segunda-feira, 16 de julho de 2007

Sopram ventos fortes e o horizonte está nublado


Tem o seu quê de exótico ir à praia em pleno mês de Julho com blusão e camisola, parece que estamos na Escócia ou nas escarpas agrestes da Normandia! Não deixa de ser estranho estar de férias de Verão e ver as praias desertas, meia dúzia de toldos, imenso espaço para arrumar o carro, pouca gente a passear nas ruas.
O pior é que ainda por cima começou a chover mal desdobrei o jornal na areia, se amanhã me der outra vez para fingir que é tempo de praia, tenho que ir de gabardine e galochas...
A parte boa desta baralhação climática é que o tempo rende muito mais, fica-se a ler horas a fio, a conversar se nos der a inspiração ou a fazer mil coisas que nem nos lembramos que existem durante a correria do ano inteiro, como ir passear a pé, sem pressas, ir ver montras sem ter que comprar nada ou mesmo passar no mercado para cumprimentar as velhotas que têm a banca dos legumes e da fruta.
Além disso posso beneficiar de um luxo muito raro, que resulta de ter tirado férias na altura em que a fruta de Verão está já madura nas (duas!) árvores, por isso posso ir apanhá-la quando me apetece. Este ano foi muito abundante, o alpercheiro deu mais de uma centena de alperces e a ameixieira a mesma coisa. Quando cá cheguei há dias havia um monte de ameixas no chão, tantas que tive que fazer compota, tal como já tinha feito com os alperces. Este doce biológico, de primeira qualidade e pouca quantidade, destina-se à exportação, para mercados seleccionados resultantes do movimento emigratório das jovens nacionais cá de casa. Não terei assim ocasião de competir com o caro Pinho Cardão, cujas uvas prometem ser em tanta quantidade que foram generosamente destinadas a todos os que tivessem elogiado os seus posts...(lembram-se?)
Apesar das brumas e do ambiente bucólico (ah, esta aurea mediocritas!) ainda não consegui deixar de ver televisão, ler jornais e ouvir notícias, tal é o bulício político que vai aí pela capital!
Parece que não é só no campo que sopram ventos fortes e o horizonte se mantém muito carregado de nuvens...

8 comentários:

  1. Oh Suzana, ao ler que não consegue deixar de ver televisão, etc, lembrei-me logo do Jacinto que não conseguia esquecer Paris e depois se rendeu aos encantos de Tormes. Não demorará muito, penso eu.
    Quanto a mim, já me vou esquecendo que há telejornais; e quando vejo um, logo fico vacinado por uns tempos.
    Como sabe, tive que abandonar temporariamente a agricultura, actividade de verdadeiro risco, sobretudo quando se utilizam escadas para colher fruta e quem é recolhido na queda é o próprio. Verifico agora que as canadianas são algo incompatível com tal actividade. Mas não me fazem esquecer da promessa. Só que ela só produziria efeito em duas condições:se os meus posts fossem elogiados e se os enxertos pegassem. Ora este é um investimento de médio prazo, pelo que ainda é cedo para ver se deles resulta ou não o cumprimento da promessa.Oxalá que sim!...

    ResponderEliminar
  2. Suzana
    Os ventos fortes que sopram e as nuvens que carregam o horizonte aqui para os lados de Lisboa resultaram num Domingo de baixas temperaturas! Mas a subida dos termómetros não tardou a começar...
    Aproveite a praia e o campo, saboreie a fruta sem químicos, trate carinhosamente das suas rosas, leia muito – tudo menos política – e não veja muita televisão. Quando regressar à capital a procissão, quero eu dizer, o rescaldo das eleições, ainda vai no adro... Virá muito a tempo...
    Continuação de boas férias!

    ResponderEliminar
  3. Pinho Cardão, nada de desculpas, promessas são promessas, os elogios, se bem que muito merecidos, não têm faltado. Venham as uvas, que a qualidade dos enxertos não pode ser posta em causa, sabendo nós que mão sábia os guiou (sob a sua orientação técnica, admito, mas ainda assim vão vingar :)Espero que deixe essas canadianas bem depressa, isso é uma mazela de guerra que só fica bem a um agricultor. Eu sou mais prudente, marco férias na altura em que os frutos caem de maduros, não corro riscos inúteis (só nas férias, claro!).
    Margarida, tem razão, há que ler e tratar das rosas, já que com esta chuva nem é preciso regar,o Outono promete ser emocionante! Está mesmo a pedir uma tertúlia, não acha?

