quinta-feira, 30 de novembro de 2006

1º Dezembro, um compromisso …

Celebra-se amanhã a efeméride do 1º de Dezembro de 1640. O que nos suscita esta data? A Restauração da Independência, sem muitas vezes sabermos o que sucedeu na realidade, quais as suas causas, os seus circunstancialismos e as suas consequências.
Nem sequer, as mais das vezes, é importante extrair uma reflexão de quanto valeu a pena e os sacrifícios que custou, não propriamente o golpe palaciano de 1640, mas um longo período de conflito armado que se lhe seguiu, de 28 anos.
O Estado Novo, ao exaltar os feitos dos Portugueses – heróis planetários, comparáveis aos da mitologia grega – ao menos recuperou a auto-estima nacional.
Hoje, noutro formato, convém, porém, não ignorar a obra realizada, sobretudo o seu esforço inerente.
Ser Português é um direito próprio que adquirimos. É uma honra para os nossos antepassados, para nós próprios e para as gerações vindouras. Outras populações há que têm identidade própria, mérito, valor, até um alto rendimento per capita. Mas não têm país, não vivem dentro de um seu território demarcado politicamente. Podem até ter um estatuto autónomo, mas não são independentes.
É claro que o estatuto integral de independência não serve apenas para afirmar a cultura. A cultura é essencial na identificação de um país, é uma marca registada sem o ser. É um activo, se inerente a muitas outras manifestações de independência. Um país independente tem o direito - totalmente incontestado, até hoje - de delinear a sua estratégia, de definir as suas opções, de executar a sua política fiscal, de ter ou não moeda própria, etc.
Ser soberano - e o 1º de Dezembro de 1640 afirma-o de modo real, europeu e moderno - requer enormes responsabilidades, desde logo garantir o bem estar económico e social das populações.
Saibamos, então, capitalizar a nossa independência.

7 comentários:

  1. Saibamos, pois, ser independentes e orgulharmo-nos de cada um de nós. Porque uma coisa é certa, um mau ministro das finanças dos outros, por exemplo, é muito pior que o nosso.

    Falta-nos a parte de nos orgulharmos de nós próprios e escolhermos um bom ministro das finanças que, certamente, será muito melhor que um bom ministro dos outros. Só falta mesmo esta parte...

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  2. Foi com muita satisfação que segui o desenvolvimento do seu texto. Fiquei a pensar com os meus botões, se terei conhecimento de outro povo no mundo que tal como nós, seja fruto de um tão vasto "casamento" de povos e culturas. Talvez por isso a nossa personalidade colectiva seja incomparável a qualquer outra.
    Porém uma característica tem sido imutável desde os longinquos anos em que Viriato se esforçou por deter a conquista do povo organizadinho, mesquinho, que construiu por aí as primeiras auto-estradas, os 1ºs viadutos, as tais de Domus e sei la o quê mais. Nesse tempo, consta-se que um dos generais romanos enviado para conquistar estes rebeldes, após tomar contacto com os resistentes Lusitanos, terá enviado para Roma um relatório onde referia que este povo de pastores guerreiros que habitava as serranias entre douro e mondego "não se governa, nem se deixa governar". Que péssimo feitio. Mas depois chegaram os arabes, blahg, outra cambada de tolinhos, conheciam muito de astronomia, de medicina, de astrologia, de comércio, de agricultura, mas... eram infieis. Bem feito, tiveram o castigo merecido. Aquele valoroso rapaz que nasceu com raquitismo lá prós lados de Guimarães, deu-lhes a dose. Impensável seria, que depois de tantos esforços, fossemos entregar este belo pedaço de terra, habitado por valorosos marinheiros, que levaram a cultura e espalharam o conhecimento pelo mundo, conquistaram povos e converteram-nos ao cristianismo, ensinaram-nos a orar e em contra-partida, receberam deles os ouros, os diamantes, as especiarias, os cafés, os cacaus, com que construiram magestosos conventos, palácios, como dizia, entrega-lo aos espanhóis, só porque um sonhador Sebastião, cismou que o norte de africa tinha de ser à viva força cristão, e por lá se perdeu. Que mau feitio.Se uma resenha fosse lícito fazer acerca do nosso povo, diria que somos filhos de um valoroso pastor, um punhado de bons arquitectos, um bom nº de infieis cultos, e de um rei coxo que não gostava da mãe, mas que as cantou boas, tanto ao clero como à nobreza, fê-los andar a todos na linha. Desde aí...bom, comemore-se então, amanhã o jubiloso dia da tal independência. Só espero que não se lembrem de fazer ao povo um referendo identico ao que foi feito ao povo espanhol. Acredito que daria resultados muiiiiiiiiiiito interessantes.

