domingo, 26 de agosto de 2007

“Os falos do Cura”...

Foi noticiado que, em Braga, a estátua de “um antigo bispo a segurar um báculo com formas que lembram um pénis” está a gerar polémica “entre a câmara local, a diocese e a junta de freguesia”. Parece que está lá há quatro anos e é um dos principais alvos de atracção turística. Ninguém sabe a quem pertence e levanta-se a hipótese de a retirar. Se não a quiserem, posso indicar uma pessoa que ficaria muito contente em a possuir. Um colega meu, o Cura.
O Cura é uma pessoa notável, bom conviva, amante do café, toma três a quatro de cada vez, e se alguém pedir um descafeinado e lhe servirem um café, fica com ele. E dorme! E faz a sesta, deslocando-se propositadamente a uma casa situada numa quinta. A casa serve para fazer as sestas, para convívios com os amigos e para albergar a mais notável colecção de falos que possa existir. Os falos do Cura! De todos os tamanhos, feitios, cores, explícitos, não explícitos, camuflados, minúsculos, “maiúsculos”, de todos os materiais, desde os mais pobres aos mais ricos, provenientes das sete partidas do mundo, da Patagónia à África negra, do Sul da Europa à Islândia, das Arábias à Cochinchina, das Américas às ilhas do Pacífico. Ao longo dos anos, os amigos, sabendo dos seus “apetites”, trazem “souvenirs” para enriquecer a sua notável colecção.
Um dia, ainda propus que se fizesse uma exposição de parte da sua colecção, mas acharam que não era decente! Não sei porquê! Desde a antiguidade que todos os povos dão particular atenção à representação deste órgão.
O caso em apreço, o báculo em forma de pénis do bispo, fez-me recordar além do Cura, também, duas recentes obras que acabei de ler. “Diário de uma Criada de Quarto” de Octave Mirbeau, que retrata a vida rural e citadina da França dos finais do século XIX. Numa das passagens, o cura, não o meu amigo, é chamado com urgência pela puritana freira que descobriu no sótão da igreja uma estátua em pose indigna. Lá foram os dois, acompanhados do sacristão. Quando o eclesiástico viu os propósitos da mesma, teve de se socorrer do martelo para extirpar o apêndice lançando-o para a rua. Uma devota encontrou-o, e convencida de que se tratava de uma relíquia acabou por o colocar numa almofadinha dentro de uma campânula para veneração! Um dia alguém lhe chamou a atenção para o seu significado. Ficou estupefacta, comentando: - Ai! As vezes que lhe dei beijinhos!
No livro, “Ementas do Paraíso”, o autor, César Príncipe, a propósito dos doces, petiscos e alimentos, refere que “a liturgia beirã, durante anos, tolerou, na Casa de Deus, um santo de pau feito, que reclinadas mulheres, na quadra das vindimas, ensaboavam de espuma de vinho novo, seguindo-se o ósculo da prova, da colheita do ano”. Não sei, porque não diz, onde se faziam tais coisas. Será que o santo descrito por Mirbeau fazia parte de um ritual semelhante?
Ai São Gonçalo, São Gonçalo de Amarante! Se falasses tinhas muito que contar! César Príncipe afirma que as “velhas camuflavam, nos xailes e casacos, abonados pénis e suas acopladas esferas, lepidamente os desocultando no instante da bênção, no decorrer da missa”.
Logo, não há razão para tanta polémica a propósito do bastão em forma de pénis da estátua do bispo. E se não se entenderem, lembrem-se do Cura. Tenho a certeza que não possui nada de semelhante na sua monumental colecção de falos...

