A edição de hoje do D.N. revela os resultados de uma sondagem que indica uma forte quebra das expectativas dos portugueses em relação à situação económica em geral e em relação à sua situação económica em particular.
Esta terá sido uma das maiores quedas no nível das expectativas, registadas desde 2002.
Segundo os analistas de serviço, esta quebra é devida ao anúncio das medidas de contenção previstas no Orçamento do Estado para 2007.
Não me parece, com a devida vénia, que esta explicação seja a mais adequada, até porque a proposta de Orçamento é o reflexo de uma realidade de que não podemos fugir.
Recordo-me de há alguns meses ter referido, neste mesmo blog, a questão da sustentabilidade das mensagens transmitidas pelo “marketing oficial”.
Comentei então que o marketing oficial se esforçava, com notável regularidade e intensidade, por transmitir a mensagem de um país a caminho de uma irrecusável prosperidade, vendendo um optimismo transbordante a propósito do desempenho da economia e do clima de investimento em particular.
Em função dessa repetida mensagem é muito natural que os portugueses, de uma forma geral e sobretudo a grande “massa” que não consegue ler de forma crítica as mensagens do tal marketing (não é o caso, felizmente, dos Comentadores do 4R pelo que tenho verificado), com maior ou menor consciência tenham criado uma expectativa de prosperidade.
É pois muito natural também que, defrontados subitamente com um cenário real que é totalmente oposto àquele que durante meses a fio lhes foi prometido, a generalidade dos nossos concidadãos tenha aquela sensação de “murro no estômago” que é própria de quem se acha enganado em coisa séria.
É claro que estes nossos concidadãos não deveriam estar optimistas, deviam perceber que por detrás de todo este esforço do marketing oficial existe uma realidade bem diversa, bem menos “rosy” e que o problema não terá solução fácil a curto prazo (vai levar anos, se formos capazes de o resolver).
Mas, em boa verdade, não se pode acusar essas pessoas de cedência fácil à campanha de venda de optimismo, tão intensa e prolongada esta tem sido.
Julgo que o erro está mesmo na campanha e no seu excessivo doseamento em particular.
Como disse há meses, este tipo de campanhas de condicionamento da opinião pública, que promete continuamente o melhor dos mundos e subitamente faz o “delivery” não direi do pior mas certamente de um mundo muito pior, tem altos riscos.
E o grande risco na minha perspectiva é o das pessoas, sentindo-se repetidamente enganadas, acabarem por cair num pessimismo militante que resistirá às boas notícias mesmo quando estas tenham finalmente um bom fundamento.
Acho por isso, na linha a opinião que aqui exprimi há meses, que o Governo deveria rever – agora urgentemente – a estratégia de marketing que tem seguido, sob pena de vermos uma vez mais repetida a história do “feitiço que se volta contra o feiticeiro”.
A ver vamos.
Dr Tavares Moreira
ResponderEliminarNão interpreto a descida como sendo uma diminuição das expectativas dos portugueses, porque estes há muito que esperavam por medidas disciplinadoras. Senão é incompreensível o apoio que o actual PM conseguiu em meios mais consevadores e de meia idade.
Considero que o eleitorado se acha enganado o que, não modificando o resultado ( que como percebe, não o ponho em causa), é mais preocupante.
A experiênica pretérita tem demonstrado que os eleitorados europeus não gostam do engano. O exemplo próximo da Hungria é um deles.
Nesse sentido, este governo esgotou a sua credibilidade junto do eleitorado. Tal não significa que o mesmo não apoie as medidas pretéritas e as futuras que se venham a tomar, apenas que não aceitará mais distorções das promessas eleitorais.
Consequência desse facto pode ser o adiar da reforma da AP, porque como muito bem sabe, só com despedimentos e reformas do modo de gestão se consegue reais poupanças.
Pode ser o "marinar" da reforma da SS e das pensões.
Como pode ser o acirrar dos animos contra algumas categorias profissionais mais visiveis (até em alguns casos necessárias, como os juízes);
Uma certeza porêm pode ter: o sistema democrático que não tenha válvulas de escape adequadas, como é o nosso, (ou da Hungria, França) resulta sempre em agitação e em alterações da ordem pública.
Cumprimentos
Adriano Volframista
Caro Volframista,
ResponderEliminarComo terá reparado, a questão que suscitei foi a da inconsistência intertemporal (como agora se diz) da gestão das expectativas.
Não se pode, como entendo, prometer intensamente prosperidade e depois oferecer escassez e corte nos direitos sociais, aumentos da carga fiscal, etc.
Eu julgo que as pessoas até terão a noção de que algumas medidas de contenção serão necessárias.
Mas, em primeiro lugar e como sabemos, esperam sempre que essas medidas atinjam "os outros" e não elas próprias.
Em segundo lugar, o intenso marketing oficial dá muito mais força à esperança de que tais medidas não as atinjam mesmo.
Quando constatam que assim não é...
As expectativas afundam.