Raras são as oportunidades de o ouvir. Mas hoje assisti à prédica semanal de António Vitorino na RTP. Vale a pena escutá-lo. Não só pela inteligência com que analisa, mas também porque ora nas palavras ora no que deixa subentendido, revela muito do que se passa e do que se pensa no núcleo que rege a família que hoje domina largamente a vida política nacional.
Especialmente oportuna foi a pergunta de Judite de Sousa sobre se o já próximo congresso socialista será o conclave do debate ideológico. A pertinência da questão não resulta somente da natureza das medidas tomadas ou anunciadas pelo governo de José Sócrates (nas quais poucos identificam sequer réstia de socialismo), mas também nalgumas movimentações de sectores à esquerda do PS. A resposta andou por ali, às voltas, apontando para a originalidade do PS português; para a história da fundação do PS que Vitorino explicou ser o único que não resultou da cisão ou da ruína de partidos comunistas na Europa da democracia, portanto menos ortodoxo, mais ductil nas ideologias; ou de que foi Guterres e não Blair - que chegou mais tarde ao poder - quem refundou e modernizou o socialismo democrático abandonando certos ortodoxismos da esquerda. E não deixou de fazer referência (que eu logo adivinhei...) ao inesperado fenómeno que ameaça ser na esquerda francesa a senhora Ségolène Royal, de quem diz correr por fora do PS francês sendo sua militante, falando directamente para os franceses e ignorando as críticas internas de fuga à matriz ideológica. Não passou despercebida a subtil comparação com Sócrates.
Tudo para concluir que o socialismo moderno é o "socialismo do pragmatismo". Tal como Ségolène Royal o diz.
Portanto, por muito que se esforce a esquerda histórica do PS em agitar as velhas bandeiras, o mote e a justificação estão dados na forma como António Vitorino, em linguagem apropriada ao momento, fechou a conversa: "em equipa que ganha não se mexe". Ou seja, o que importa é marcar golos sem curar de seguir princípios de jogo.
É a verdade dos tempos que correm em que os ideais cedem lugar à absoluta necessidade de ganhar. Ainda que muitas vezes se não repare que se ganha também por ocupar todo o terreno de jogo, ou mesmo por falta de comparência do adversário...
Tudo para concluir que o socialismo moderno é o "socialismo do pragmatismo". Tal como Ségolène Royal o diz.
Portanto, por muito que se esforce a esquerda histórica do PS em agitar as velhas bandeiras, o mote e a justificação estão dados na forma como António Vitorino, em linguagem apropriada ao momento, fechou a conversa: "em equipa que ganha não se mexe". Ou seja, o que importa é marcar golos sem curar de seguir princípios de jogo.
É a verdade dos tempos que correm em que os ideais cedem lugar à absoluta necessidade de ganhar. Ainda que muitas vezes se não repare que se ganha também por ocupar todo o terreno de jogo, ou mesmo por falta de comparência do adversário...
Meu caro Pinho Cardão:
ResponderEliminarAinda que não acredite que este congresso se venha a transformar num momento de confronto ideológico, não excluo a hipótese de alguns fazerem essa tentativa. Os "valores" do socialismo mais radical ou menos liberal estiveram presentes na campanha de Manuel Alegre com resultados surpreendentes. Se somarmos a isso algum descontentamento em militantes e simpatizantes do PS afectados por medidas do Governo é natural que se faça sentir alguma pressão para que pelo menos o Partido regresse à lógica programática do socialismo dos anos 70. É esse o significado, estou de acordo consigo, das declarações públicas de alguns dirigentes no sentido de separar o governo do partido atribuindo áquele e a Sócrates (que no PS muita gente não considera socialista bactereologicamente puro) os ónus das malfeitorias liberais da governação e ao partido o papel de repositório dos velhos ideiais socialistas.
Mas no momento da verdade prevalecerá outra lógica, aquela de que Vitorino foi ontem o núncio: o que importa é conservar o poder, pragmaticamente. A ideologia, essa, pouco importa.
O resultado será de aplaudir se tudo isto se saldar por o governo tomar as medidas que deve tomar para resolver os decantados problemas estruturais que, com se vê, já não comprometem só o futuro, são os cancros do País no tempo presente.