segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Será?

Será que um espectáculo é tanto mais cultural quanto menos espectadores atrai?
Será que um espectáculo quanto menos espectadores atrai mais é subsidiado?
Será que um espectáculo quanto mais subsidiado é menos espectadores precisa de atrair?
Será que o absoluto cultural se atinge quando um grupo representa apenas para si próprio?

6 comentários:

  1. Meu Caro Pinho Cardão,

    Permita-me um ensaio de resposta a tão magnas questões. Tal só se verifica,i.e., a confirmação das suas suspeitas, quando estamos em presença de verdadeiros artistas e espectáculos de suma vanguarda.

    Nesse caso, será até uma espécie de favor, uma caridade que tais agentes culturais nos hão-de fazer em nos admitir, na qualidade de humílimos espectadores, à sua augusta representação.

    Sem ironia, agora, diria que ainda há por aí alguns renitentes partidários desta histórica ideologia.

    Um abraço e mais uma semana de inspiradas produções, aqui, por esta estimável República, a 4ª, de sua própria designação.

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  2. Caro Pinho Cardão,
    Retomando os conceitos da matemática aprendida nos verdes anos, direi que a qualidade suprema do espectáculo teatral, na tese que vigora nos meios culturais, se atinge quando a relação entre o montante dos subsídios e o nº de espectadores tende para infinito...

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  3. Caro PCardão:
    Já agora uma formulação "física" da coisa e ao mesmo tempo uma formulação concreta, como desejou JMPais, da genialidade dos "artistas/autores". Para quem não conheça lembrarei um texto que o Publico reproduziu na passada semana, e JPP sublinhou já no seu blog. Em qq caso vale a pena mais um registo para que não escape à posteridade e responde a legítimas preocupações e dúvidas de alguns!
    Com a devida vénia aqui fica ( com o pedido de desculpa aos que já conhecem a "obra"):

    "Um exemplo típico da estética e do gosto dos "ocupantes" pode encontrar-se neste "poema"
    __________________________
    Amigo OCUPANTE de fora
    Tu que sorris tão-só e passas, desaparecendo noutra multidão
    Tu que ficaste a casa a tomar conta das horas que passam
    Tu que te quedas a falar como se o mundo parasse à nossa porta
    Tu que trazes a família a passear e todos aproveitam para um banho de luta
    Tu que passas maçãs pelas grades e de paraíso nos alimentas
    Tu que ainda não nos percebeste mas queres a todo o custo perceber
    Tu que bebeste à nossa saúde e assim nos embriagaste à distância
    Tu que tinhas a barriga maior que os olhos e a ofereceste para nos carregar
    Tu a quem o trabalho humilha e nos deste tuas poucas horas de ócio
    Tu que trouxeste a bandeira no bolso e a trocaste por duas horas de troca
    Tu que nem tanto ao mar nem tanto à terra e agora somente tempestade
    Tu que vento semeias e vento colhes para que o ar se respire
    Tu que saíste aperaltada e voltaste desfeita como que acabada de nascer
    Tu que vieste ao engano e voltaste mais verdadeiro
    Tu que trouxeste as tuas sobras de esperança e eram um banquete
    Tu que quiseste a noite branca e de manhã choravas por mais
    Tu que em vale de lençóis nos concedeste vidas nunca vividas
    Tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu
    Ocupa a rua como nós ocupámos este nosso teatro
    Pinta a manta e a macaca pinta a negro pinta o sete pinta-te a ti e aos outros
    Canta para o mal espantar para acordar animar embalar protestar discordar
    Toca o sino e a trompete toca tambor clarinete toca a caixa e troca o mundo
    Dança a roda dança a salsa dança o tango dança a valsa baila gira salta pula
    Faz figas e faz de conta faz a sério ou a brincar faz mais para o mundo mudar
    Troca tintas troca passos troca cartas troca abraços troca cromos e heróis
    E, pelo meio, vem até trocar umas ideias, impressões, sensações connosco
    Até já, até sempre
    O Grupo de Ocupantes do Rivoli Teatro Municipal.

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  4. Caro J Miguel Pais:
    Embora o pedido não me seja dirigido, não resisto a meter o "bedelho"!
    - Projectos do ICAM (IPAE não conheço)em que tenham sido atribuidos subsídios financeiros, e "grossos", a projetcos sem sentido? "Palettes deles" como diria Herman José! Projectos financiados que nunca chegaram a termo, nem a prestação de contas? "Resmas" deles diria o mesmo humorista!
    Tem dúvidas? Informe-se junto de quem sabia!
    Fala quem sabe!!! E se não fosse questão séria dava para uma gargalhada nacional!

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  5. Anónimo21:53

    Estou de pleno de acordo com o JMPais na última afirmação que faz. Nunca tinha visto o fenómeno cultural em Portugal na sua perspectiva. De facto, quando o público se resume aos próprios promotores dos eventos, aos seus amigos e familiares, não é cultura é uma festa privada.
    Só com uma diferença essencial em relação às comuns festas privadas. É que aquelas são pagas com o meu dinheiro e sem o meu consentimento!

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  6. Anónimo10:50

    Vou reclamando: Activamente como sugere meu caro JMPais. Reclamo, como diria o poeta, "ao vento que passa", mas reclamo.

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