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  3. Oh Bartolomeu.
    O Afonso Henriques era coxo? Sofria de raquitismo?
    Ainda não lhe fizeram a “antropometria”! Que eu saiba ainda estão à espera de autorização para que o seu túmulo seja aberto e lhe tirem as medidas. De qualquer modo, mesmo que tenha sido um coxo, foi mesmo grande e “criou” um povo com uma identidade única, apesar de todas as vicissitudes passadas e as que iremos ainda passar.
    O 1º de Dezembro é uma data muito especial que traduz a nossa identidade e, se for necessário, ainda temos mais 364 dias ao nosso dispor para a reforçar. Basta querer.

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  4. Apreciei devidamente o seu texto, na perspectiva que me parece ter em mente, a de animar um pouco este povo que é capaz do melhor e do pior, mas que está farto de o governarem mal. Qualquer dia - haja em vista a sondagem efectuada há pouco tempo nesse sentido - começa-se a reflectir sobre a pertinência historica do 1º de Dezembro. Este amolecimento de sentimentos patrióticos, deriva igualmente a meu ver, de sermos um povo sofredor e fatalista e de tal forma que, se tudo continua no caminho que as coisas levam, vai aparecer quem defenda no seguimento daquilo que se apurou através daquela sondagem, que teria sido melhor os "conjunrados estarem quietos", pois hoje seríamos provavelmente uma espécie de "catalunha à portuguesa". Não dizem que o português no estrangeiro porta-se muito bem como trabalhador e cumpre à risca as regras do jogo? Já só faltava esta para tudo " acabar em beleza ". Entretanto entristece-me o facto de se ter perdido o respeito pela data, facto que se verifica pela ausência de festejos populares, já que institucionalmente está tudo na perfeição. Na realidade, deixou de se comemorar condignamente esta data histórica, a todos os títulos gloriosa.

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  5. Anónimo01:05

    Senhora Dr.ª Margarida Corrêa de Aguiar,

    É um sintoma grave o facto de as próprias autoridades portuguesas não se empenharem com mais ardor nos festejos do 1.º de Dezembro. Quem não consegue reconhecer grandes e decisivos momentos no passado, até porque começa por desconhecê-lo, não tem capacidade para antever e provocar o futuro. Mais: não tem respeito por si próprio; está apenas interessado em coisas imediatas, que não sejam difíceis nem impliquem estrutura, organização e esforço continuado; deixou de apostar na força e na inteligência de que é provido; apostar só se for no milhões ou nos cavalos. Tudo para já ou então nada.

    Ninguém é obrigado a dominar as Ciências Históricas para perceber o que significa o 1.º de Dezembro. É tão importante que, oficialmente, há muito que tem dignidade de feriado nacional e direito a comemorações públicas. Outros acontecimentos, como a proclamação da república, em 1910, ou o golpe militar de 25 de Abril, de 1974, foram elevados ao estrelato de datas célebres e importantíssimas – mesmo fundamentais – do País. Mas enquanto estas tratam da liquidação de um regime e da inauguração de outro – coisa que acontece em Portugal com alguma regularidade desde 1820 - revestindo-se de incontornável carga política e ideológica, aquela não é vassala de nenhuns partidos políticos, de nenhumas ideologias, e não tem a obsessão de massacrar o próximo com a revelação de que os que mandavam antes eram uns malandros e os que passaram a mandar são bestiais.

