Há dias, quando estava à procura de um livro no caos da minha estante, encontrei o exemplar de “O Principezinho”, velho de décadas, e que julgava perdido. Ali estava ele, já sem capa, todo escrevinhado pelas primeiras letras das minhas filhas, à mistura com algumas notas que eu ia registando quando o livro ainda era só meu.
Havia um texto que estava marcado sem comentários. É o do homem de negócios, talvez nessa altura eu tivesse preferido deixar para mais tarde a melhor compreensão da história. Seja como for, voltei a lê-lo, e aqui vos deixo o que agora essa leitura me inspirou, numa adaptação livre…
“O quarto planeta era o do homem de negócios. Estava tão ocupado que não levantou sequer a cabeça à chegada do príncipe.
- Quinhentos e um milhões, seiscentos e trinta e quatro…
- Quê?, perguntava o Principezinho – milhões de quê?
- Não sei, não tenho tempo, não interrompas, senão erro as somas…
- Milhões de quê?, insistia o rapaz.
- Milhões de coisinhas que se avistam no céu e fazem devanear os vagabundos…
- Ah, estrelas!
- Isso mesmo, estrelas,…Mas não me interrompas, não tenho tempo, tenho que contar!
- E que fazes com essas estrelas?
- Possuo-as, para ser rico, quinhentos e um milhões...
- E para que te serve ser rico?
- Para comprar outras estrelas. Administro-as, conto-as e reconto-as, depois escrevo num papelinho e ponho-as no banco, fechado numa gaveta. Sou um homem sério.
- Nada mais? Para que serve isso? (…) Tu não és útil às estrelas…”
Se repararmos bem, há muitos “homens de negócios” por aí, que gastam os seus dias contando e recontando, sem terem tempo para pensar se o que fazem é útil a alguém, ou se no fim chegam a possuir alguma coisa que valha a pena.
É fácil deixarmo-nos enredar no dia a dia, tomando como essencial uma imensidão de gestos inúteis, que consomem o nosso tempo e a nossa paciência num turbilhão de somas muitas vezes de resultado nulo.
É fácil deixar correr o tempo, agarrados a estrelas que não se movem e que nos prendem à sua imobilidade, ficando apenas um monte de registos indecifráveis para quem quiser olhar e perceber.
O Homem de Negócios é uma história terrível.
Havia um texto que estava marcado sem comentários. É o do homem de negócios, talvez nessa altura eu tivesse preferido deixar para mais tarde a melhor compreensão da história. Seja como for, voltei a lê-lo, e aqui vos deixo o que agora essa leitura me inspirou, numa adaptação livre…
“O quarto planeta era o do homem de negócios. Estava tão ocupado que não levantou sequer a cabeça à chegada do príncipe.
- Quinhentos e um milhões, seiscentos e trinta e quatro…
- Quê?, perguntava o Principezinho – milhões de quê?
- Não sei, não tenho tempo, não interrompas, senão erro as somas…
- Milhões de quê?, insistia o rapaz.
- Milhões de coisinhas que se avistam no céu e fazem devanear os vagabundos…
- Ah, estrelas!
- Isso mesmo, estrelas,…Mas não me interrompas, não tenho tempo, tenho que contar!
- E que fazes com essas estrelas?
- Possuo-as, para ser rico, quinhentos e um milhões...
- E para que te serve ser rico?
- Para comprar outras estrelas. Administro-as, conto-as e reconto-as, depois escrevo num papelinho e ponho-as no banco, fechado numa gaveta. Sou um homem sério.
- Nada mais? Para que serve isso? (…) Tu não és útil às estrelas…”
Se repararmos bem, há muitos “homens de negócios” por aí, que gastam os seus dias contando e recontando, sem terem tempo para pensar se o que fazem é útil a alguém, ou se no fim chegam a possuir alguma coisa que valha a pena.
