Quer queira quer não sou obrigado a ouvir muitas das conversas tidas às mesas dos cafés e das esplanadas. De facto, muitas pessoas não se coíbem em falar alto, e em bom som, como se estivessem na adega ou na cozinha com os amigos. Alguns por evidente falta de traquejo em dominar as técnicas das relações sociais, outros por mera necessidade em se exibirem.
Ontem, numa esplanada de um bar para as minhas bandas, junto ao rio, comecei a ouvir a voz de uma pessoa que não me era de todo desconhecida. Olhei para o lado de onde provinha tamanha verborreia e vi que era uma senhora que, todos os anos, por altura do Verão e da Páscoa, pelo menos, costuma vir à sua aldeia. Estava rodeada de outras pessoas, homens e mulheres de idades diferentes, em duas mesas. Falava do passado com uma outra senhora, lembrando como eram jeitosas, uma mais escura, outra mais branca, assediadas, admiradas, enfim, um passeio sem grande história. Era mais do que certo que dominaria qualquer um que se atrevesse a entrar na conversa. Ao seu lado, um senhor de cabelos brancos e com uma certa idade tentava dizer alguma coisita, mas a voz da dominante rapidamente o calava. Típico juanito! Um senhor novo também fazia o que podia para falar, dizendo umas graçolas, tentando chamar a atenção dos demais. Começou a fazer-lhe concorrência. Era mais do que evidente. Entretanto, como são portugueses, as conversas acabam por focar as doenças. Aqui, a senhora de idade, com o seu vozeirão, começou a dissertar sobre tudo como se fosse uma superespecialista. Mas antes, avisou a navegação, com o objectivo de informar um dos casais que não a deveria conhecer, que era mãe de um médico, a fim de assegurar a qualidade das informações que prestava. E que informações, meu Deus! Só de a ouvir, comecei com sinais de refluxo gastro-esofáfico, o que é muito mau. O cavalheiro mais novo, que não era nada parvo, ia metendo, sempre que podia, a colherada, fazendo algumas correcções pertinentes à supra-dotada mãe do clínico. Esta, subitamente, interrompe as suas dissertações, volta-se para o mais novo e ataca – Olhe lá! Então sempre é verdade que o seu sogro se suicidou? Isto, num tom altíssimo, obrigando todas as pessoas a dirigirem os seus olhares para si. Eu interrompi a minha leitura e cruzei um olhar com a senhora que manifestava uma sensação de aprazimento. Pensei: - Esta gaja não é boa da cabeça! Entretanto, o jovem engasgou-se e disse que não foi bem suicídio. Tentou explicar à senhora que o sogro andava a tomar medicamentos e que por causa disso teve um acidente. Mas não foi suicídio. A senhora, que já devia saber toda a história, mas que queria fazer-se de novas, contra-atacou: - Às tantas andava a tomar Viagra! O senhor disse que sim. Uma brutal gargalhada brotou daquela garganta acompanhada da frase: “Estão a ver que eu descobri a causa”! O senhor continuou com muitas explicações, informando que o sogro, que morreu com 63 anos, usava o produto. Os seus amigos – e aqui sentia-se uma ponta de raiva relativamente a eles – contaram-lhe que o sogro dizia que nunca tinha sentido nada assim em toda a sua vida, nem mesmo quando era jovem. A senhora de rugas profundas, tipo vales marcianos, interpelava-o, sucessivamente, dominando toda a conversa. Às tantas, perguntou-lhe: - Olhe lá! Ele tinha alguma “dama de companhia”? - A resposta foi: - Tinha! – Quem? – A Moleira de P. – O quê! a Moleira de P!! Como sinal de profunda admiração e, simultaneamente, de desprezo deu mais uma gargalhada ruidosa.
O juanito, que estava ao seu lado, lá ia dizendo algumas coisitas, em voz baixa, tipo beta, do género, “o sogro podia ficar com forças no sítio, mas o pior era o coração, que já não tinha força para tanto”.
Como já estava a ficar avi(n)agrado com a conversa, passou-me pela cabeça que a senhora devia estar com inveja da “Moleira de P”! Optei por ir mergulhar nas águas da albufeira. Enquanto me deliciava com o banho, pensei que o senhor, pretensamente considerado como suicida, e que foi pretexto para a alfa se impor ao mais jovem, só tem que agradecer à Senhora da Boa Morte. Fazer coincidir o último orgasmo com o último suspiro não é para qualquer um...
