Há dois anos, um colega epidemiologista publicou um estudo muito interessante. Seleccionou e analisou um conjunto de 45 trabalhos clínicos mais citados nos 15 anos precedentes, tendo concluído que 99 por cento da pesquisa molecular e 25 por cento da robustez da investigação clínica tinham sido subsequentemente refutadas. Realce também para o facto de quatro em cinco dos achados epidemiológicos terem sido, igualmente, postos em causa. Estes resultados dizem alguma coisa. Não esquecer que são dados relativamente aos estudos mais citados!
A ciência tem destas coisas. Não é dogmática, e por isso não podemos considerá-la como verdade absoluta. No caso vertente, são muitas as causas para explicar tamanhas divergências; além de não se replicarem os estudos, existem múltiplos vieses que vão da publicação aos interesses dos peer-review, passando pelas influências económicas inerentes à indústria patrocinadora. Estudos recentes revelam que o financiamento da indústria é acompanhado de resultados mais favoráveis.
Em ciência a sedimentação do conhecimento é um processo muito lento e complexo. Por este motivo, o mediatismo ao redor de novas "descobertas" exige cuidados. Mas não é isso que verificamos no dia a dia. A forma como são anunciados certos estudos, nomeadamente na área alimentar, acabam por colocar muitos produtos nos altares. Chocolate, iogurtes, azeite, pão, vinho, cerveja, peixes, águas minerais, entre muitos outros, são referidos como tendo propriedades medicinais. Admiro-me não ter visto ainda publicitado a chouriça, a morcela ou o queijo da serra como tendo propriedades terapêuticas, mas é uma questão de tempo. Basta dizer que o porco foi alimentado com ómega 3, ou que foi introduzido algum gene especifico nas cabras para poderem garantir que o resultado final está ai à vista: “alimento mais saudável não há”!
Muitas pessoas são altamente crédulas ao ponto de acreditar que determinados produtos são mesmo bons para a saúde, desde que esteja “comprovado cientificamente”!
O Júri de Ética do Instituto Civil da Autodisciplina da Publicidade classificou como “enganosa” parte da informação publicitária relativa a certos produtos" que grassam entre nós, ao ser realçado algumas propriedades terapêuticas.
Há tempos tentei encontrar os trabalhos científicos de alguns produtos, sobretudo águas que "não têm calorias"! e que “emagrecem”, ou que "ajudam a converter a gordura em energia", por exemplo. Mas nada!
Alguns dos proprietários desses produtos alimentares, que são rotulados como nutracêuticos, afiançam que há evidências científicas.
Voltando ao estudo de John de Ionnidis, com que iniciámos este razoado, em que foram analisados estudos científicos de peso, é fácil de concluir que a dita “cientificidade" dos nutracêuticos deixa muito a desejar, contribuindo para o descredibilizar da ciência e para o enriquecimento menos "ético" de muitos operadores industriais. Clientela não falta. O que falta é uma regulamentação e informação adequadas.
Uma coisa é certa, pelo menos para mim: recuso a aceitar que transformem os alimentos e bebidas em nutracêuticos. São alimentos e basta. A forma como os utilizamos é que faz a diferença entre “fazer bem ou mal”. Quanto ao resto, balelas...
A ciência tem destas coisas. Não é dogmática, e por isso não podemos considerá-la como verdade absoluta. No caso vertente, são muitas as causas para explicar tamanhas divergências; além de não se replicarem os estudos, existem múltiplos vieses que vão da publicação aos interesses dos peer-review, passando pelas influências económicas inerentes à indústria patrocinadora. Estudos recentes revelam que o financiamento da indústria é acompanhado de resultados mais favoráveis.
Em ciência a sedimentação do conhecimento é um processo muito lento e complexo. Por este motivo, o mediatismo ao redor de novas "descobertas" exige cuidados. Mas não é isso que verificamos no dia a dia. A forma como são anunciados certos estudos, nomeadamente na área alimentar, acabam por colocar muitos produtos nos altares. Chocolate, iogurtes, azeite, pão, vinho, cerveja, peixes, águas minerais, entre muitos outros, são referidos como tendo propriedades medicinais. Admiro-me não ter visto ainda publicitado a chouriça, a morcela ou o queijo da serra como tendo propriedades terapêuticas, mas é uma questão de tempo. Basta dizer que o porco foi alimentado com ómega 3, ou que foi introduzido algum gene especifico nas cabras para poderem garantir que o resultado final está ai à vista: “alimento mais saudável não há”!
