Dr. Sabichão
cogita, cogita,
Mas entra em acção
Mas entra em acção
e fá-la bonita!
(Banda desenhada Doutor Sabichão, na revista O Papagaio (1936)
(Banda desenhada Doutor Sabichão, na revista O Papagaio (1936)
Este fim de semana dediquei-me a recuperar umas cadeiras atacadas pelo bicho e lembrei-me de como o meu pai era capaz de compor tudo o que se avariava.
Dotado de extraordinária habilidade e imaginação, nunca recorria a estranhos para arranjar fosse o que fosse, pelo menos até à era da electrónica. Não havia ferro de engomar, secador de cabelo, ou telefonia que ele não tivesse esventrado para lhe desvendar o mistério da avaria. Excepto uma vez, em que a televisão explodiu depois da substituição de uma peça, saía-se sempre bem, e mesmo dessa vez houve a atenuante de ser a primeira televisão a cores…Também arranjava as mobílias, os candeeiros, os brinquedos e, mais tarde, as mil e uma encrencas que havia com os automóveis. Acabou por ter uma oficina de faz-tudo na arrecadação, onde se dedicava também a inventar ou construir as mais variadas coisas, tendo mesmo registado duas ou três patentes.
O problema era que ele tinha dificuldade em entender a falta de jeito dos outros, que qualificava invariavelmente de aselhas, especificando depois os diferentes graus de inépcia que cada um revelava.
Assim, havia os aselhas básicos, incapazes de resolver avarias sem ajuda; os aselhas mestres, que davam palpites mas desistiam a meio da tarefa; os aselhas mor, que sistematicamente erravam e deixavam a avaria por consertar; e os aselhas natos, categoria temível dos que não reconheciam sequer a sua incapacidade, metiam mãos à obra e acabavam por estragar o resto.
Dotado de extraordinária habilidade e imaginação, nunca recorria a estranhos para arranjar fosse o que fosse, pelo menos até à era da electrónica. Não havia ferro de engomar, secador de cabelo, ou telefonia que ele não tivesse esventrado para lhe desvendar o mistério da avaria. Excepto uma vez, em que a televisão explodiu depois da substituição de uma peça, saía-se sempre bem, e mesmo dessa vez houve a atenuante de ser a primeira televisão a cores…Também arranjava as mobílias, os candeeiros, os brinquedos e, mais tarde, as mil e uma encrencas que havia com os automóveis. Acabou por ter uma oficina de faz-tudo na arrecadação, onde se dedicava também a inventar ou construir as mais variadas coisas, tendo mesmo registado duas ou três patentes.
O problema era que ele tinha dificuldade em entender a falta de jeito dos outros, que qualificava invariavelmente de aselhas, especificando depois os diferentes graus de inépcia que cada um revelava.
Assim, havia os aselhas básicos, incapazes de resolver avarias sem ajuda; os aselhas mestres, que davam palpites mas desistiam a meio da tarefa; os aselhas mor, que sistematicamente erravam e deixavam a avaria por consertar; e os aselhas natos, categoria temível dos que não reconheciam sequer a sua incapacidade, metiam mãos à obra e acabavam por estragar o resto.
Os aselhas natos tinham subespécies, verdadeiros estigmas que obrigavam a especiais cautelas quando eles se atravessam no caminho. Uma, era a dos aselhas-tropeço, onde cabiam sem remissão os que martelavam os dedos para pregar um prego, caiam arrastando o cortinado a pendurar, ou tiravam a lâmpada queimada antes de a deixar arrefecer, constituindo-se eles próprios em mais um problema a resolver. A outra, vergonha das vergonhas, ao pé de cujos os outros aselhas eram uns génios, era a dos Pantaleões Serenos, nome inspirado numa empregada que deixou um rasto de múltiplos estragos, e onde se alinhavam os que tinham o dom de dar cabo de tudo aquilo em que punham as mãos, às vezes sem mesmo dar por isso, continuando a provocar estragos com a maior tranquilidade. Os Pantaleões Serenos eram muito irritantes, porque “a Marca do Panta”, que era o estrago propriamente dito, apanhava desprevenido quem ia usar uma coisa e dava com ela partida, criando grandes crises familiares.
Consegui tratar as cadeiras, safando-me das várias categorias, às vezes por um triz!, mas ainda me ri sozinha a pensar no que ele diria quanto à perfeição do trabalho…
Consegui tratar as cadeiras, safando-me das várias categorias, às vezes por um triz!, mas ainda me ri sozinha a pensar no que ele diria quanto à perfeição do trabalho…
Oh Suzana, tenho aí uns móveis para restaurar e preciso de um artista. Posso contar consigo?
ResponderEliminarPagando, claro!...
