quinta-feira, 26 de outubro de 2006

"Português desconhecido"...

Funeral do Soldade Desconhecido (1927). Quadro de Sousa Lopes (1897-1944.

A necessidade em cativar "clientes" através de novos programas televisivos é uma constante. Faz parte da dinâmica concorrencial. Nada de novo, excepto a originalidade dos mesmos, se bem que seja, a par de outras iniciativas, "novidades" meramente importadas.
A eleição do "maior" português, de todos os tempos, está a despertar muitas atenções e debates, tal como o que ocorreu ontem. Embora só tenha visto a parte final, achei curioso as diferentes posições e opiniões acerca do assunto, bom pretexto para discutir algumas individualidades, sobretudo as "proibidas". Espero que não transformem um espectáculo de mero entretenimento em eventual aproveitamento político. Mas se ocorrer então que se faça simultaneamente com profundidade e elevação.
Confrontado com a personalidade que escolheria como representante do nosso país pensei, pensei e acabei por encontrar. Mas tive que recuar muitos anos.
Quando era criança, recordo-me ter ido pela primeira vez ao Mosteiro da Batalha. Curioso, enfiei-me numa sala onde se encontravam dois soldados ao redor de uma chama. Inesperadamente, os dois soldados que estavam em posição de descanso apresentaram armas. Fiquei de boca aberta! O que é que se estava a passar? Por que razão estavam ali dois soldados armados ao redor daquela chama e de uma lápide? Rapidamente exigi aos mais velhos informações. Explicaram-me que se tratava do túmulo ao Soldado Desconhecido. Forma muito honrosa de homenagear os heróis que tombam nos campos de batalha. Posteriormente fiquei a saber toda a história, e como se iniciou esta forma de respeito.
Anos mais tarde, familiares pouco mais velhos do que eu, e com os quais brinquei e convivi, acabaram por ser vítimas da guerra, transformando-se em soldados “desconhecidos”. Ainda hoje não consigo travar as lágrimas sempre que me confronto com um memorial do género.
A imagem de dois soldados a apresentarem armas a uma criança que irrompeu por uma sala onde estava o túmulo de um soldado (ou melhor dois, mortos em combate, em África e na Flandres) nunca me abandonou, constituindo uma marca na minha formação, dando um significado muito especial ao conceito de respeito e admiração.
O maior português de sempre foi, é, e será sempre um desconhecido e nunca um “conhecido” por mais obras e façanhas que tenha praticado…

3 comentários:

  1. Anónimo09:42

    Um texto marcante neste blog.

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  2. Caro Prof. Massano Cardoso

    Espero que a sua expectativa seja confirmada. Seria muito bom sinal

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