Depois de ter anunciado decisão claramente desfavorável em relação a Itália, como referi no post de 20 do corrente, a FITCH mostra-se mais positiva em relação a Portugal.
Noticia a imprensa de hoje que esta agência de rating não vê por enquanto razão para alterar a notação atribuída à dívida pública portuguesa, que continua a ser AA, embora com “tendência negativa”.
A agência esclarece ainda que “ para que passe a atribuir uma tendência estável, em vez da negativa que actualmente vigora, é necessário que o Governo vá além do que está programado”.
Fica-se assim a saber que a posição da FITCH é de esperar para ver, o que confere um carácter decisivo ao cumprimento das metas orçamentais para 2007.
Especial importância parece ainda ser atribuída pela agência à anunciada reforma da Administração Pública, de forma a reduzir o peso desta na economia.
A este respeito diz o porta-voz da FITCH “estou convencido de que este Governo vai acabar por considerá-la indispensável para cumprir os seus objectivos”.
Esta reforma, como se sabe, tem vindo a ser adiada, o Governo anuncia que a partir de 2007 sofrerá um impulso decisivo.
O Governo tem agora pela frente dois anos muito importantes, 2007 e 2008, para atingir o objectivo intermédio de baixar o défice público para 3% do PIB.
Trata-se de um enorme desafio, de uma “corrida contra o tempo” como bem disse o nosso comentador Jardim das Margaridas.
Ainda por cima uma corrida fiscalizada por agências de rating que estão de sobreaviso e que já mostraram, como sucedeu com a Itália, que não aceitam derrapagens ou meias medidas.
Há aqui um problema de “timing” político complexo.
Em 2008 o Governo estará a um ano do próximo acto eleitoral. A tentação para “ abrir os cordões à bolsa” em tais circunstâncias vai ser muito grande, as pressões tremendas.
Nessa altura, o Ministro das Finanças vai ser posto à prova de forma especialmente dramática.
Esperamos que saiba resistir, persistir, não quebrando nem torcendo.
Aproveito para anunciar que na próxima 6ª Feira, 27 do corrente, o Dr. Medina Carreira fará uma palestra sobre a situação das finanças públicas portuguesas, no Auditório Municipal da Póvoa de Varzim, organização da iniciativa dos Jovens Rotários e Lyons locais.
Sou dos que pensam, creio que contra a opinião dominante, que o Dr. Medina Carreira, com a sua frontalidade e independência de análise, é objectivamente um dos maiores aliados do Ministro das Finanças.
Espero ter a possibilidade de assistir a esse evento que sei estar a suscitar um enorme interesse localmente e não só.
Tem a Margarida inteira razão.
ResponderEliminarÉ importante introduzir racionalidade na organização administrativa. Essa é uma reforma inquestionalvente importante e não serei eu que criticarei o governo por empreender as alterações necessárias na estrutura da administração central e indirecta do Estado. Mas como bem comenta a Margarida, a reforma, a verdadeira, aquela de que necessitamos, será a que venha a promover a recondução do Estado às funções que por natureza devem ser públicas; deixando à sociedade civil, às empresas e à família o que deve ser inscrito nas esferas da vontade e da liberdade, das quais depende o desenvolvimento.
Claro que não advogo o regresso ao Estado mínimo de mera polícia das liberdades. Mas é imperioso repensar o Estado Social consumista e asfixiante sob pena da sua inexorável implosão.
Enquanto não existir um pensamento claro quanto a isto são inevitáveis os sinais contraditórios, vindos de políticas contraditórias, que são o produto de partidos contraditórios e de governos que governam contraditoriamente ao parecer afirmar a falência deste modelo social ao mesmo tempo que o defendem à custa da actual brutalidade fiscal lançada sobre o cidadãos.
É impossível que essa reforma dure dois anos e muito menos que seja bem feita da mesma forma que o problema surgiu, por via administrativa.
ResponderEliminarA subida do spread implícito devido ao downgrade do rating é uma consequência lógica da forma como funciona o estado português, ao contrário, por exemplo, dos aumentos da taxa de referência do BCE que em nada contribuem para a nossa economia e têm amplitudes 2 vezes maiores. Por isso, se tivermos que levar mais tempo para que a reforma se faça de forma natural, "económica", não vem drama ao mundo. Os bancos portugueses vão ter spreads maiores, porque os ratings vêm arrastados com os da dívida pública? Temos pena, vamos aos outros.
