quarta-feira, 1 de novembro de 2006

A triste sina da conservação da natureza

O DN de hoje relata parte do debate parlamentar sectorial sobre o OE, desta feita com a equipa do Ministério do Ambiente. Refere-se ao que o Ministro afirmou a propósito do descalabro das politicas de conservação da natureza e da acentuada falência da gestão das áreas protegidas, salientando que os promotores de empreendimentos turísticos situados em espaços naturais poderão vir a financiar projectos de conservação da natureza. Estas assim chamadas "parcerias público-privadas" são para o ministro e o secretário de estado do ambiente (que se exprimiu melhor) uma forma, entre outras alegadamente em fase de estudo, de o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) - agora com a revolucionária designação de ICNBI, "BI" de biodiversidade - se auto-financiar e começar a gerar receitas próprias.
Estranha noção esta, de auto-financiamento!
Pondo de lado a confusão que graça pelos lados da rua d´O Século, que já não permite separar o problema do co-financiamento privado de projectos de conservação da natureza, da gestão das áreas protegidas e, seguramente, não consente qualquer confusão com o financiamento da orgânica da conservação, verdade é que o partido que apoia o governo rende-se afinal às linhas da política do XV Governo Constitucional que apontavam exactamente para a criação de parcerias, designadamente com os agentes locais. Política que o PS tanto diabolizou aquando na oposição e que o levou, num impulso irracional, a revogar logo no início do mandato deste governo, o diploma entrado em vigor em 2002 que co-responsabilizava as autarquias locais na gestão de parques e reservas.
Agora o que me causa espanto é o á-vontade com que, perante a passividade da bancada do PS e a reacção frouxa desse expoente do ambientalismo bacteriologicamente puro que dá pelo nome de Partido "Os Verdes", se ouviram propostas de instalação de empreendimentos em áreas protegidas.
Há uns anos atrás, só a suspeição de que alguém no governo admitia a hipótese de compatibilizar turismo com conservação da natureza, era razão para essas mesmas criaturas pedirem a condenação dos herejes ao tenebroso inferno onde ardem os inimigos da Terra!
Mudam-se os tempos e com eles algumas convenientes vontades. Mudanças facilitadas pelo facto de não haver quem se envergonhe das hipocrisias passadas.

2 comentários:

  1. Os Verdes? Expoente do ambientalismo bacteriologicamente puro? Pensava que era por serem invejosos...

    Falando sobre o ambiente em si, faz-me uma certa confusão que se possa produzir uma lei de gestão de áreas protegidas como se fossem todas iguais.

    ResponderEliminar
  2. Anónimo17:49

    Muito bem observado, Tonibler.
    A interrogação que coloca é, para mim, um dos problemas das áreas protegidas. Apesar de serem muito diferentes, o modelo de gestão é o mesmo (ou sensivelmente o mesmo) no plano orgânico-funcional. E de facto não deveria ser.

    ResponderEliminar