No dia 13 de Novembro de 2002 ocorreu um grave acidente ecológico nas terras da Galiza provocado pelo afundamento do petroleiro Prestige fonte de uma gravíssima maré negra. Na altura temia-se, e com razão, que as nossas costas pudessem ser, também, afectadas. Felizmente não foram, mas os nossos vizinhos galegos tiveram inúmeros contratempos com as suas praias, viveiros e limitações na pesca. Os esforços na limpeza foram notáveis. Uma verdadeira onda de solidariedade correu por aquelas bandas com o objectivo de minimizar o impacto e proceder às respectivas limpezas. Na altura, surgiram alguns problemas de saúde que atingiram os sistemas respiratório e gastrointestinal, irritações oculares, alterações psicológicas e perturbações do sono. Aspectos considerados transitórios. Acontece que volvidos quatro anos, estudos epidemiológicos, entretanto realizados, apontam para problemas que exigem atenção especial, os chamados efeitos a longo prazo.
A exposição aos agentes tóxicos envolvidos na tragédia estão a provocar alterações do ADN e perturbações hormonais. De acordo com alguns investigadores, é possível que algumas lesões do ADN sejam susceptíveis de “conserto” nalgumas pessoas, mas noutras, as que estiveram mais tempo expostas, é possível que não ocorra a devida reparação. Deste modo, muitos voluntários correm riscos de virem a sofrer as consequências das alterações citogenéticas.
Os efeitos a longo prazo não são fáceis de estudar, mas poderão traduzir-se no aparecimento de patologias indesejáveis. Neste momento, começam ser identificadas várias alterações respiratórias. Em ambos os casos os processos são lentos, exigindo vigilância e controlo adequados sem os quais não será possível estabelecer nexos de causalidade entre a exposição a muitos dos componentes derramados e o aparecimento tardio de várias afecções.
A divulgação recente de alguns estudos, com as cautelas adequadas, não deixam de por em causa a tranquilidade de todos aqueles que, num acto de generosidade, contribuíram para a solução do problema. Inclusive, o uso de equipamentos “adequados”, nomeadamente as máscaras, não terão sido suficientes para a prevenção destes efeitos. E se a imagem de um voluntário galego, ou não, com luvas, máscara, fato branco e baldes na mão, constitui a marca dos limpadores, não podemos esquecer que as populações das vizinhanças, não deixaram de ser atingidas pelos compostos voláteis, os quais através da inalação e até da pele, deverão ter feito das suas em muitos milhares e milhares de corpos. Daqui a muitos anos irão ocorrer certas patologias, comprometendo a vida de muitos, as quais serão aceites como uma fatalidade perfeitamente normal, esquecendo muitos que, um dia, houve um Prestige…
Os estudos epidemiológicos realizados por colegas galegos, e de outras comunidades espanholas, serão, com toda a certeza, vitais para a compreensão dos fenómenos de poluição ambiental, visando esclarecer a sua relação com o surgimento de muitas doenças.
As autoridades de saúde do país vizinho, empenhadas a vários níveis, estão no caminho certo, sinal de respeito dos direitos dos cidadãos. Um bom exemplo, apesar da tragédia…
A exposição aos agentes tóxicos envolvidos na tragédia estão a provocar alterações do ADN e perturbações hormonais. De acordo com alguns investigadores, é possível que algumas lesões do ADN sejam susceptíveis de “conserto” nalgumas pessoas, mas noutras, as que estiveram mais tempo expostas, é possível que não ocorra a devida reparação. Deste modo, muitos voluntários correm riscos de virem a sofrer as consequências das alterações citogenéticas.
Os efeitos a longo prazo não são fáceis de estudar, mas poderão traduzir-se no aparecimento de patologias indesejáveis. Neste momento, começam ser identificadas várias alterações respiratórias. Em ambos os casos os processos são lentos, exigindo vigilância e controlo adequados sem os quais não será possível estabelecer nexos de causalidade entre a exposição a muitos dos componentes derramados e o aparecimento tardio de várias afecções.
