o dito, dividido em dois módulos de cerca de 3 minutos cada.
Caros Companheiros:
Dado que o tempo é escasso e não tendo grande jeito para a retórica, optei por reduzir a minha intervenção a contar uma pequena história, respeitante a uma pessoa que conheci no decorrer da minha carreira profissional, feita na área das empresas industriais e de serviços e da banca. Tratando-se de uma história, e como sou optimista, pode ser que me ouçam; mas sei que corro o grave risco, a esta hora da noite, de adormecer definitivamente o auditório. A ver vamos!...
Era uma vez um Presidente, o Presidente e principal dono de uma empresa, por sinal americana, que fundara há uns trinta anos, que crescera, se tornara multinacional e actuava à escala global.
Esse Presidente era visto como tendo um comportamento bastante singular: por um lado, era conhecido como adepto de uma gestão muito participada, promovendo frequentes reuniões com as diversas hierarquias, mesmo as mais baixas, a que fazia questão de estar presente e sobretudo tinha o hábito de recrutar para postos chave da empresa pessoas com culturas muito diversas ou que já tinham provado, em empresas concorrentes, estar nos antípodas da sua prática empresarial.
Dados os êxitos da sua empresa, calcorreava o mundo como convidado para muitas conferências e simpósios nos mais variados sítios.
Um dia, no período de perguntas de uma conferência para que fora convidado na Universidade de Harvard, a fim de explicar o sucesso da sua empresa, um dos participantes levantou-se e questionou-o desta maneira: Sr. Presidente, gostava que me respondesse a duas questões. A primeira é a seguinte: é conhecido o seu gosto por uma gestão muito participada, mas que leva a perdas grandes de tempo. Ora sendo o senhor praticamente o detentor exclusivo do capital das suas empresas, por que é que as principais decisões não são tomadas imediatamente por si? E a segunda: também é sabido que o senhor frequentemente recruta colaboradores que já evidenciaram uma cultura e uma prática empresariais completamente diferentes da sua. Não traz essa sua opção atritos e dificuldades de decisão para dentro da empresa?
O Presidente respondeu de forma simples, como simples era a sua maneira de ser.
Quanto à primeira questão, respondeu o Presidente, gostava de lhe dizer que sou o detentor exclusivo do capital, mas não sou o detentor exclusivo do bom-senso. Por isso, procuro ouvir o maior número de pessoas. Não me arrependo, já que a sua contribuição tem sido relevante para a tomada das medidas certas que fizeram o que esta empresa é.
Quanto à segunda questão, gostava de lhe dizer que sempre considerei estarem a mais nas minhas empresas os colaboradores que pensam exactamente como eu. Se pensam como eu, não são precisos, bastaria eu!…
Se não tivesse podido adquirir mais três minutos no mercado de tempos, teria ficado por aqui, com uma frase do género:
Caros Companheiros: todos sabemos que um Partido político não é uma empresa, mas estes dois bons princípios de gestão a que aludi gostava de os ver concretizados no nosso Partido. Aliás, o Presidente do Partido tem falado de renovação e, no ponto 7 da sua moção, refere mesmo, a bold, para melhor se ver, que “o partido tem de se abrir mais à participação activa dos seus militantes”. É tempo assim de passar da retórica, em que todos convêm, para a prática, em que muitos discordam. E por aqui me fico, que o meu tempo chegou ao fim. Muito obrigado pela vossa atenção.
Mas, com mais três minutos adquiridos no mercado de tempos, a conclusão será mais desenvolvida no capítulo seguinte.
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarGostei da sua história e da doutrina que ela encerra, mas receio que a tenha lançado em terreno infértil, pela conhecida prática das cliques dirigentes partidárias, de todas elas, das passadas, das presentes e temo que das futuras. Ainda assim, acho bem que tenha insistido. Pode ser que se o seu exemplo frutificar, se muitos mais insistirem, um dia vejamos o PSD a agir em conformidade com a doutrina referida e, se não for exigir demasiado, que se lembre da razão do seu nome, da sua designação, porque se todos os seus dirigentes se tornarem liberais, os social-democratas ficarão irremediavelmente sem Partido, agora ainda com mais crueza, porque o PS de Sócrates parece que pretende entrar também no liberal clube... Boa sorte, para a sua doutrina, e para si também, claro !
Aplaudo. Bom discurso :)
ResponderEliminarSabe, podia ter feito uma proposta interessante na área das TIC. Podia ter proposta para que o próximo congresso fosse emitido por video conferência através da internet, permitindo a participação de várias pessoas.
já ganhou o meu voto!clap,clap,clap!
ResponderEliminarAcho que este seu périplo por terras do Congresso do PSD bate, com muitos pontos de avanço, os meus relatos dos EUA! Estão excelentes, muitos parabéns... e já agora obrigado também pelos elogios que, volta e meia, me vai fazendo... quanto ao seu discurso, já sabe o que penso: foi uma verdadeira e enorme pena que o não tivesse podido proferir! Acho que teria sido excelente! Uma real mais-valia... que, ainda assim, espero que possa ser ouvida em Congressos posteriores!
ResponderEliminarJá agora, só uma nota final: não sei se repararam, mas o comentário anterior foi meu, e ficou incompleto porque carreguei na tecla errada e ele foi publicado! No entanto, não me foi permitido apagá-lo e publicar somente este (que é o correcto e... completo)!
Caro José Mário, não há solução para isto?!...
Um abraço e muito obrigado
Já está Miguel.
ResponderEliminarAproveito o ensejo para me associar a todos os que têm aqui elogiado estas crónicas do Pinho Cardão.
Entre muitas coisas positivas que delas se podiam dizer, penso que a atitude que revelam é digna de registo. A política, partidária ou não, como no essencial a vida, devem ser encaradas desta forma, que só é ligeira para quem não está atento.
Belas crónicas,sem dúvida,com um sentido crítico e um humor que tornam a leitura emocionante. E, já agora, o Miguel já devolveu a moeda????
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