Ontem, numa esplanada de um bar para as minhas bandas, junto ao rio, comecei a ouvir a voz de uma pessoa que não me era de todo desconhecida. Olhei para o lado de onde provinha tamanha verborreia e vi que era uma senhora que, todos os anos, por altura do Verão e da Páscoa, pelo menos, costuma vir à sua aldeia. Estava rodeada de outras pessoas, homens e mulheres de idades diferentes, em duas mesas. Falava do passado com uma outra senhora, lembrando como eram jeitosas, uma mais escura, outra mais branca, assediadas, admiradas, enfim, um passeio sem grande história. Era mais do que certo que dominaria qualquer um que se atrevesse a entrar na conversa. Ao seu lado, um senhor de cabelos brancos e com uma certa idade tentava dizer alguma coisita, mas a voz da dominante rapidamente o calava. Típico juanito! Um senhor novo também fazia o que podia para falar, dizendo umas graçolas, tentando chamar a atenção dos demais. Começou a fazer-lhe concorrência. Era mais do que evidente. Entretanto, como são portugueses, as conversas acabam por focar as doenças. Aqui, a senhora de idade, com o seu vozeirão, começou a dissertar sobre tudo como se fosse uma superespecialista. Mas antes, avisou a navegação, com o objectivo de informar um dos casais que não a deveria conhecer, que era mãe de um médico, a fim de assegurar a qualidade das informações que prestava. E que informações, meu Deus! Só de a ouvir, comecei com sinais de refluxo gastro-esofáfico, o que é muito mau. O cavalheiro mais novo, que não era nada parvo, ia metendo, sempre que podia, a colherada, fazendo algumas correcções pertinentes à supra-dotada mãe do clínico. Esta, subitamente, interrompe as suas dissertações, volta-se para o mais novo e ataca – Olhe lá! Então sempre é verdade que o seu sogro se suicidou? Isto, num tom altíssimo, obrigando todas as pessoas a dirigirem os seus olhares para si. Eu interrompi a minha leitura e cruzei um olhar com a senhora que manifestava uma sensação de aprazimento. Pensei: - Esta gaja não é boa da cabeça! Entretanto, o jovem engasgou-se e disse que não foi bem suicídio. Tentou explicar à senhora que o sogro andava a tomar medicamentos e que por causa disso teve um acidente. Mas não foi suicídio. A senhora, que já devia saber toda a história, mas que queria fazer-se de novas, contra-atacou: - Às tantas andava a tomar Viagra! O senhor disse que sim. Uma brutal gargalhada brotou daquela garganta acompanhada da frase: “Estão a ver que eu descobri a causa”! O senhor continuou com muitas explicações, informando que o sogro, que morreu com 63 anos, usava o produto. Os seus amigos – e aqui sentia-se uma ponta de raiva relativamente a eles – contaram-lhe que o sogro dizia que nunca tinha sentido nada assim em toda a sua vida, nem mesmo quando era jovem. A senhora de rugas profundas, tipo vales marcianos, interpelava-o, sucessivamente, dominando toda a conversa. Às tantas, perguntou-lhe: - Olhe lá! Ele tinha alguma “dama de companhia”? - A resposta foi: - Tinha! – Quem? – A Moleira de P. – O quê! a Moleira de P!! Como sinal de profunda admiração e, simultaneamente, de desprezo deu mais uma gargalhada ruidosa.
O juanito, que estava ao seu lado, lá ia dizendo algumas coisitas, em voz baixa, tipo beta, do género, “o sogro podia ficar com forças no sítio, mas o pior era o coração, que já não tinha força para tanto”.
Como já estava a ficar avi(n)agrado com a conversa, passou-me pela cabeça que a senhora devia estar com inveja da “Moleira de P”! Optei por ir mergulhar nas águas da albufeira. Enquanto me deliciava com o banho, pensei que o senhor, pretensamente considerado como suicida, e que foi pretexto para a alfa se impor ao mais jovem, só tem que agradecer à Senhora da Boa Morte. Fazer coincidir o último orgasmo com o último suspiro não é para qualquer um...
A palradora mãe de médico era afinal uma alcoviteira de primeira estirpe!
ResponderEliminarA pitoresca cena que o caríssimo Professor Massano cardoso nos descreve, faz-me pensar nas pessoas da zona rural onde resido.
ResponderEliminarAo princípio estranhei o facto de falarem excessivamente alto, sobretudo porque o interlocutor se achava a escassos sentímetros. Mas, como sou muito descarado tratei imediatamente de perguntar o motivo, antes que sentisse o refluxo gastro-esofágico. E foi-me explicado que era um costume que vinha dos tempos em que se trabalhava nos campos e havia a necessidade de comunicar à distância. Parece à partida uma tarefa algo difícil, porém, após alguma prática de ouvido, consegue-se perfeitamente entender aquilo que alguem a algumas centenas de metros de distância nos está a dizer. Este facto é impossível de acontecer na cidade, devido ao ruído ambiente e à "vergonha". A outra questão, a que tem a ver com o opinar sobre aquilo que ocorre com os vizinhos é em minha opinião motivado, possívelmente pela falta de jornais. Afinal, se pensarmos um bocadinho ha jornais que dedicam uma parte grande das suas páginas a notícias semelhantes àquela que a senhora-gritadora apregoava. O mais estranho é tanto os jornais, como a senhora, conseguirem leitores e audiência.
Mais uma característica do nosso pobõe.
;))
Isso realmente explica muita coisa, está muito bem visto...
ResponderEliminarCaro Professor Massano Cardoso
ResponderEliminarMas que mulher indesejável! Com uma mulher desse calibre tudo pode acontecer. É um género escandaloso e perigoso que pode criar muitos embaraços a quem fica debaixo do seu vozeirão.
São mulheres que não devem ser mesmo boas da cabeça. O pior é que há por aí muitas!
Mas quem as ouve, assim à distância (só mesmo à distância), acaba por se prender, tal é o turbilhão de coisas incríveis e inesperadas que saem daquelas bocas e o que ainda estará para vir! Até que uma pessoa não aguenta mais e vai mergulhar para outro lado.
O Professor Massano Cardoso teve a sorte de se ir refrescar nas águas da albufeira porque depois daquela subida de temperatura...
Se eu tivesse uma varinha mágica, fazia com esta alcoviteira se transformasse, em tantas quantos os ministros, e fosse sogra de todos eles!
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