domingo, 12 de agosto de 2007

No centenário do nascimento de Miguel Torga

Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...

Miguel Torga, poema Segredo in "Diário VIII"

Extraordinária a simplicidade de um grande poeta!

4 comentários:

  1. Caro Dr. Pinho Cardão
    Lembrou bem o nosso grande Miguel Torga.

    Bonito e simples este:

    Quase um poema de amor

    Há muito tempo já que não escrevo um poema
    De amor.
    E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
    A nossa natureza
    Lusitana
    Tem essa humana
    Graça
    Feiticeira
    De tornar de cristal
    A mais sentimental
    E baça
    Bebedeira.

    Mas ou seja que vou envelhecendo
    E ninguém me deseje apaixonado,
    Ou que a antiga paixão
    Me mantenha calado
    O coração
    Num íntimo pudor,
    --- Há muito tempo já que não escrevo um poema
    De amor

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  2. Excelentes escolhas para homenagear o poeta que foi maior porque falou o dialecto da terra e do povo, talvez porque até à morte, teve sempre a consciência plena de que era povo e era terra e que a grandeza de um homem reside precisamente no olhar.

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  3. Indispensável homenagem, o prazer de ler e reler quem soube maravilhosamente realizar o propósito afirmado no prefácio à 5ª edição dos Novos Contos da Montanha (1966): " Desde rapaz que defendo uma arte o mais pura possível nos meios e o mais larga possível nos fins. Uma super-realidade da realidadwe, onde todos os homens se encontrem, quer sejam intelectuais quer não. Daí que no meu espírito tenha igual peso o juízo dos leigos e dos ungidos, e me console tanto o aplauso dos simples como dos complicados. Só quando uns e outros se juntam na mesma curiosidade pelo que escrevo sinto uma relativa paz de consciência e alguma certeza. (...)"

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