A preocupação com a liberdade não é de hoje, e, apesar de todas as conquistas entretanto verificadas, é fácil identificar muitos atropelos a um dos principais pilares da condição humana.
Entre nós, começam a surgir evidências ou, no mínimo, suspeitas de controlo da liberdade de imprensa. O que é certo é que as pessoas encolhem-se cada vez mais, sempre que desejam exprimir os seus pensamentos, com receio de virem a ser objecto de vários tipos de represálias. Até a própria justiça entra neste fandagar, ao dar razão a certas queixas, facto que não deixa de nos espantar, porque acabar nas mãos da justiça – mesmo que sejamos absolvidos - pode ser um tormento capaz de provocar úlceras de stress e muito mais!
Mas, apesar de tudo, nada se compara com as notícias que vêm lá de fora. Vejam-se certas proibições tradutoras de verdadeiras formas de terrorismo, impensável no mundo moderno.
O presidente iraniano deu um beijo na mão, ou melhor, na luva, de uma senhora de idade, encasacada, e foi logo criticado pelo beijo “indecente”! A senhora tinha sido a sua professora primária e o acto em si revela respeito e ternura por quem lhe ensinou as primeiras letras. A crítica chegou ao ponto de ser considerada uma “acção contrária à lei islâmica (sharia). Os teólogos daquelas bandas, que permitem que um homem possa casar com várias mulheres, e que chegam a oferecer um batalhão de virgens no paraíso a quem mostrar pressa em lá chegar, por exemplo, através de suicídios religiosos, são mentores de formas de terrorismo que cerceiam a liberdade humana.
Mas esta forma de atentado à liberdade, sob a capa de princípios religiosos, não é apanágio daquelas bandas, porque na Irlanda, a uma jovem de 17 anos, grávida e portadora de um feto com graves anomalias, anencefalia, malformação cem por cento fatal nas primeiras 48 horas após o parto, foi-lhe negada a possibilidade de ir ao Reino Unido para abortar. Como é sabido, na República da Irlanda, é proibido o aborto, mesmo nestas circunstâncias! De acordo com a notícia, a adolescente está à guarda do serviço de saúde irlandês!, melhor seria dizer que está “detida” por um serviço que deveria respeitar a saúde dos cidadãos e não castigá-la de forma a perigar a sua saúde. Em qualquer pais civilizado (não esquecer que mesmo entre nós, antes da actual alteração à legislação da lei do aborto, já era permitida a solução deste grave problema) esta situação já teria sido resolvida.
Afinal, o direito à liberdade e ao respeito pela dignidade humana carecem de muitas lutas e combates, de modo a eliminar certos “princípios” que se revelam perniciosos, traduzindo fortes interesses capazes de controlar as leis ou comportando-se como tal.
Parece que o assunto foi parar ao Supremo Tribunal de Dublin. Esperemos que a decisão de conceder o direito à jovem de viajar livremente para fora do território irlandês seja dada o mais rapidamente possível.
Esperemos...
Entre nós, começam a surgir evidências ou, no mínimo, suspeitas de controlo da liberdade de imprensa. O que é certo é que as pessoas encolhem-se cada vez mais, sempre que desejam exprimir os seus pensamentos, com receio de virem a ser objecto de vários tipos de represálias. Até a própria justiça entra neste fandagar, ao dar razão a certas queixas, facto que não deixa de nos espantar, porque acabar nas mãos da justiça – mesmo que sejamos absolvidos - pode ser um tormento capaz de provocar úlceras de stress e muito mais!
Mas, apesar de tudo, nada se compara com as notícias que vêm lá de fora. Vejam-se certas proibições tradutoras de verdadeiras formas de terrorismo, impensável no mundo moderno.
O presidente iraniano deu um beijo na mão, ou melhor, na luva, de uma senhora de idade, encasacada, e foi logo criticado pelo beijo “indecente”! A senhora tinha sido a sua professora primária e o acto em si revela respeito e ternura por quem lhe ensinou as primeiras letras. A crítica chegou ao ponto de ser considerada uma “acção contrária à lei islâmica (sharia). Os teólogos daquelas bandas, que permitem que um homem possa casar com várias mulheres, e que chegam a oferecer um batalhão de virgens no paraíso a quem mostrar pressa em lá chegar, por exemplo, através de suicídios religiosos, são mentores de formas de terrorismo que cerceiam a liberdade humana.
Mas esta forma de atentado à liberdade, sob a capa de princípios religiosos, não é apanágio daquelas bandas, porque na Irlanda, a uma jovem de 17 anos, grávida e portadora de um feto com graves anomalias, anencefalia, malformação cem por cento fatal nas primeiras 48 horas após o parto, foi-lhe negada a possibilidade de ir ao Reino Unido para abortar. Como é sabido, na República da Irlanda, é proibido o aborto, mesmo nestas circunstâncias! De acordo com a notícia, a adolescente está à guarda do serviço de saúde irlandês!, melhor seria dizer que está “detida” por um serviço que deveria respeitar a saúde dos cidadãos e não castigá-la de forma a perigar a sua saúde. Em qualquer pais civilizado (não esquecer que mesmo entre nós, antes da actual alteração à legislação da lei do aborto, já era permitida a solução deste grave problema) esta situação já teria sido resolvida.
