Certos acontecimentos, atitudes ou comportamentos comportam-se como verdadeiros vírus ou bactérias. Para provocarem um efeito em larga escala deverão respeitar certas regras. Em primeiro lugar têm de ser contagiosos. Quase que poderíamos perguntar o que não é contagioso? No entanto não basta ter este atributo. Muitos germes, apesar de possuírem esta característica, mesmo assim, não provocam epidemias. É preciso mais alguma coisa como pequeninas causas que podem provocar grandes efeitos e que estes ocorram num determinado momento crítico. Esta análise aplica-se tanto a uma doença infecciosa como a um determinado fenómeno social.
No livro, The Tipping Point, Malcolm Gladwell inicia a abordagem ao tema, contando a história do calçado "Hush Puppies” que, estando fora de moda, ia levando quase à desistência dos empresários, quando, subitamente, ocorreu uma explosão inexplicável. Meia dúzia de rapazes de bairros problemáticos lembraram-se de as utilizar por esse motivo. O que é certo é que foi rapidamente transformada numa nova fashion, ampliada pelo pessoal da haute couture, provocando uma "epidemia" deste tipo de calçado. Tudo isto na base de uma transmissão oral.
O autor conta igualmente a história, segundo a qual a criminalidade e o número de assassínios diminuíram de uma forma impensável na cidade de Nova Iorque num curto período de tempo. Claro que as interpretações foram as mais diversas entre as quais se destacam um melhor policiamento, a diminuição do consumo de droga e o envelhecimento da população, entre outras. Mas estas medidas, após análise adequada, revelaram ser muito pequenas para justificar tamanhos efeitos. O que aconteceu de facto foi que certos grupos de risco mudaram de comportamento e esta mudança propagou-se a outros bandos como se tivessem sido atingidos por um verdadeiro vírus anti-crime.
A abordagem deste tema fez-me pensar, por que é que o actual governo, e respectivo partido que o apoia, continuam na mó de cima, não obstante o aumento do desemprego, a falta de esperança dos mais jovens, o drama da educação, as borradas na escolha da localização do novo aeroporto, os encerramentos na área da saúde, as dificuldades sentidas pelos mais desfavorecidos, os episódios meio-patéticos ao redor das habilitações do senhor primeiro-ministro, os vetos presidenciais de alguns diplomas, só para citar alguns. Não me venham com a conversa de que o povo concorda com estas medidas, porque "sabe" o que é melhor para o país!
O descontentamento generalizado contrasta com a aceitação do poder. É contagioso? É evidente que sim! Chega para provocar a queda do Governo? Pelos vistos não! Mas comporta-se como um vírus, que anda por aí. Não confundir com o outro que, também, anda por aí! Aparentemente já deverá ter perdido a contagiosidade, mas nunca se deve menosprezar nenhum vírus, porque pode a qualquer momento sofrer uma mutação e, então, é um desastre. O melhor é vacinarmo-nos, se houver vacina, claro.
Posto isto, poderemos afirmar que o vírus do descontentamento anda à solta e quando for atingido o tal “ponto dramático”, que pode ser daqui a pouco ou muito tempo – o melhor é utilizar a frase tipo do Director-geral de Saúde relativamente à ocorrência da pandemia da gripe das aves: "seis meses a seis anos” – a manifestação epidémica de repúdio terá, inexoravelmente, lugar, contribuindo para o efeito aquelas "pequeninas" causas já enunciadas e que no fundo não se esquecem, a não ser que a oposição tenha, paradoxalmente, um efeito neutralizante do fenómeno "Hush Puppies"!
Em matérias de modas nunca se sabe qual vai ser o dia da amanhã, nem quando vai ocorrer o tipping point...
No livro, The Tipping Point, Malcolm Gladwell inicia a abordagem ao tema, contando a história do calçado "Hush Puppies” que, estando fora de moda, ia levando quase à desistência dos empresários, quando, subitamente, ocorreu uma explosão inexplicável. Meia dúzia de rapazes de bairros problemáticos lembraram-se de as utilizar por esse motivo. O que é certo é que foi rapidamente transformada numa nova fashion, ampliada pelo pessoal da haute couture, provocando uma "epidemia" deste tipo de calçado. Tudo isto na base de uma transmissão oral.
O autor conta igualmente a história, segundo a qual a criminalidade e o número de assassínios diminuíram de uma forma impensável na cidade de Nova Iorque num curto período de tempo. Claro que as interpretações foram as mais diversas entre as quais se destacam um melhor policiamento, a diminuição do consumo de droga e o envelhecimento da população, entre outras. Mas estas medidas, após análise adequada, revelaram ser muito pequenas para justificar tamanhos efeitos. O que aconteceu de facto foi que certos grupos de risco mudaram de comportamento e esta mudança propagou-se a outros bandos como se tivessem sido atingidos por um verdadeiro vírus anti-crime.
A abordagem deste tema fez-me pensar, por que é que o actual governo, e respectivo partido que o apoia, continuam na mó de cima, não obstante o aumento do desemprego, a falta de esperança dos mais jovens, o drama da educação, as borradas na escolha da localização do novo aeroporto, os encerramentos na área da saúde, as dificuldades sentidas pelos mais desfavorecidos, os episódios meio-patéticos ao redor das habilitações do senhor primeiro-ministro, os vetos presidenciais de alguns diplomas, só para citar alguns. Não me venham com a conversa de que o povo concorda com estas medidas, porque "sabe" o que é melhor para o país!
O descontentamento generalizado contrasta com a aceitação do poder. É contagioso? É evidente que sim! Chega para provocar a queda do Governo? Pelos vistos não! Mas comporta-se como um vírus, que anda por aí. Não confundir com o outro que, também, anda por aí! Aparentemente já deverá ter perdido a contagiosidade, mas nunca se deve menosprezar nenhum vírus, porque pode a qualquer momento sofrer uma mutação e, então, é um desastre. O melhor é vacinarmo-nos, se houver vacina, claro.
Posto isto, poderemos afirmar que o vírus do descontentamento anda à solta e quando for atingido o tal “ponto dramático”, que pode ser daqui a pouco ou muito tempo – o melhor é utilizar a frase tipo do Director-geral de Saúde relativamente à ocorrência da pandemia da gripe das aves: "seis meses a seis anos” – a manifestação epidémica de repúdio terá, inexoravelmente, lugar, contribuindo para o efeito aquelas "pequeninas" causas já enunciadas e que no fundo não se esquecem, a não ser que a oposição tenha, paradoxalmente, um efeito neutralizante do fenómeno "Hush Puppies"!
Em matérias de modas nunca se sabe qual vai ser o dia da amanhã, nem quando vai ocorrer o tipping point...
Ora aí está uma brilhante passagem da sociologia para a medicina e desta para a política!...
ResponderEliminarMagnífico!...
Caro Professor Massano Cardoso
ResponderEliminarO "descontentamento generalizado" parece estar condenado à aceitação de ausência de oposição! Por quanto tempo?
Eh... o tempo necessário até deixarem aqui o Virus contagiar aquele que supostamente é o maior partido da (não) Oposição ao Governo! :)
ResponderEliminar