sábado, 26 de agosto de 2006

“Prolongamento da juventude”…

Os mais velhos recordam-se das figuras severas e imponentes que moldaram a juventude. Avós, professores, guardas, comerciantes, juízes, funcionários, só para citarmos alguns, revelavam características que nós respeitávamos. Ai de quem tivesse o atrevimento de uma atitude ou palavra menos conveniente. Éramos repreendidos e se tivéssemos um buraco era certo que nos enfiávamos nele acto contínuo.
Hoje em dia, nas sociedades modernas, verificamos mudanças acentuadas das características dos “adultos” em que se destaca uma “juventude” permanente. Este fenómeno começou a ser observado nas áreas científicas em que matemáticos, físicos e biólogos, nos meados do século XX, mantinham um ar e comportamento próprio de jovens originando o aparecimento de “rapazes-génios”. O ar desalinhado, a forma informal de estar, a capacidade de dar respostas imediatas, começavam a dar nas vistas. Rapidamente este fenómeno atingiu, também, as outras classes. De repente, os estudiosos confrontaram-se com a possibilidade de neotenia psicológica.
A neotenia psicológica, ao prolongar a juventude, permite obter vantagens na ciência e nas diferentes áreas da vida moderna, cuja cultura favorece a flexibilidade cognitiva.
A vida moderna aboliu ou desvalorizou as cerimónias de iniciação e os rituais de transição tão característicos das sociedades tradicionais, tribais e agrícolas e que contribuíam para a “adultização”.
Hoje, a educação decorre num período muito mais alargado, a entrada de trabalho faz-se mais tarde, as mudanças de emprego são muito comuns, assim como a mudança de lugar e de cultura. Se não fosse a tal flexibilidade “fornecida” pela neotenia psicológica dificilmente poderiam adaptar-se às novas realidades. Estes factos revelam que nas sociedades modernas muitas pessoas nunca se tornam adultas. Podemos afirmar: ainda bem! No entanto, não podemos esquecer que, além das virtudes, inerentes à permanente juventude, existem aspectos menos positivos e dos quais se destacam: dar menos atenção aos problemas, procurar sensações e novidades constantemente, adoptar modas de curta duração, apresentar instabilidade emocional e espiritual, além de um défice de carácter, provavelmente devido a imaturidade. Todos estes aspectos acabam por ter repercussões na sociedade, como é fácil de concluir.
A neotenia é um mecanismo de adaptação bastante eficaz com expressão a nível biológico, conhecendo-se vários exemplos.
Perante esta situação, neotenia psicológica, nova, em termos evolutivos, é de esperar mudanças substanciais nas nossas sociedades, deixando o nicho da antiga sabedoria, representada pelas pessoas mais idosas, praticamente vazio. Será preenchido? É necessário? É importante?



3 comentários:

  1. Seria a pratica de "adultização" marcada para o primeiro dia de trabalho no primeiro emprego "emocionalmente consistente"?

    Existirá relação real entre a partilha de conhecimentos inter-geracional e a neotenia?

    Por outras palavras: Os novos modelos de gestão conduzem-nos para um modelo de gestão emocional. Não será mais proveitoso compreender e aceitar os estadios de crescimento nos novos trabalhadores e explorar-lhes a criatividade, exigindo aos séniores a validação dessas ideias?

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  2. É uma questão de educação que afecta a biologia do indivíduo ou é o contrário?

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  3. Creio que a actual pressão educacional sobre a biologia do individuo que condiciona(va) o seu desempenho, isto é, o seu instinto criativo/contestavivo.

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