Árvores do Alentejo
Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a benção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Boa ideia, esta, de evocar a malograda Florbela, uma sensibilidade torturada pela rudeza do tempo em que viveu, uma voz dramática, desesperada, arrancando gritos lancinantes lá daquele Alentejo profundo, já então desesperado. Com este calor de braseiro, todo o País se vai assemelhando a um Alentejo, saturado de falsa esperança, de demagogia desatada, sedento de, num futuro que se alonga por contínuo, encontrar a sua avara fonte de água fresca. Só aos Poetas de eleição se louva o desespero que exprimem por si e pelos outros, porque, afinal, ser Poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens...
ResponderEliminarNão menos belos os vossos poemas, caros amigos.
ResponderEliminar