Não sei, caro Pinho Cardão, o meu amigo está a colocar-se voluntariamente na categoria geral dos aselhas? Há que tentar, primeiro há que tentar, para se apurar ao certo qual o nível de desempenho, isso de tomar a iniciativa de se desqualificar ão vale! :)
ResponderEliminarNão, cara Suzana. Não me desqualifico. Simplesmente,e em plena consciência, insiro-me, com toda a propriedade, na categoria do aselha básico!...
ResponderEliminarClaro que tenho outras qualidades!...
Confesso que pertenço à classe dos aselhas básicos!
ResponderEliminarO meu amigo Pino Cardão lançou logo o "escadote" à Suzana! Não sei se tem a ver com o seu uso. Espero que não arranje mais problemas!
A minha sorte é ter cá em casa uma "especialista" jeitosa em arranjos.
Cada é um é para o que nasce...
Sem dúvida, sem dúvida, as suas qualidades são plenamente reconhecidas, mas quem tem habilidade para fazer enxertias de vinhas não pode declarar-se uma nulidade. Além disso, um aselha básico ainda começa por perguntar como é que se faz para meter mãos à obra e se, mesmo com orientação técnica, não chegar lá, então começa a subir na escala da aselhice, o que não será certamente o caso, como se provou nas ditas vinhas!
ResponderEliminarPortanto, nada de desculpas, esses moveizinhos não podem apodrecer ao abandono...
Isso do escadote foi bem lembrado...huumm,vamos ignorar o incidente, a marcenaria pode fazer-se sentado, se os móveis forem baixinhos!
ResponderEliminarFeliz regresso à República cara Suzana.
ResponderEliminarEste muito bem disposto poster deixou-me a cogitar se terá aproveitado o periodo de férias para explorar uma faceta, talvez em embrião em si, de guionista. Sem dúvida que este seria um optimo argumento para um filme à boa maneira dos clássicos da década de 60. Se o seu pai me tivesse conhecido, iria ter de acrescentar uma classe à sua lista de aselhas, "O aselha atamancador".
Sou daqueles que vai de cabeça ao busilis, se encarreira, sai obra limpa, se não, fica sempre melhor do que estava antes, sem ficar competentemente bem. O meu primeiro carro, um fiat 600, comprado ha 27 anos em 2ª mão, gripou o motor, então o aselha-atamancador, que mal sabia ainda conduzir, não vai de modas, compra um rudimentar livrinho de mecânica e vai de abrir o motor. Chaves de bocas para um lado, peças para o outro, dicas de um mecânico conhecido e muita observação, fizeram com que descobrisse o problema. Depois, Carlos Eduardo Trovão, perto do Campo Pequeno, coloco as peças estragadas em cima do balcão e digo ao empregado: quero estas peças todas por favor. O homem olhou para mim, olhou para as peças, voltou a olhar para ambos e concluiu: isto é para um fiat 600 não é? -É! - Então tem de trazer o livrete para ver o nº de quadro e o ano do carro. - Ó meu amigo, então pelas peças não consegue chegar lá? - É muito difícil, porque temos as peças organizadas por referências.
Contrariado voltei a casa e peguei no livrete do carro, voltei à loja e comprei tudo. No fim o empregado perguntou-me: Quem é que vai montar estas peças? -Sou eu? -Ah! e sabe montar os segmentos nos pistons e depois colocar os pistons com os segmentos dentro dos cilindros? descarado como é meu habito, volto-me para o simpático senhor e digo-lhe: Defacto não sei, mas acredito que o Sr. me vai dizer como é que isso se faz. Em boa hora o disse, porque saí de lá com uma informação preciosa, que me poupou o estrago daquelas peças e a consequente despesa.
Resumindo, o motor voltou a trabalhar e o carro a andar. Estas peripécias repetiram-se com outros carros que tive posteriormente e com motas. Hoje com os componentes electrónicos, só consigo identificar o tipo de avaria e quando chego à oficina avanço logo o problema, convencido que isso irá diminuir o tamanho da conta a pagar e que dou a entender que não me comem por lorpa.
Mas eles conhecem mais truques que eu e têm a faca e o queijo na mão.
:))))
Admirável, caro Bartolomeu!...
ResponderEliminarCaro Bartolomeu, bem pelo contrário, o meu amigo não só não é nenhum aselha, como demonstra plenamente no relato que faz das suas habilidades, como evidencia uma habilidade e uma ousadia própria dos "arranjadores mor", categoria muito selectiva que, a bem dizer, só incluia mesmo o meu pai!Grande futuro e desde já aqui tem uma cliente fiel para o caso de instalar uma oficina de faz-tudo, verdadeiro ex libris dos engenhocas! :)
ResponderEliminarSuzana
ResponderEliminarO seu Pai só pode estar orgulhoso desta sua filha tão talentosa! Ora aqui está a sabedoria popular a funcionar: "Quem sai aos seus não degenera".
