Já repararam que Lisboa está mais bonita? São os jacarandás floridos, com as suas vistosas copas em tons lilases, plantadas em jardins, praças e pracetas, avenidas e ruas, um pouco por toda a cidade. Quem não aprecia a beleza desta pintura?
Lisboa fica mais humanizada, doce, charmosa, colorida e repousante quando os seus jacarandás, salpicados aqui e ali, desabrocham entre a Primavera e o Verão.Com este espectáculo, ficamos mais sensibilizados para o contributo único das árvores, das flores e dos jardins para a qualidade de vida nas cidades.
Deveríamos dar maior atenção às zonas verdes de Lisboa. A minha preocupação por Lisboa, porque conheço melhor, é extensiva, naturalmente, às outras cidades. As zonas verdes embelezam e refrescam as cidades, respiram saúde, humanizam o ambiente e convidam a uma maior fruição do espaço público.
Infelizmente, temos vindo a assistir em Lisboa, desde há muito, a uma degradação generalizada dos seus jardins, alguns deles verdadeiras obras de arte, ao abate em escala de árvores, algumas delas centenárias, e, também, à construção de edifícios e de infra-estruturas urbanas despidas de espaços verdes.
Os nossos jacarandás são um património valioso que reflecte um tempo de muito bom gosto. Desfrutemos, pois, da sua envolvente...
Sobre a árvore... de Luis Vaz de Camões...
ResponderEliminarÁrvore, cujo pomo, belo e brando,
natureza de leite e sangue pinta,
onde a pureza, de vergonha tinta,
está virgíneas faces imitando;
nunca da ira e do vento, que arrancando
os troncos vão, o teu injúria sinta;
nem por malícia de ar te seja extinta
a cor, que está teu fruito debuxando.
Que pois me emprestas doce e idóneo abrigo
a meu contentamento, e favoreces
com teu suave cheiro minha glória,
se não te celebrar como mereces,
cantando-te, sequer farei contigo
doce, nos casos tristes, a memória.
E... acerca da cidade, de Sophia de Mello Breyner Andresen...
ResponderEliminarCidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.
Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarQue bonitas escolhas. Luis de Camões, com o seu lindíssimo hino; Sofia de Mello Breyner com a sua cidade decepcionante. Faltam-lhe os jacarandás...
Para que o hino de Camões fosse épico, sem que o fosse :) foi necessário que existisse o olhar decepcionante de Sophia.
ResponderEliminar(Brincando com as palávras, mas não com as ideias)
Partilho inteiramente do que dá nota no post, Margarida.
ResponderEliminarE que bela foto!
Margarida, ainda bem que "fixou" a Primavera através desta bela fotografia. Todos os dias me maravilho com o lilás das ruas e jardins, num prazer renovado que não cansa, mesmo quando tenho que sacudir as flores que cobrem o meu carro ao fim da tarde!...
ResponderEliminar