10 comentários:

  1. Curiosa colecção, a do Cura amigo, espero que a resguarde dos olhares das paroquianas senãp, só à conta de maus pensamentos, tem fila no confessionário!
    Mas esta interessante viagem pelo culto dos símbolos fálicos lembrou-me o extraordinário local dos Cromeleques de Almendra, muito perto de Évora (dantes estava mal assinalado, quase não se dava por isso, agora não sei),atribuidos à época do Neolítico e a cujo conjunto pertence creio eu o menhir do Outeiro, considerado um dos maiores do mundo, e que estaria ligado a rituais pagãos da fertilidade, que sempre exigiam um símbolo bem grande, ao pé do qual seria caricato o que hoje causa escândalo em Braga.Vale bem e visita, é um lugar fabuloso, com as dezenas de monólitos em círculos concêntricos à volta do que parece ser um pequeno altar.

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  2. É verdade Suzana.
    Muitos desses menhires estão ligados a rituais de fertilidade. Curiosamente, o meu amigo não tem um menhir desses. Mas podia encomendar uma réplica, colocando-o à porta de entrada. De um lado uma reprodução do menhir do Outeiro, do outro a estátua do bispo de Braga com o báculo-falo...

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  3. Básculo?
    Será que quis dizer Báculo, que é o nome do bastão usado pelos bispos nas cerimónias da Igreja?
    Cumprimentos,
    F. d'Aguiar

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  4. Srº Professor,

    Que bem escrito e tão humorado texto que aqui nos trás! É sempre agradável iniciar a semana de trabalho com uma gargalhada!
    Obrigado.

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  5. Caro Professor Massano Cardoso
    O assunto é sério, muito sério, mas nada como encontrar o seu lado divertido. E que bem o seu texto trata as duas facetas.
    Ora se a estátua de “um antigo bispo a segurar um básculo com formas que lembram um pénis” está a gerar polémica “ é alvo de atracção turística porque não promover uma exposição no mesmo local com a colecção de falos do Cura? Seria um evento de grande atracção turística para desconsolo da câmara local, da diocese e da junta de freguesia. No final, a colecção seria devolvida ao seu dono, enriquecida de mais uma peça!

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  6. Começo por agradecer ao Sr. Professor Massano Cardoso a sua humorada "crónica" e, uma vez que estamos em maré de sugestões, aqui deixo também a minha:
    Está na moda as "rotas", promovidas pelas câmaras municipais, ou pelas regiões de turismo. Porque não criar a Rota Nacional do falo? Já temos três pontos altos de (peregrinação) a quinta do amigo do Prof. M.C., a estátua do bispo e os menires de Évora, eu sugiro Caldas da Rainha, com visita ao museu Rafael Bordalo Pinheiro e as Torres das Amoreiras.
    Como? As torres não são símbolos fálicos? Pois, não serão, ou, talvez não sejam, mas o seu arquitecto é. Mas adiante, devo sugerir ainda para cicerone desta "rota", o grande e incontornável ícone fálico de Portugal, natural de Portimão, representante internacional dos valorosos falos Lusitanos... Ladyes and Geltleman, I've the honor to present you, the grate, the magicien, de superior. Yosé Cameurinha!!!!!!!!!!
    HEEEEEEEEEEEE!!!!!
    :)))))))

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  7. Caro F.D´Aguiar.
    Tem toda a razão. Báculo e não básculo. Vou proceder à correcção. Obrigado pela atenção.

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  8. Caro Professor,

    Seria útil indagar do eventual interesse de seu Amigo Cura pelo conjunto fálico que "embeleza" o alto do Parque Eduardo VII...
    A confirmar-se esse interesse, estou seguro de que não faltariam mecenas, em Lisboa, para apoiar a trasladação do conjunto para a Beira Alta, no que seria uma benção para a capital.
    Magnífico texto, Caro Massano Cardoso.

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  9. Caro amigo Tavares Moreira.
    Seguindo a sugestão do Bartolomeu poderíamos, com a ajuda de todos, criar a tal "rota dos falos"... O senhor acaba de dar mais um contributo!

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  10. Caro Professor,

    Sugiro, como contributo para a iniciativa sugerida por Bartolomeu,a introdução algumas notas metodológicas, por exemplo para distinguir "falos malus" e "falus bonus", cabendo o do Parque Ed.VII claramente na 1.ª categoria.

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