quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

“Dançar nas ruas”…

Festa é festa e, de acordo com vários estudos, perde-se na noite dos tempos. Tudo leva a crer que no Paleolítico a rapaziada já dançava, festejava, mascarava-se, enfim, eram verdadeiros adeptos de forrobodó da época. Parece que as festividades, que durariam vários dias, ocorriam ao redor de fogueiras e, depois, à medida que as civilizações se iam desenvolvendo, nas ruas ou noutros espaços públicos.
A história das festividades é comum a todos os povos e continentes, traduzindo uma “necessidade” comum. Mesmo os gastos energéticos inerentes a estes esforços não eram impeditivos do divertimento. A partir de certa altura tudo devia servir de pretexto, que digam as festividades pagãs que ainda hoje permanecem sob outras roupagens. Por exemplo, na França do século XV, um em cada quatro dias era dedicado a festa, habitualmente em honra de um santo! Parece que esta prática tem seguidores hoje em dia. Basta recordar os defensores de “fins-de-semana de três em três dias”, como aconteceu recentemente através de um partido político. Poderia ser interpretado como um provável sinal de algum resquício medieval ou mesmo troglodita, mas, nunca se sabe…
Depois tudo mudou. Apareceram os “puristas” religiosos, as aversões ao “pecado”, os promotores da nova ética de trabalho pós revolução industrial, os “workaólicos” e os que tinham medo de que tais festividades poderiam ser fontes de contestação social e embriões de revoluções. E agora? Agora, ainda vamos tendo alguns dias festivos mas sem a intensidade de outras eras. No entanto, as festividades promovidas, e que constituem fonte de divertimento e de distracção, vão ocorrendo com alguma regularidade. Mas há que promovê-las e dar-lhes outra dimensão, porque poderão ser muito úteis como forma de combater a inactividade física e a obesidade.
Neste momento, os britânicos, tal como os portugueses, estão a sofrer uma grave epidemia de obesidade. O custo da inactividade chega a atingir os oito mil milhões de libras por ano, constituindo uma forte dor de cabeça para o governo. Foram anunciadas muitas medidas, algumas interessantes, todas com o objectivo de reduzir o peso, fazendo com que as crianças tenham pelo menos uma e os adultos meia hora de actividade física diariamente. Dentro destas actividades o governo, através de Caroline Flint, propôs classes de dança, “danças nas ruas” com vídeos pop e outros programas não convencionais, como ida a supermercados (a pé!) para analisarem os alimentos aí vendidos, enquanto os mais velhos são convidados a praticar box, saltos (skipping) e outros exercícios, incluindo “dançar o tango”. O programa tem uma verba na ordem dos 2,5 milhões de libras e as perspectivas em matéria de poupança são astronómicas. Afinal, os nossos antepassados já sabiam da poda. O melhor é dizer ao senhor ministro da saúde para “abrir” uma sala de baile por cada urgência que fechar, promover concertos de rock e outras festividades e reconverter as maternidades em recintos desportivos para a prática de box, kickboxing, karaté, kung fu e quejandos. Com o dinheiro que anda a poupar por esse pais fora, é capaz de ter uns trocos que podia investir neste tipo de actividades das quais pode resultar muita saúde e, pelo menos, alguma satisfação. Vá lá senhor ministro ponha os portugueses a dançar nas ruas, não ao som da contestação, mas de boa música…

2 comentários:

  1. Anónimo00:16

    Caro Prof. Salvador Massano Cardoso,

    Excelente. O seu texto contém tudo: elegância, informação, conhecimento, preocupação, solução e humor.

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  2. Negro, mas humor... sem dúvida. A minha vénia ao autor e ao tema, pelo conteúdo, e pela triste realidade que encerra. Aos nossos gestores/políticos, ou políticos/gestores, que acredito visitam este blog,-se não o fazem, deveriam- aproveito para deixar uma sugestão conjunta ao ministro da saúde e da agricultura. Sugiro a reedição da Lei das Sesmarias promulgada por El-Rei D. Fernando I e que visava o repovoamento do interior do país e a obrigatoriedade do cultivo dos campos e da criação de gado, proibindo ainda a indigência e a mendicidade. Diz o povo que trabalho dá saúde... assim sendo... alie-se o prazer da sanidade física e consequentemente da mental, ao jubiloso prazer da contribuição para retirar o país da crise económica e laboral em que se encontra.
    A bem da saúde

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