Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...
Miguel Torga, poema Segredo in "Diário VIII"
Extraordinária a simplicidade de um grande poeta!
O meu aplauso!
ResponderEliminarCaro Dr. Pinho Cardão
ResponderEliminarLembrou bem o nosso grande Miguel Torga.
Bonito e simples este:
Quase um poema de amor
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
--- Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor
Excelentes escolhas para homenagear o poeta que foi maior porque falou o dialecto da terra e do povo, talvez porque até à morte, teve sempre a consciência plena de que era povo e era terra e que a grandeza de um homem reside precisamente no olhar.
ResponderEliminarIndispensável homenagem, o prazer de ler e reler quem soube maravilhosamente realizar o propósito afirmado no prefácio à 5ª edição dos Novos Contos da Montanha (1966): " Desde rapaz que defendo uma arte o mais pura possível nos meios e o mais larga possível nos fins. Uma super-realidade da realidadwe, onde todos os homens se encontrem, quer sejam intelectuais quer não. Daí que no meu espírito tenha igual peso o juízo dos leigos e dos ungidos, e me console tanto o aplauso dos simples como dos complicados. Só quando uns e outros se juntam na mesma curiosidade pelo que escrevo sinto uma relativa paz de consciência e alguma certeza. (...)"
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