Muitas pessoas são altamente crédulas ao ponto de acreditar que determinados produtos são mesmo bons para a saúde, desde que esteja “comprovado cientificamente”!
O Júri de Ética do Instituto Civil da Autodisciplina da Publicidade classificou como “enganosa” parte da informação publicitária relativa a certos produtos" que grassam entre nós, ao ser realçado algumas propriedades terapêuticas.
Há tempos tentei encontrar os trabalhos científicos de alguns produtos, sobretudo águas que "não têm calorias"! e que “emagrecem”, ou que "ajudam a converter a gordura em energia", por exemplo. Mas nada!
Alguns dos proprietários desses produtos alimentares, que são rotulados como nutracêuticos, afiançam que há evidências científicas.
Voltando ao estudo de John de Ionnidis, com que iniciámos este razoado, em que foram analisados estudos científicos de peso, é fácil de concluir que a dita “cientificidade" dos nutracêuticos deixa muito a desejar, contribuindo para o descredibilizar da ciência e para o enriquecimento menos "ético" de muitos operadores industriais. Clientela não falta. O que falta é uma regulamentação e informação adequadas.
Uma coisa é certa, pelo menos para mim: recuso a aceitar que transformem os alimentos e bebidas em nutracêuticos. São alimentos e basta. A forma como os utilizamos é que faz a diferença entre “fazer bem ou mal”. Quanto ao resto, balelas...
Eu confesso que até tenho medo de olhar para a ficha técnica, sinto, assim, aquele friozinho na barriga, de me sentir ainda mais enganada!
ResponderEliminarMuitos desses produtos utilizam outra estratégia, que é a do "testado cientificamente", acredito que até tenha sido testado, mas isso não nos diz nada, relativamente ao resultado do teste, se efectivamente o consumo desse alimento é ou não benéfico para a saúde, é como fazer o teste de álcool e não saber o resultado, estou-me a lembrar dos yogurtes com L casei Imunitass, publicidade enganosa!
Mas eu sou uma ignorante nestes assuntos!
Este post é uma lufada de ar fresco nas nossas preocupações do dia-a-dia para alimentar a família! Moderação e variedade, parece-me uma coisa bem sensata, numa altura em que é quase preciso fazer uma conferência prévia antes de preparar o almoço, porque há sempre alguém bem informado que não tempera a salada, outro que não come sal, outro que não prova carne, outro que nem ver peixinho alimentado a ração. E também já notei que começaram as esquisitices com as marcas da água de garrafa, tomei uma decisão drástica e agora quem quiser vai buscar à torneira!
ResponderEliminarÉ assim mesmo, Suzana!
ResponderEliminarLembro-me que o meu filho mais velho tomava pingos de fluor por causa dos dentes. O mais novo, 4 anos depois, já não toma porque se descobriu que o fluor ingerido não serve para nada.
ResponderEliminarAquilo que me dá a parecer de fora é que, enquanto ciência, a medicina é muito frágil por ser pouco "matematizável" e viver muito de estudos estatísticos que terão muita validade se as variáveis independentes forem perfeitamente identificadas. Como esta identificação pode ser a verdadeira descoberta em si...
Mas temos que nos lembrar que a medicina é, simultaneamente, uma engenharia que tem que ser aplicada em cada instante independentemente da melhor ou menor valia do conhecimento nesse instante. Por isso, ainda visto de fora, os pingos do meu filho mais velho foram bem aplicados, como os não pigos do meu filho mais novo também o foram.
Quanto à charlatanice dos milagres alimentares, acho que quem os consome deve pagar bem por eles. Ao contrário do voto, quem quer mesmo ser enganado só se prejudica a si mesmo.
Caro Tonibler
ResponderEliminarO flúor até servia. O problema está nos riscos de intoxicação resultante do seu emprego.
Quanto ao facto de a medicina não ser “matematizável” não é bem assim. Hoje, os métodos matemáticos são cada vez mais utilizados. É certo que é muito difícil controlar todas as variáveis, nomeadamente as de “confundimento”, porque muitas vezes as desconhecemos. De qualquer modo, a diferença entre “hoje” e um passado recente é abismal.
Gostei da do “voto”...