terça-feira, 17 de abril de 2007

“Sonhos”

A avidez do nosso cérebro estende-se ao seu próprio funcionamento. Cada dia que passa, avolumam-se conhecimentos sobre o modo de pensar, de agir, de conhecer e de sonhar. Relativamente a este último aspecto, sabe-se, desde há mais de um século, que as lesões de certas zonas cerebrais se acompanham da perda da capacidade de sonhar conjuntamente com problemas na visão. O quadro ficou conhecido pela síndrome de Charcot-Wilbrand.
Recentemente, foi possível identificar a parte do cérebro onde os sonhos são “criados”.
A síndrome é rara e mais ainda quando atinge apenas os sonhos.
A necessidade de sonhar é uma realidade, embora se discuta muito como são criados os sonhos e qual a utilidade dos mesmos. Há quem afirme que se trata de uma forma de alerta e de “aprendizagem”, com interesse evolutivo, reforça a memória, enquanto outros abordam-nos na esfera psicanalítica de que é testemunha a célebre obra de Freud, ”A Interpretação dos Sonhos”.
Seja como for, presumo estar perante uma das palavras mais utilizadas pelos seres humanos. Quem é que nunca falou dos seus “sonhos”? Quem é que nunca os teve? Quem é que nunca desejou “bons sonhos”? Todos. Até mesmo os assassinos de sonhos!
Também há os sonhos maus, os pesadelos. Alguns persistem ao longo da vida, reemergindo, em determinadas circunstâncias, com a mesma aparência e intensidade, criando angústia e mal-estar. Claro que há também os outros, belos, apetecíveis e reconfortantes. São tão desejados ao ponto de um empresa japonesa inventar uma máquina que permite às pessoas criarem os seus próprios sonhos. Ainda está numa fase experimental, mas, quem sabe se um dia o “Yumeni Kobo” (fábrica de sonhos) não se tornará uma realidade, disponível como um vulgar micro-ondas? Interessante aquisição para efeitos de uma eventual campanha eleitoral. Aos sonhos prometidos pelos candidatos ficaria sempre “assegurado” a produção de sonhos, à vontade do eleitor!
A par dos sonhos biológicos, os outros “sonhos”, sinónimo de aspirações, são muito fortes, ao ponto de dois em três jovens homens, de acordo com um inquérito realizado no Reino Unido, afirmarem que trocariam as suas namoradas pelo carro dos seus sonhos! Os dados não podem, nem devem, generalizar-se a outros povos, porque britânicos são britânicos, como é óbvio!
Diz o poeta que “o sonho comanda a vida”, e ainda bem. O que seria de nós se perdêssemos essa capacidade. No entanto, na prática, podemos constatar que muitos dos nossos concidadãos começam a perder a capacidade de sonhar, adoecendo de um mal social, equivalente ao citado síndroma de Charcot-Wilbrand, o que é mau, mesmo muito mau. As discrepâncias e as desigualdades sociais, aliadas à diminuição de expectativas de futuro para os mais jovens causam angústia, mal-estar, inibindo a capacidade de sonhar.
A este propósito, ao ler a obra do chileno Luís Sepúlveda, “ O Poder dos Sonhos”, confrontei-me com a seguinte passagem: “Creio que não há sonho mais belo do que um mundo onde o pilar fundamental da existência seja a fraternidade, onde as relações humanas sejam sustentadas pela solidariedade, um mundo onde todos compartilhemos da necessidade de justiça social e actuemos com coerência”.
Ainda vale a pena sonhar, mesmo que “Life is but a dream within a dream”...

5 comentários:

  1. Um dia descobri que sonhava a cores quando, em sonho, passeava numa praia por onde tinha passado nas férias numa caminhada louca a norte de V.N. de Milfontes. Quando acordei chovia e tinha que ir para o Poço do Bispo (bem antes da Expo, era a zona mais sombria do mundo) trabalhar. Se calhar foi por isso que larguei aquela porcaria daquela empresa, mas fiz a minha descoberta "científica": gente com vida a preto e branco sonha a cores! Nunca mais reparei se sonhava a cores ou não, pelo que está demonstrada a minha descoberta!

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  3. Pois eu não sei se sonho, nunca me lembro dos meus sonhos, não sei se são a preto e branco ou a cores, mas ao que parece todos nós sonhamos... sonhar acordado existirá? Não me parece, será talvez fantasiar?

    Mas se para Freud o sonho é apenas a satisfação de desejos reprimidos, assim muito sinteticamente, gosto mais da interpretação de Carl Jung, que diz que os sonhos são "mensageiros", são manisfestações não falsificadas da actividade criativa inconsciente.
    "Dentro de cada um de nós há um outro que não conhecemos. Ele fala connosco por meio dos sonhos"
    Carl Jung

    Que frase reveladora, não lhe parece Sr. Prfessor?

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  4. As teses sobre os sonhos são fascinantes, um misto de ciência e superstição, o mistério ainda insondável da nossa mente.
    Há tempos telefonou-me uma pessoa que era amiga de infância, mas que perdi completamente de vista há mais de 20 anos. A razão do telefonema é que tinha sonhado comigo e era sua absoluta convicção de que quando se sonha com alguém tem que se falar com ela, sem o que se provoca a ira dos deuses!Deu-lhe algum trabalho procurar o meu paradeiro, sabia vagamente o meu nome de casada, enfim, levava a sério a tal crença. E pronto, lá fui ao almoço, fiquei deprimida com as evidências do peso dos anos mas acabou por ser um acontecimento muito divertido porque "aprendi" imensas coisas sobre os sonhos,vou mandar-lhe agora este belo post como contributo valioso para um interessado no tema.:)

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  5. Cara Suzana,
    Felicito-a pela história, é tocante...
    Eu pessoalmente sofro de um grave problema, não sei qual a operadora, fixa ou móvel (TMN, Vodafone, Optimus) que consiga estabelecer ligação com o meu sonho!
    Não há rede, bateria, telemóvel 3G, 4G que resista!

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