Quando se arrumam velhos papeis, encontram-se coisas em que já se deixou há muito de pensar.
Para mim, a medida do aborrecimento e da inutilidade de uma reunião em que esteja presente é aferida pela maior ou menor vontade que me dá de fazer uns espontâneos versos alusivos. Fica bem, pois até dá ideia de que estou atento e tiro apontamentos. Assim, se a reunião se torna verdadeiramente “chata” e os parceiros do lado são gente de bem, puxo da pena e aí vai!...No fim, rasgo tudo e normalmente nada fica para memória futura!...
Confesso que durante o meu primeiro, último e único mandato como Deputado independente do PSD até ser “dissolvido” pelo Dr. Jorge Sampaio, algumas vezes estive naquela angustiante, mas, por outro lado, criativa situação.
As sessões solenes no Parlamento são normalmente uma solene sensaboria. E as comemorativas do 25 de Abril não escapam.
Ora numa das minhas operações de limpeza de papéis, encontrei as quadras que deixo abaixo e que lamentavelmente não destruí na devida altura. Foram feitas na Sessão Comemorativa do 25 de Abril de 2004, depois de ter ouvido os discursos dos Verdes e do Bloco e enquanto discursava o PCP. Já que foram das poucas que sobreviveram, aqui ficam, pedindo desde já desculpa pelo abuso!...
Tanto cravo, tanto crente
Tanta treta de discurso...
Tanta asneira, tanta gente
A fazer figura d `urso!...
Tanta conversa fiada
Tanto, tanto desatino...
Põem um sujeito cheio
E a bramar contr`o destino!...
E falta ainda o Sampaio
Redondo, nada subtil...
Venha, venha o mês de Maio
Já não posso com Abril!...
Para mim, a medida do aborrecimento e da inutilidade de uma reunião em que esteja presente é aferida pela maior ou menor vontade que me dá de fazer uns espontâneos versos alusivos. Fica bem, pois até dá ideia de que estou atento e tiro apontamentos. Assim, se a reunião se torna verdadeiramente “chata” e os parceiros do lado são gente de bem, puxo da pena e aí vai!...No fim, rasgo tudo e normalmente nada fica para memória futura!...
Confesso que durante o meu primeiro, último e único mandato como Deputado independente do PSD até ser “dissolvido” pelo Dr. Jorge Sampaio, algumas vezes estive naquela angustiante, mas, por outro lado, criativa situação.
As sessões solenes no Parlamento são normalmente uma solene sensaboria. E as comemorativas do 25 de Abril não escapam.
Ora numa das minhas operações de limpeza de papéis, encontrei as quadras que deixo abaixo e que lamentavelmente não destruí na devida altura. Foram feitas na Sessão Comemorativa do 25 de Abril de 2004, depois de ter ouvido os discursos dos Verdes e do Bloco e enquanto discursava o PCP. Já que foram das poucas que sobreviveram, aqui ficam, pedindo desde já desculpa pelo abuso!...
Tanto cravo, tanto crente
Tanta treta de discurso...
Tanta asneira, tanta gente
A fazer figura d `urso!...
Tanta conversa fiada
Tanto, tanto desatino...
Põem um sujeito cheio
E a bramar contr`o destino!...
E falta ainda o Sampaio
Redondo, nada subtil...
Venha, venha o mês de Maio
Já não posso com Abril!...
Muito interessante! Foi pena ter deitado fora os outros poemas. Atendendo ao número de sessões sensaboronas hoje teríamos uma importante colectânea.
ResponderEliminarCuriosamente, também comecei a escrevinhar as minhas crónicas numa tarde cinzenta e meio depressiva para aguentar uma sessão plenária. A primeira foi sobre o “Parodoxo Branco” e foi o meu amigo Pinho Cardão o primeiro a lê-la. Recorda-se?
Então aqui vai:
“Paradoxo Branco”…
A medicina "sabe", desde há muitos anos, que o álcool desempenha um papel protector em termos cardiovasculares. Ainda hoje continuamos a discutir os eventuais mecanismos da dita protecção. É do conhecimento dos epidemiologistas que os que não bebem álcool e os que bebem em demasia sofrem mais deste tipo de doenças. Afinal, o papel "positivo" traduz-se num consumo muito moderado, quase que diríamos em doses terapêuticas.
Quando se iniciou este debate (já lá vão muitos anos), o consumo de vinho em Portugal era elevado. Entretanto, fruto de vários condicionalismos, começou a sofrer uma redução, sendo substituído por outros tipos de bebidas. No cômputo geral não se observou a redução do consumo de álcool, tão desejada em termos de saúde pública. Mas, subitamente, a popularização de alguns conceitos começou a dar forma, nomeadamente ao papel protector cardiovascular do vinho. Cientistas, médicos, confrarias e produtores de vinho, iniciaram a divulgação de um facto, no qual se destaca o famoso "paradoxo francês" (os franceses apresentam baixas taxas de mortalidade por doenças cardíacas, apesar de comerem muito queijo e serem grandes fumadores, mas… bebem grandes quantidades de vinho tinto) …
Num país caracterizado por consumo exagerado de bebidas alcoólicas e, consequentemente, por elevada morbilidade e mortalidade, não deixa de ser arrepiante ouvir certos discursos e mensagens, ainda que encapotados por hipotéticos apelos ao consumo moderado. O que acontece, e quem tem experiência clínica sabe muito bem, é o doente sentir-se legitimado em continuar a beber, sobretudo vinho, mas só tinto!!! Delicioso. A mensagem está a passar, de acordo com estratégias bem elaboradas por parte dos interessados.
Mas, por quê o vinho tinto? De facto, o vinho tinto apresenta, entre centenas e centenas de substâncias, algumas, como os polifenóis, os quais têm uma acção antioxidante, permitindo "eventualmente" justificar o efeito protector cardiovascular. Mas não é tão linear, como querem transmitir os seus defensores…
Aquela conversa, de alguns doentes justificarem o seu "copito" de um bom "tinto", com base na informação do seu médico, pode agora ser extensível também ao vinho branco! É verdade. Quem diria? A selecção de uvas ricas em polifenóis e a alteração do processo de fabrico permitiu a Pierre-Louis Teissedre, da Universidade de Montpellier, produzir um Chardonnay quatro vezes mais rico em polifenóis. Baptizou este vinho branco de "Paradoxo Branco" (em homenagem ao paradoxo francês), o qual tem também uma aplicação terapêutica específica, ou seja, a "utilização por diabéticos do tipo 1, já que estes têm mais dificuldades em remover os radicais livres". Pierre-Louis Teissedre sugere um copo ou dois por dia, do "Paradoxo Branco", aos diabéticos! É de esperar que um dia destes, um diabético chegue ao médico afirmando que já está a tomar o seu copito de vinho branco, tipo "Paradoxo Branco"...
Quem sabe se num futuro próximo, médicos, cientistas, confrarias e produtores de vinho, não irão aconselhar além de um copito de tinto, também um copito de branco, mas só branco, tipo Paradoxo Branco"! Mais um paradoxo a juntar a tantos outros…