Ontem foi uma tarde quente. Estava eu a entrar no carro, quando vi um rapaz já espigado, aí dos seus quinze anos, calças coçadas e rotas de marca e origem, atravessar o pequeno jardim em frente, despir a camisa e tentar desesperadamente rasgar uma parte do tecido, mantendo o ritmo da passada, sem moderar o andamento. O tecido resistiu e o rapaz abrandou a marcha. Curioso, sentei-me no carro e fiquei a observar a cena.
Acabou por parar, continuando com ganas redobradas a forçar o tecido, que acabou por ceder às investidas. Vi então que tinha arrancado uma das mangas da camisa, à altura do ombro. Amachucada e metida a excrescência no bolso, mas com um bom rabo de fora, logo empreendeu rasgar a segunda manga, tarefa que se revelou um pouco mais fácil, dada a experiência obtida, o que até fez já em andamento, embora lento. Retirada a outra sobra do bolso, dirigiu-se calmamente a um renque de buxo, ali mesmo à mão de semear, olhou à volta e enfiou as tiras para o interior dos arbustos.
Vestiu então a camisa nova, repuxou-a em vários ângulos com todo o esmero até lhe assentar a contento, mirou os ombros e o peito, rapou de um telemóvel para fazer ou atender uma chamada e afastou-se em passo rápido, com ar de enorme satisfação.
Compreendi a satisfação, pois assim o traje começava a condizer: calças rotas da moda e camisa esfrangalhada. Coisa obtida até de maneira fácil. A namorada e os amigos por certo elogiaram a arte.
Mas quando a cabeça não é boa e a arte não é capaz de suplantar as dificuldades, normalmente o corpo é que paga.
Acabou por parar, continuando com ganas redobradas a forçar o tecido, que acabou por ceder às investidas. Vi então que tinha arrancado uma das mangas da camisa, à altura do ombro. Amachucada e metida a excrescência no bolso, mas com um bom rabo de fora, logo empreendeu rasgar a segunda manga, tarefa que se revelou um pouco mais fácil, dada a experiência obtida, o que até fez já em andamento, embora lento. Retirada a outra sobra do bolso, dirigiu-se calmamente a um renque de buxo, ali mesmo à mão de semear, olhou à volta e enfiou as tiras para o interior dos arbustos.
Vestiu então a camisa nova, repuxou-a em vários ângulos com todo o esmero até lhe assentar a contento, mirou os ombros e o peito, rapou de um telemóvel para fazer ou atender uma chamada e afastou-se em passo rápido, com ar de enorme satisfação.
Compreendi a satisfação, pois assim o traje começava a condizer: calças rotas da moda e camisa esfrangalhada. Coisa obtida até de maneira fácil. A namorada e os amigos por certo elogiaram a arte.
Mas quando a cabeça não é boa e a arte não é capaz de suplantar as dificuldades, normalmente o corpo é que paga.
Depois, a sociedade e o estado é que levam com as culpas. O próprio é sempre uma vítima!...
Caríssimo Pinho Cardão, boa tarde outra vez!
ResponderEliminarDeixei-te um pedido aí em baixo e, desculpa, mais uma vez o abuso, coloco-te agora outro: Que pensas da resposta de Teixeira dos Santos ao Diário Económico (Helena Garrido) acerca das deduções fiscais por despesas de saúde?
E que pensas do parecer de Vital Moreira acerca do mesmo assunto no Causa-Nossa?
PS - Quanto a este assunto da roupa velha não me parece mal. É a reduzir que se tende para o nulo. Um dia a malta vai andar em pêlo. No Verão, para que precisamos de roupas?
Meu caro : A cada geração o seu paradigma
Pois é Dr. Pinho Cardão, uma notícia que à partida, nos coloca um sorriso nos lábios, mais pelo insólito que própriamente pelo que de cómico contem, revela-nos que se estão a verificar melhoras no seu tendão de Aquiles, uma vez que já conduz.
ResponderEliminarEste seu relato, lembrou-me o famoso "Metamophosis", de Franz Kafka, em que o personagem Gregor, acorda uma bela manhã, transformado num insecto gigante, o que vai alterar radicalmente a sua vida.
Vai ver, o "seu" rapaz determinou que aquele era momento ideal para se metamorfosear, quem sabe a namorada, tinha manifestado algum agrado por um "ar" menos formal?
Não diz o ditado que por trás de um grande homem, está sempre uma grande mulher?
O contrário tb é válido certamente.
:))))
Caro Dr. Pinho Cardão
ResponderEliminarMas que "filme" mais estranho! Só visto porque contado ninguém acreditaria!
O que terá levado o rapazinho a deitar fora umas mangas de camisa, assim tão desabridamente e tratando-as de uma forma tão desprezível!?
Com um pouco de "cabeça", acho eu, porque a vida está cara, e então quando se veste roupa de marca nem se fala, o rapaz poderia ter guardado, muito bem guardadas, as mangas. Afinal sempre poderiam voltar à função para que foram confeccionadas, para fazer face a uma nova situação que exigisse uma apresentação mais apresentável!
Será que, como presume o nosso Bartolomeu, por trás daquele pequeno desvario está uma mulher que exige mangas à cava?
Até tem a sua graça...
Caro Rui:
ResponderEliminarVou ver se encontro o artigo na Internet e depois comentarei. De qualquer forma, parece-me que já apreendi o sentido, lendo o post de VM.E direi alguma coisa.
Caro Bartolomeu:
Não posso guiar ainda, infelizmente. Quem guiava o carro era a minha mulher, que faz gala em sublinhar a minha dependência!...
Ao que eu cheguei!...
Não se lamente, Pinho cardão, está-me até a parecer que o meu amigo está a prolongar essa "dependência" para poder passear os olhos à vontade pelas curiosidades que se lhe deparam :)Até vai estranhar quando deixar as canadianas - espero que depressa, embora o 4r perca em episódios divertidos como o que contou. Mas concordo com a Margarida, o rapaz podia ao menos ter guardado as mangas para quando voltasse a ser moda! Estes jovens só pensam no imediato...
ResponderEliminarE então as histórias de Angoulème, cara Suzana?
ResponderEliminarCaro Rui.
ResponderEliminarNão consegui ler o artigo. Mas, pelo que li do que me referiste, ou seja, a opinião de VM, creio que o ministro abordou as deduções fiscais relativamente às despesas de saúde e a ADSE.
Sobre as deduções fiscais das despesas de saúde, é claro que estou a favor. Caso fossem eliminadas, é seguríssimo que ainda iríamos pagar mais impostos.
Quanto ao corte da ADSE:sei que a despesa pública tem que ser cortada e sei que também não deve ser cortada à balda. No Ministério das Finanças estão fartos de saber onde. Só que não há vontade e o aumento de impostos vem suportando a inércia. Querias que dissesse que era na ADSE? É pena...mas não estou encarregado de fazer um programa de governo, nem sou executivo!... Como tal, limito-me à estratégia:corte-se. Onde? Exige a resposta ao Governo, não a mim!...
Estou certo que se a Giovanni Gali lê este artigo, não tardam a surgir novas linhas de camisas...
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