A divulgação recente de alguns estudos, com as cautelas adequadas, não deixam de por em causa a tranquilidade de todos aqueles que, num acto de generosidade, contribuíram para a solução do problema. Inclusive, o uso de equipamentos “adequados”, nomeadamente as máscaras, não terão sido suficientes para a prevenção destes efeitos. E se a imagem de um voluntário galego, ou não, com luvas, máscara, fato branco e baldes na mão, constitui a marca dos limpadores, não podemos esquecer que as populações das vizinhanças, não deixaram de ser atingidas pelos compostos voláteis, os quais através da inalação e até da pele, deverão ter feito das suas em muitos milhares e milhares de corpos. Daqui a muitos anos irão ocorrer certas patologias, comprometendo a vida de muitos, as quais serão aceites como uma fatalidade perfeitamente normal, esquecendo muitos que, um dia, houve um Prestige…
Os estudos epidemiológicos realizados por colegas galegos, e de outras comunidades espanholas, serão, com toda a certeza, vitais para a compreensão dos fenómenos de poluição ambiental, visando esclarecer a sua relação com o surgimento de muitas doenças.
As autoridades de saúde do país vizinho, empenhadas a vários níveis, estão no caminho certo, sinal de respeito dos direitos dos cidadãos. Um bom exemplo, apesar da tragédia…
É bem verdade o que escreve, meu caro Professor.
ResponderEliminarOs acidentes ambientais, mesmo os mais graves, só prendem a atenção enquanto são espectáculo de muitos e pretexto para o protegonismo de alguns.
Passado algum tempo a desgraça, ainda que se mantenha sobre as formas que se anunciam nos estudos que refere, deixaram de ser notícia. São casos isolados, que afectam quem procurou combater os efeitos da tragédia, não são a própria tragédia.
Lembro-me bem do desastre do Prestige. Vivi intensamente e de muito perto a expectactiva dos problemas gerados por uma dos mais graves desastres ecológicos próximos do nosso território. Os que existiram e os que, para desespero de muitos, não chegaram a acontecer. Lembro-me em particular de no Parlamento me parecer que alguns dos senhores deputados estavam francamente desiludidos em cada dia que passava sem que a mancha de crude atingisse a costa portuguesa!
Lembro-me das previsões mais fantásticas, repetidas à exaustão por pretensos cientistas que calcularam ventos e marés, e que prognosticavam que a maré negra atingiria muito em breve a costa alentejana. Lembro-me em plena foz do Minho, em Caminha, uma jornalista de uma das nossas cadeias de TV, em desespero de causa, após dezenas de entrevistas sempre aos mesmos personagens fazendo as mesmas perguntas e nada ali se passando, tendo de usar o tempo de satélite que lhe estava atribuido, placar literalmente o primeiro transeunte que lhe apareceu pela frente - que por acaso era um divertido pescador - e lhe perguntou a que horas esperava "a chegada da mancha"! Recordo o tom aflitivo com que o responsável pelo ICN de então anunciava que uma mancha de crude de enormes dimensões, seguida de outras menores, se aproximavam a uma velocidade impressionante do barco onde estava ao largo de Caminha com a missão de vigiar as movimentações dos derrames, quando na verdade o que avistou não era mais do que a sombra projectada das núvens...
Passou o espectáculo. Poucos são os que se lembram dele. E aposto que poucos serão os que darão atenção aos que verdadeiramente sofreram com o desastre.
Eu lembro-me muito bem dos debates no Parlamento. Alguns, tal como disse, esperavam “desesperadamente” que a tragédia nos batesse à porta. Tudo para atacar o Governo de então.
ResponderEliminarPode ser que os mesmos, agora, pelo menos no período antes da ordem do dia, façam alguma intervenção alertando para esta problemática quatro anos passados sobre o acidente. Seria um bom momento de reflexão e de preocupação pelo bem-estar dos que sofrem e venham a sofrer no futuro, porque agressões ambientais não deixam, também, de existir entre nós. O que falha são estudos sobre os assuntos. Enquanto ignorarem a realidade descartam responsabilidades!
Quanto à comunicação social, nem vale a pena comentar…
Caro Professor e Caro Ferreira de Almeida:
ResponderEliminarEmbora um pouco ao lado do essencial do post, mas já que se falou nisso, e não usando de meias palavras, posso dizer que as intervenções das Oposições ao Governo de então constituiram, durante largos dias, uma das coisas mais asquerosas que me foi dado ver no Parlamento. A par das intervenções sobre os incêndios de 2002 e 2003.
Uma vergonha que indignifica os "políticos" que as fizeram e os partidos que as permitiram e, com grande gáudio, a elas se associaram...