Há precisamente 10 anos, em Julho de 1996, o então 1º Ministro pronunciava um importante discurso na Assembleia da República, no qual apontou “... como um verdadeiro projecto nacional a nossa integração no núcleo de países fundadores da moeda única, o Euro”.
E acrescentava, “...Há boas razões económicas para tal. Tudo indica que quem ficar fora desse espaço terá de vir a respeitar regras idênticas ou muito semelhantes às nele praticadas. Mas perderá os enormes benefícios que decorrerão da substancial redução do custo do crédito e de credibilidade da nova moeda.”
A seguir, dizia “...Só ao nível das contas públicas a nossa adesão representará uma poupança anual superior a 200 milhões de contos. O mesmo se passará para as empresas, com vantagens evidentes para o investimento e o emprego.”
Mais adiante e em tom de desafio afirmava, “... Alguns perguntarão: conseguirá Portugal entrar? Serão as medidas para tal necessárias à economia portuguesa? Será suportável o eventual custo social? Creio estar em condições de responder afirmativamente a essas três questões. É possível alcançar estes objectivos, fazê-lo com medidas úteis à economia portuguesa e evitar em Portugal situações de ruptura social que, infelizmente, se estão a verificar em muitos países bem mais ricos que o nosso.”
E rematava com uma tirada que iria fazer escola, “Porque o rigor económico é um bem em si. Mau é o rigor económico cego, sem consciência social. Ora a política deste Governo é uma política de rigor económico com consciência social.”
Sabemos bem, infelizmente, no que deu este “rigor económico” assorti de uma consciência social: os 200 milhões de contos/ano de poupanças desapareceram “sem deixar rasto”, mais do que compensados por um extraordinário esbanjamento em despesas públicas, inúteis em boa parte.
Foi o tempo de atirar dinheiro para cima dos problemas, de qualquer maneira, na expressão feliz de um comentador da época.
Sacrificou-se uma oportunidade única de aproveitar as vantagens da adesão à nova zona monetária – ao contrário do que esse discurso prometera.
E forçando a economia, muito por causa desse esbanjamento, a um longo período de estagnação, que já leva 5 anos e não se sabe bem quando poderá terminar.
E o que aconteceu ao investimento e ao emprego?
Passaram 10 anos, parece que foi ontem.
Por cruel ironia, alguns dos que tiveram a lucidez de apontar o dedo para os erros que se estavam a cometer, acabariam perseguidos e atingidos por medidas sancionatórias sem qualquer fundamento, totalmente arbitrárias, num exercício maquiavélico de vingança política e de abuso do poder que em breve será conhecido.
Parte importante deste discurso foi transcrita na revista Info Euro, edição de Janeiro de 1999 (Nº 11), uma publicação do Ministério das Finanças que visava fazer a divulgação do Euro, sob a epígrafe “Uma vitória de todos os Portugueses”.
Não me recordo de uma vitória tão cara e tão amarga...
Oh caro Tavares Moreira, eu pensava que era preciso que Portugal ganhasse o Mundial para passar para este lado...;)
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