Confesso que o meu grau de inépcia para resolver avarias de máquinas sem ajuda é elevado. Felizmente tenho consciência desta enorme aselhice e não tenho a tentação de experimentar. Ficaria ainda mais frustrada e envergonhada com a minha aselhice. Faço, portanto, parte dos aselhas básicos!
Bem que gostaria de saber tratar do caruncho da madeira...Talvez a Suzana me queira ensinar e talvez eu consiga aprender!?
Cara Margarida, para o caruncho da madeira, conheço um processo "a clean process" :)))
ResponderEliminarCompra um frasquinho de cuprinol e uma bisnaga de pasta de madeira ao tom da mobilia a tratar (pinho, mogno, faia, o que fôr) na drogaria e uma seringa na farmácia. coloca o cuprinol na seringa, a gulha da mesma no buraquinho da madeira que denuncia a presença do caruncho e injecta o cuprinol até que veja o líquido aparecer. Para maior segurança pode fazer duas ou 3 aplicações separadamente. Depois de seco, introduz com uma pequena espátula ou uma lasca de madeira, ou o cabo de uma colher, a pasta de madeira dentro do buraquinho, fazendo os possíveis para que fique nivelada e não extravase o buraco. Passado uma meia hora de aplicar a massa, com uma faca, retira suavemente os excessos de massa. Para que esta operação resulte eficaz deverá colocar no leitor de CD's o "funeral march" de Beethoven, de forma a que a sociedade carunchosa não a venha a processar por atentado aos direitos sociais do caruncho.
:)
Margarida, eu com máquinas também não me atrevo, tenho até medo de lhes tocar! Mas quanto ao resto lá me vou ajeitando, com estragos controlados. Já se vê que o caro Bartolomeu tem pergaminhos na matéria, só tenho a acrescentar um lado prático (típico das mulheres) que é o facto de já se venderem umas latas com esse produto que têm um tubinho agarrado com uma agulha furada na ponta, de modo que a seringa é dispensável, com a grande vantagem de não se perder.Aconselha-se a não respirar muito perto ou em ambientes fechados, quer pela poeira fininha que sai quer porque o produto é tóxico. Quanto à massa, improvisei com cera para móveis, acho que também não é acolhedor para os bichos, depois deixei secar e passei com um líquido restaurador e no fim, encerei tudo muito bem. Um canseira, assim não chegamos a velhos, como diz a velha tia da Flor do Bairro...
ResponderEliminarEu iniciei-me na categoria do aselha especializado, desde muito cedo me especializei na parte da desmontagem, inicialmente daquilo que ainda funcionava, o que deixava de acontecer logo depois, apenas pela curiosidade de perceber porquê. Não escapava nenhum brinquedo, mais ou menos automatizado.
ResponderEliminarMais tarde evolui para o aselha audacioso, capaz de planear grandes realizações, de restauro sobretudo, acabando por ir criando um depósito de boas-vontades que exasperavam quem partilhava o lar-oficina comigo. Este evolução foi alimentada pela abundância de matéria-prima que sempre existe num local onde a provecta idade da maioria dos seus habitantes acaba, pela inexorável lei da vida, gerar frequentes despejos feitos por herdeiros da geração IKEA, que não vêm qualquer tipo de utilidade para aqueles moveis em madeira verdadeira, encerados religiosamente durante décadas pelos seus zelosos proprietários, afim de preservar o seu valor utilitário.
Bruno Simão
Caro Bruno Simão, também aqui me parece com clareza não caber a qualificação de aselha, quanto muito terá evoluído de pequeno-aselha-curioso (também chamados abelhudos quando são pequenos e não sabem compor o que estragam)para a honrosa categoria de artista, com direito a oficina caseira e clientela farta e confiante.Parabéns e bom trabalho, as gerações vindouras acabarão por dar valor aos móveis assim recuperados...e, se não deram, pelo menos a si deu-lhe gosto!
ResponderEliminarSusana, quanto gostei do seu post!
ResponderEliminarQuer-lhe adicionar os aselhas compulsivos????
Se quiser...eu trato das apresentações!!!! Com CV e tudo...
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarJá vi que também é um especialista do "caruncho". Não concordo nada com a sua auto-classificação de "aselha atamancado"! Quanto aos direitos do caruncho é melhor não darmos grandes explicações do que andamos a fazer porque os ambientalistas estão por todo o lado e ainda vamos presos!
Cara Suzana
Estou dividida nas receitas. Sou capaz de experimentar as duas fórmulas. A receita do nosso especialista Bartolomeu é atractiva porque é artesanal e antigamente tudo funcionava sem os modernismos de hoje. A receita da Suzana é mais prática e já provou bons resultados no fim-de-semana!
A velha Tia Flor do Bairro deve ter uma saúde de ferro!?