Agora que, de forma natural, a reforma económica está em curso há mais de dois anos, está.
A reforma administrativa é muito simples, basta que todo o edifício legistivo português seja demolido e reconstruído de acordo com aquela parvoíce que alguém resolveu chamar "Direitos, Liberdades e Garantias". Não era preciso vir a FITCH, que nem sequer é grande referência, vir-nos dizer isso.
Caros Comentadores,
ResponderEliminarMuito interessantes os vossos contributos para a discussão de um tema que vai por certo "marcar a agenda política", como está em moda dizer, nos próximos 3 anos seguramente.
Particularmente surpreendente a ingenuidade (?) de Tonibler, ao afirmar " A reforma administrativa é muito simples, basta que todo oedifício legislativo português seja demolido e reconstruído de acordo com aquela parvoíce...".
Como é possível uma afirmação destas (que não seja por graça)?
Gostava de ver Tonibler à frente de um serviço público com 50 ou 60 funcionários, tendo como missão reduzir os efectivos em 20% e atribuir notações de mérito profissional relevantes para o nível retributivo e para a progressão na carreira.
Ou me engano muito ou desaparecia do 4R num ápice e provavelmente não mais conseguiria dormir...
Tenho para mim que a reforma da administração pública é uma tarefa gigantesca e dificílima.
Concordo que deveria ser precedida de um debate profundo - mas não excessivamente longo - sobre a dimensão e especificação das funções do Estado (em sentido amplo).
Quanto à referência ou relevância da FITCH, caro Tonibler, é apenas uma das três mais importantes agências de rating a nível mundial.
A FITCH não disse, aliás, que a reforma administrativa era muito simples, a FITCH tem a noção das realidades.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarArranje-me outra missão qualquer, tipo assassinar alguém...:)
Estava a ser irónico, mas a tarefa é só essa, demolir quase tudo o que está em pé e "linkar" a administração do estado às necessidades do país. Se pensarmos bem, avaliação de funcionários públicos não faz parte dos objectivos do estado perante os cidadãos. Pode ser uma medida de gestão correctíssima, mas há outras alternativas. Logo, cada desgraçado que tiver que estar perante esses 50 ou 60 FP's que se amanhe, parece-me mais razoável. Os meios e a liberdade para o fazer? Acabamos com 80% da constituição, deixamos só os direitos, liberdades e garantias.
Aquilo que é bem representativo da importância da demolição, é que não me apresentou como difícil a tarefa que o grupo de 50 ou 60 FP's deveria efectuar, mas geri-los a eles e aos salários deles...Não estamos a pensar numa reforma da administração do estado a partir desta base, certo? A lá reforma da SS, pois não?
Logo a reforma da administração do estado parece-me simples, é "só" riscar. Que seja rápido já é outra coisa...
Claro que pode-se sempre fazer a modernização do estado como aquele ministro do PS que conseguiu acabar com a folha azul de 35 linhas.
PS: Fitch é 3ª, mas só se recorre a ela se a Moody's ou a S&P não se pronunciarem.
Caro Tonibler,
ResponderEliminarO meu Ilustre Comentador está mesmo em maré de ironia!
A vida corre-lhe bem, com certeza, e se assim é só tenho de me congratular com essa evolução.
Agora essa de riscar "só" 80% da Constituição ainda é melhor que a anterior.
Os seus amigos do PS entrariam em coma profundo, só de ouvirem isso ( e alguns no PSD também, embora talvez menos profundo).
Os nossos amigos do PCP e do BlocoEsq imolar-se-iam pelo fogo.
Dirá o Senhor, que se danem...
Mas não se esqueça que só eles podem apagar essa pequena parcela da Constituição.
A não ser que pretenda sugerir outros métodos,bem menos europeus, de resolver o problema...
eu disse que era simples, não disse que era rápido. E não espalhe essa dos PCPs e BEs se imolarem pelo fogo senão ainda fazem de mim primeiro-ministro...
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