É fácil deixarmo-nos enredar no dia a dia, tomando como essencial uma imensidão de gestos inúteis, que consomem o nosso tempo e a nossa paciência num turbilhão de somas muitas vezes de resultado nulo.
É fácil deixar correr o tempo, agarrados a estrelas que não se movem e que nos prendem à sua imobilidade, ficando apenas um monte de registos indecifráveis para quem quiser olhar e perceber.
O Homem de Negócios é uma história terrível.
Cara Suzana,
ResponderEliminarAinda bem que encontrou "O Principezinho".
É bom termos ocasião de pensar as coisas sérias da vida, sem dramatismos, mas antes com a consciência de que o crescimento de vida se faz abdicando de muitas outras coisas.
A história do Homem de Negócios é um pesadelo, não em sonho, mas na vida real.
O "quarto planeta" não é infelizmente uma ficção. É uma espécie em expansão, produzida pela voracidade do consumismo, do facilitismo, da urgência em tudo ter, do custe o que custar para possuir as "estrelas", de alcançar poder, de ser alguém, como se a vida se tivesse que fazer muito depressa para depressa chegar ao fim sem nada perder! Numa corrida contra o tempo!
Em contraste, temos um "outro planeta", que é bem real, mas do qual tantas vezes nos esquecemos, que não tem sequer possibilidade de olhar as estrelas que numa noite de verão fazem brilhar o céu.
É um "terrível" contraste.
Na sociedade "materialista" que construímos e da qual somos cúmplices, a utilidade das coisas é reconhecida através de uma função matemática que permanentemente a reconverte nos "milhões" do "quarto planeta".
Mas, felizmente, há mais vida aquém desses "milhões", em que o crescimento interior do homem relativiza o "material" para dar lugar à felicidade própria da dimensão humana.
Um conjunto de circunstâncias, muito pessoais, tem-me colocado nos ultimos dias, perante um conjunto de questões que me encaminham quase sempre para uma reflexão - "o sentido da vida!"
ResponderEliminarE, nem de propósito, nos ultimos dias, surgiram aqui no 4R 2 posts -um, do prof Massano, sobre o pai que perdera a filha, e outro de homenagem à freira assassinada quando dava o que podia pelos outros, que enquadrei na mesma perspectiva!A ambos dirigi um breve comentário realçando como, afinal, é possível dar sentido á vida!
O seu "Homem de Negocios" é mais um post e mais um exemplo de como se pode, aqui, arrasar o Sentido da Vida. E de que forma o Mundo de hoje, cada vez mais desumano e egoísta, contribui para que as actuais e as próximas gerações cada vez lhe percam mais o rumo!
Adorei a sua história.
RuiVasco, às vezes é preciso um grande "abanão", como uma perda irremediável ou um facto terrível que custa a crer e que mostra que afinal a realidade ultrapassa a ficção, para nos fazer reflectir no modo como valorizamos a nossa existência. Na ausência desses choques, o perigo é levar numa vida cheia de falsas importâncias, de inadiáveis que são só desculpas, e desse modo se desbarata a energia e a dedicação que devíamos por no que é essencial. O mais certo é o cepticismo e a amargura tomarem conta dessas almas de velho...sem idade!
ResponderEliminarQue excelente comentário Margarida, o Principezinho é sempre uma fonte de inspiração...
Suzana, a fonte de inspiração foi o seu conto. Uma história terrível como a classifica, mas ao mesmo tempo muito bela, pela possibilidade que nos oferece de sentirmos além das estrelas...
ResponderEliminarAdmiro a forma de abordar certos assuntos. Suzana, Margarida, RuiVasco têm o condão de “sentir” as coisas e transmiti-las com uma sinceridade especial.
ResponderEliminarGostei desta nota, mas deve haver um “erro” no planeta. Não será o “terceiro”?...
Caro Massano Cardoso, a ordem de precedências é arbitrária, podemos até considerar que varia consoante o "Universo" de cada um...
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