Esta é a Cidade
Esta é a Cidade, e é bela.
Pela ocular da janela
foco o sémen da rua.
Um formigueiro se agita,
se esgueira, freme, crepita,
ziguezagueia e flutua.
Freme como a sede bebe
numa avidez de garganta,
como um cavalo se espanta
ou como um ventre concebe.
Treme e freme, freme e treme,
friorento voo de libélula
sobre o charco imundo e estreme.
Barco de incógnito leme
cada homem, cada célula.
É como um tecido orgânico
que não seca nem coagula,
que a si mesmo se estimula
e vai, num medido pânico.
Aperfeiçoo a focagem.
Olho imagem por imagem
numa comoção crescente.
Enchem-se-me os olhos de água.
Tanto sonho! Tanta mágoa!
Tanta coisa! Tanta gente!
São automóveis, lambretas,
motos, vespas, bicicletas,
carros, carrinhos, carretas,
e gente, sempre mais gente,
gente, gente, gente, gente,
num tumulto permanente
que não cansa nem descança,
um rio que no mar se lança
em caudalosa corrente.
Tanto sonho! Tanta esperança!
Tanta mágoa! Tanta gente!
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Há precisamente 100 anos nascia, ali para os lados da Sé, Rómulo Vasco da Gama de Carvalho. Um génio que pela poesia nos fez ver que o mundo também avança pelo sonho.
e, num dia de temporal, a cidade parece mesmo "um rio que no mar se lança em caudalosa corrente"...!
ResponderEliminarAntónio Gedeão sente bem que a gente que somos e a gente que nos rodeia é gente que desperta em nós um turbilhão de sentimentos. É a expressão da vida... Simplesmente bonito.
ResponderEliminarBela lembrança, belo poema, e tão actual!
ResponderEliminar"Tanto sonho! Tanta esperança!
Tanta mágoa! Tanta gente!"
Desculpem o desvio no caudal dos comentários, mas achei que era o local mais apropriado, entre os disponiveis:
ResponderEliminar"Neste dia de temporal, Alexandre Litvinenko morreu! Espero que a "personalidade interessante" chamada PUTIN nada tenha a ver com o vendaval que o matou! Que tal não tenha sido, senão, uma mera "expressão da morte"!