    ResponderEliminar
  4. A propósito de frutos que não foram "atacados" pelos produtos químicos, recordei-me de um personagem que conheci ha uns anos, não muitos, numa aldeia do concelho de Niza, chamada Aldeia de Chão da Velha. Nessa época ainda era adepto do turismo rural, prazer que abandonei, desde que passei a residir no campo. O personagem de quem me recordei chama-se (chamava-se, não sei se ainda é vivo) João Louro e tinha a provecta idade de 92 anos. Conheci-o quando passeava por um caminho dos arredores da aldeia e ele guardava, não longe do caminho, um pequeno rebanho de cabras. Confesso que a primeira imagem do João Louro, fez-me suspeitar de uma pessoa com disturbios mentais, magro,barrete de lã na cabeça e chapeu de aba por cima do barrete e maços de papeis a encher os bolsos do casaco. Quando ele se medirigiu, esbocei um sorriso amistoso, mas não detive o passo. Porém, perante a insistência dele, acabei por parar. Por constatar que eu era de fora da terra, quis saber qual a minha origem. De Lisboa, respondi. Ah então o senhor veio para uma das casas do turismo? Foi isso precisamente, respondi-lhe. Muito bem e como é a sua graça? Alto lá, pensei com os meus botões, o homem afinal não me parece ser completamente louco. E conversa puxa conversa, acabei por conhecer o trajecto quase completo da vida daquele homem. Sempre trabalhou no campo, e desde novo que tocava concertina, com que em tempos animava os bailes pelas redondezas. Era analfabeto, mas lia. É verdade. Era analfabeto mas lia e disse-me isso com um sorriso gaiato a inundar-lhe o rosto, escancarando uma boca onde espreitavam uns 2 ou 3 dentes.
    Esta declaração do João Louro fez-me esquecer o tempo e a intenção de continuar o passeio e pedi-lhe que me explicasse esse prodígio. Então de uma forma muito clara e simples explicou-me que nunca tinha ido à escola, tal como a quase totalidade das crianças do tempo dele, mas desde sempre sentiu uma vontade imensa de aprender a ler. Então, sempre que ia à vila, ao mercado, ou às festas, chegava-se a quem estivesse a ler o jornal, ou outra coisa qualquer e perguntava que palavra era aquela. Note, não perguntava como se lia, mas sim como se dizia, e foi assim que o nosso amigo João Louro, decorou a forma das palavras. Levava na minha bagagem um livro que ofereci depois ao João Louro. Foi como se tivesse oferecido o doce mais saboroso a uma criança. Bom, a propósito da fruta e dos "venenos" com que se perfumam, recebi pela primeira vez do João Louro, um ensinamento valioso. Diz-me ele: Olhe, quando for ao mercado comprar fruta, nunca escolha aquela que estiver mais bonita, escolha a que estiver bichosa!
    Hum?
    Òh Sr. João, a que estiver bichosa?
    Explique-me lá isso por favor.
    Então, está bom de ver, se a fruta estiver bonita é porque nem o bicho gostou dela... e com um olhar maroto, rematou, é como as mulheres, sabe? Se a mulher for muito bonita e não tiver homem, é porque tem um defeito qualquer...
    Ok, meu amigo João Louro, pode ser que seja, fiquemo-nos pela fruta que apesar de tudo parece-me conter alguma lógica.

    ResponderEliminar
  5. Bela história e muito prudente conclusão!...

    ResponderEliminar
  6. Cara Suzana:
    Os enxertos v�o vingar, apesar da minha orienta�o t�cnica?
    Ai, quando a apanhar...n�o sei!...

    ResponderEliminar
  7. Querida Suzana,
    Espero que essas férias estejam a ser tão deliciosas como as compotas devem estar!!... Não se esqueça de reservar um frasquinho para a sua filha emprestada... se fôr preciso, emigro para poder levar comigo tão precisa guloseima!...
    mil beijinhos com saudades
    c
    (peça o meu número às meninas, que gostei tanto da ideia de uma tertúlia com conversas e histórias interessantes como estas que estou a considerar imiscuir-me!!)

    ResponderEliminar
  8. Já com uns dias de atraso na resposta, mas não resisto aos belos comentários que aqui encontrei. Isto de estar de férias não é só vantagens, como se prova por estar há já uns dias sem vir visitar a 4r!
    Caro Bartolomeu, a fruta com lagartas é um bocado difícil de comer, mas a que está bicada dos pássaros é de longe a melhor! Eu fico logo com essa, é uma vantagem a família citadina confundir podre com bicadas...
    Olá Olívia, grande desnaturada, tu não estás emigrada mas é a mesma coisa, não te ponho a vista em cima! Se um docinho te pode trazer ao redil, já cá está à tua espera!, mas não demores, olha que lhe dou destino! Um beijinho até breve!!:)
    Caro pinho Cardão, o meu amigo deixe-se de ameaças e traga mas é as uvas, ninguém lhe vai fazer perguntas perante uma cesta farta...;)

    ResponderEliminar