Afinal, o direito à liberdade e ao respeito pela dignidade humana carecem de muitas lutas e combates, de modo a eliminar certos “princípios” que se revelam perniciosos, traduzindo fortes interesses capazes de controlar as leis ou comportando-se como tal.
Parece que o assunto foi parar ao Supremo Tribunal de Dublin. Esperemos que a decisão de conceder o direito à jovem de viajar livremente para fora do território irlandês seja dada o mais rapidamente possível.
Esperemos...
Eu esperava a esta hora uma caixa repleta de mensagens a felicitar este excelente post, mas não...
ResponderEliminarFica o meu: É um excelente post, caro Professor, e-x-c-e-l-e-n-t-e!
Só por este post valia a pena existir um 4-R.
ResponderEliminarÉ... os irlandeses são umas excelentes pessoas mas, são um bocadinho avariados.
ResponderEliminarParabéns pelo post, Prof. MC. :)
Sobretudo nas sociedades do norte de áfrica e médio oriente, totalmente dependentes dos preceitos religiosos fundamentalistas e radicais, encontram-se atitudes que vistas à luz da cultura social europeia, parecem completamente desajustadas, sobretudo porque limitam as liberdades e os direitos humanos.
ResponderEliminarCaro Prof. Massano Cardoso, sou totalmente cúmplice das opiniões que tão humanisticamente nos apresenta.
Não vejo porem, modo de este panorama se alterar, menos ainda de um dia se chegar a aproximar dos padrões europeus. Sabemos perfeitamente que cada sociedade possui características próprias, muitas delas ancestrais e inalteráveis. O unico modo que eu imagino pudesse alterar esta realidade, teria de passar forçosamente pela renovação completa das pessoas e respectivas mentalidades. Para que essa alteração fosse possível, seria necessário que toda a gente morresse, fosse reprogramada e renascesse. Isso seria utopico, absolutamente irreal. Resta-nos, salvo melhor opinião, entender, aceitar e respeitar a determinação daquelas pessoas que decidem seguir as leis da sociedade em que nasceram e com que se identificam, cultural, social e religiosamente.
Oh meu caro, o Professor fala exactamente de um caso num país com "padrões europeus"!
ResponderEliminarÉ logo o aproveitanço para bater no ceguinho, chiça...
Concordo em absoluto, este post é excelente, da primeira à última linha.E só o digo agora porque acabei neste instante de o ler.
ResponderEliminarÉ extraordinário e revoltante ver como se encontram "justificações" para actos que são tão brutais ou absurdos como outros que, noutros azimutes,e só aparentemente diferentes, se consideram intoleráveis ou primitivos.
Obrigada, Prof. Massano, por alinhar estes exemplos,evidenciando o que poderia passar menos claro.
Soubémos hoje, dia 10, que afinal os tribunais decidiram deixá-la sair da Irlanda porque "não há nada na Constituição que proiba as pessoas de sair do país". Vá lá, pelo ainda não há prisões preventivas para a intenção!
ResponderEliminarExcelente, meu caro professor!!! Conheço um caso exemplar do que acabou de dizer:
ResponderEliminarUm ex-tudo na vida: Ex-dirigente do Ministério da Educação, ex-deputado da AR, ex-seu colega de bancada, actual membro do Conselho Nacional de Educação, foi suspenso preventivamente pela Directora Regional de Educação do Norte, foi-lhe instaurado processo disciplinar
com participação ao Ministério público por ter chalaceado , dentro de um gabinete, a um colega de trabalho, leia-se informador, a propósito do caso Sócrates.
O crime de opinião volta a estar na ordem do dia, a censura mostra agora as garras,o terror campeia, a boca calada é imposta pelo temor de processos disciplinares, os informadores pululam, e a Administração sente-se segura e livre de "opositores" ao Governo. Isto passa-se. Acabei de lhe contar a minha história.
Um abraço
Fernando Charrua
Caro amigo Fernando Charrua
ResponderEliminarPode ser ex- muita coisa, mas pode estar certo que os amigos nunca passarão a ser ex-.
Conte comigo.
Um forte abraço
Salvador Massano Cardoso
Caro Fernando:
ResponderEliminarUm abraço amigo de amizade e solidariedade.
Embora noutro contexto, fiz há dias um post sobre a delação.
Pois a delação aí está, em todo o seu esplendor, agora a propósito de ums graças que se dizem. A delação e o espírito inquisitorial...