    O 1.º de Dezembro de 1640 restaurou a independência de Portugal. Para agradecimento pela intercessão da maior de todas as Santas e reflexão nacional, o dia 8 de Dezembro de 1640 marca o fervoroso desejo da protecção da Pátria pela sua Padroeira, Nossa Senhora da Conceição. A coisa é de tal modo significativa que os Reis de Portugal nunca mais usaram a coroa do Reino ou se deixaram retratar coroados. Como sabemos, também passou a ser um feriado – ou, melhor dito, um Dia Santo. Estamos em presença, pois, da sublimação de um facto transcendente, sagrado, eterno – a independência nacional e a defesa dos valores cristãos. É esta realidade indissociável, a autenticidade histórica de Portugal sob o manto da inquestionabilidade divina que a maioria dos nossos políticos, compreensivelmente, aprecia pouco. Mas também não se apercebem do esforço titânico nacional de 28 anos até à obtenção do Tratado de Paz com a Espanha, em 1668. Nada disto é apelativo, e ainda por cima não é um produto político comerciável.

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  6. Caro Antunes Pedroso,

    Tem toda a razão quando aponta a carga partidária e ideológica como factor diferenciador das atenções políticas que são concedidas às datas importantíssimas que citou da história de Portugal.
    Mas deixe-me acrescentar que há também falta de cultura patriótica.

    Caro antoniodasiscas,

    E a consequência é, como diz e bem, o amolecimento de sentimentos patrióticos.

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  7. Sr. Salvador Massano Cardoso, é verdade que o facto da deficiência com que o 1º rei de portugal nasceu, poderá não passar unicamente de uma lenda e só será definitiva e cientificamente esclarecida se se verificar a autorização para a abertura do seu túmulo, coisa que não me parece venha a acontecer num futuro próximo.
    Diz a lenda que D. Afonso Henriques, filho de D. Henrique de Borgonha e D. Teresa de Leão, veio ao Mundo com uma deformação nas pernas, tendo sido levado por Egas Moniz para tratamento nas águas sulforosas de Caldas de Aregos. Além deste tratamento, conta tb a lenda que o seu aio o encomendou aos cuidados de Nossa Senhora. Por acção das águas, disseram uns, por intervenção de Nossa Senhora, disseram outros, o pequeno Afonso curou-se e regressou a Guimarães. Em agradecimento pela cura do filho, D. Henrique e D. Teresa mandaram construir o Mosteiro de Santa Maria de Cárquere, na mesma região. No entanto, não era sobre este pormenor que julguei ir incidir a argúcia de quem o lesse, mas sim sobre o facto conhecido de D. Afonso não ter nascido em Guimarães, mas sim em Coimbra, onde aliás tb veio a falecer. Mas adiante... O que importa, creio eu, é reconhecer se ha motivos importantes para se comemorarem factos históricos. Ou melhor... comemorar hoje, factos que conhecemos o desfecho e o resultado e dos quais desconhecemos os motivos que os geraram. Ouvia hoje na rádio uma entrevista um grande intelectual da nossa "praça". Quando a entrevistadora lhe perguntou,se considerava o que a humanidade lhe devia, pela obra feita, ele muito humildemente referiu, que tudo o que aconteceu, teve como finalidade o seu prazer pessoal.
    Em minha opinião, (espírito nacionalista à parte) estarmos a comemorar HOJE, actos praticados num outro tempo, por personagens que se vieram a considerar herois. Acredito tambem e num registo ficcionista, que se tivessemos a possibilidade de viajar no tempo e assistir a todo o desenrolar das acções, provavelmente reescreveríamos a história. Mas... como cantou Jeanis Joplin "o futuro não existe, o passado não existe, é sempre o mesmo (aqui ela referiu uma obescenidade) dia", mas, nem por isso esta minha referencial artista, descobriu verdade alguma, pois heinstein, algum tempo antes, numa simples viagem de comboio, tinha descoberto o mesmo, porém dito a cantar, tem uma sonoridade diferente.

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