A fase que a Europa atravessa de lento crescimento económico e elevado desemprego, deve contribuir para reflectirmos para além dos valores materiais de uma qualquer economia da eficiência.
Com efeito, pensar sobre a justiça social – sobre perspectivas acerca da igualdade e da pobreza – sobre os valores políticos – da democracia e da liberdade – e acerca da relação entre as pessoas e as comunidades em que se inserem é um exercício fundamental para a compreensão do caminho económico e social que queremos prosseguir.
Esta reflexão tem muita actualidade e ganha grande importância em Portugal, um país em que se torna necessário encontrar uma nova dimensão para a relação entre o papel do mercado e o papel do Estado. Uma discussão que faz falta, verdadeiramente adiada...
A pobreza na Europa é uma realidade. A pobreza é um grande estigma social e económico. Devíamos preocupar-nos com as dificuldades dos pobres. É uma obrigação moral, uma obrigação aliás reconhecida por todas as religiões. A vida, a liberdade e a felicidade são direitos inalienáveis. Sem a garantia da igualdade de oportunidades e de um nível básico de rendimento a “busca da felicidade” não tem significado.
Acredito que todos beneficiamos de uma sociedade que seja menos dividida. Porque uma sociedade que aposta na igualdade de oportunidades é uma sociedade que tira melhor proveito dos seus recursos humanos e assim sendo é uma sociedade em que a estabilidade social e política é maior, com claros benefícios para o crescimento, porque é menor o nível de contestação.
Falar de igualdade de oportunidades é falar de oportunidades para as crianças e como tal o seu futuro não deveria estar dependente da situação dos pais. Uma criança desfavorecida que não tenha as mesmas oportunidades na escola e que, por exemplo, tenha uma alimentação subnutrida nos primeiros anos de vida poderá ter o seu futuro comprometido. Portugal tem muito para fazer neste domínio.
Mas nenhuma oportunidade é mais importante do que a oportunidade de emprego. Por isso, a Europa deveria firmar um compromisso com o pleno emprego, com um emprego para toda a gente que queira trabalhar, desenvolvendo programas de educação e de formação que facilitem a mobilidade de emprego. Não sei se a "flexigurança", agora tão na boca dos nossos governantes, será por si só suficiente.
E também nos devemos preocupar com a lealdade e a justiça entre as gerações, a actual e as vindouras. O “crescimento” de hoje e as opções políticas de hoje não devem fazer-se à custa do bem estar das gerações futuras. Esta consciência geracional deve estar hoje mais presente do que nunca, colocando o objectivo da sustentabilidade – a preservação do ambiente, a conservação dos recursos naturais, a manutenção e construção das infra-estruturas, o fortalecimento da cultura, etc. – no centro da discussão sobre igualdade de oportunidades. Opções do tipo OTA reflectem esta preocupação?
A propósito deste artigo que considero extremamente incisivo na definição e na caracterização que faz dos actuais problemas sociais com que se debate a U.E.,problemas estes mais condizentes com uma expansão económica do que com um desenvolvimento harmonioso que deveria integrar entre outras variáveis, as tais que determinam a chamada qualidade de vida,lembro-me de uma intervenção do Dr. Franco Nogueira que com imensa objectividade pôs exactamente em causa o facto de algum dia se poder vir a alcançar aquela mesma harmonia, na medida em que, veja-se o que já aconteceu na aprovação da constituição dita europeia, cada país vai, isso sim, procurando servir-se e utilizar da melhor maneira as " benesses " que o seu estatuto lhe confere - e neste contexto a Espanha tem sido exemplar para si própria - deixando para os outros estados a resolução e a implementação de medidas eminentemente sociais, que em boa verdade deveriam ser a preocupação dominante de todos, na procura constante da tal harmonia.
ResponderEliminarÉ bem verdade Margarida. Apesar do discurso político, não são as pessoas que estão em primeiro lugar. O desemprego passou a ser um múmero. Uma percentagem mais ou menos expressiva. Um indicador. Pondera-se no desemprego, mas esquecem-se os desempregados. Poucos são os que refletem nas implicações na vida das pessoas, das famílias, desse flagelo.
ResponderEliminarDizem-me que a dimimuição do emprego será uma inevitabilidade nos próximos tempos, exigência dos ajustamentos macroeconómicos. Pode ser que sim nas biblias da economia. Nas páginas da história da Europa a escrever nos próximos anos, esperemos que o modelo económico não ignore esse que é seguramente o maior dos cancros sociais.
O divórcio crescente entre as pessoas e a política resulta de se reconhecer cada vez mais que os decisores se escondem atrás de "modelos" e de regras técnicas sem fazerem a sua projecção sobre a realidade social, como bem refere o FAlmeida. Houve muitos progressos nestes 50 anos, não podemos ignorar isso, mas também as pessoas se tornaram muito mais exigentes nas suas aspirações, já não é a sobrevivência mas a qualidade de vida até serem velhinhos. A política é cada vez mais exigente como actividade complexa, de coordenação e de influência, o pensamento está a recuperar algum campo e são já muitas as vozes que questionam qual a reflexão associada à acção.E os países começam a reagir a soluções uniformes, a identidade não se confunde com bairrismos mas tem que ser bem avaliada no contexto das decisões para que não seja tudo posto em causa e acabe cada um a levar o que pode, como diz aqui o antoniodasiscas...
ResponderEliminarCaro antoniodasiscas
ResponderEliminarOs cidadãos europeus estão hoje muito preocupados com as questões sociais, designadamente com as que advém do desemprego ou do envelhecimento da população, bem como, por exemplo, com a segurança na reforma.
Sem dúvida que teremos que ser capazes de renovar a Europa, mais preocupada com a sustentabilidade do crescimento económico e do bem estar social.
José Mário
ResponderEliminarDiz bem, é uma verdade que não são as pessoas que estão em primeiro lugar. E é precisamente esta verdade que nos deve fazer reflectir que tudo o resto – que certamente é muito – só faz sentido se formos capazes de criar uma Europa da igualdade de oportunidades. O cancro do desemprego é um flagelo social que deve estar no centro das decisões políticas.
Suzana
ResponderEliminarMuito importante o que refere, aliás na linha dos comentários do antoniodasiscas e do José Mário: "a identidade não se confunde com bairrismos, mas tem que ser bem avaliada no contexto das decisões para que não seja tudo posto em causa a acabe cada um a levar o que pode...". Também aqui é grande a responsabilidade política. Assobiar para o ar não resolve os problemas!