segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Sarkozy entala BCE?

Na última 5ª Feira, o mesmo dia em que o FED baixou as suas principais taxas em 0,5 pontos percentuais, o Presidente Francês lançou um duro ataque ao BCE.
Sarkozy enalteceu a postura do FED – capaz de responder em tempo aos sinais da economia – e lamentou que o BCE não seja capaz de uma decisão semelhante, contribuindo com a sua rigidez para “afundar” a economia europeia.
Sarkozy é tudo menos um inocente, estas declarações têm intencionalidade bem precisa.
É visível que Sarkozy não gosta do BCE nem de Trichet, nomeado pela influência de seu antecessor Chirac.
E já percebeu que o BCE é muito avesso a sugestões ou recomendações dos políticos quanto às decisões de sua competência: quanto mais eles sugerirem uma descida das taxas menos o BCE estará inclinado a tomar essa decisão.
Sarkozy, com esta postura de hostilidade pública ao BCE, cobre-se contra resultados menos bons da economia francesa - onde nem tudo corre bem ao que parece.
A eventual teimosia do BCE em baixar as taxas proporciona-lhe um bom álibi para esse eventual mau desempenho da economia francesa.
O BCE, por sua vez, parece amarrado a um fantasma – dos riscos de inflação – que tarda em manifestar-se: desde Outubro de 2006 a inflação na zona Euro mantém-se abaixo de 2%, tendo mesmo atingido em Agosto o valor mais baixo deste período, 1,7%.
Dificilmente se entende assim esta atávica apreensão do BCE com os riscos de inflação.
Pelo contrário, começam a emergir sinais de abrandamento da actividade económica na Europa, em especial na zona Euro.
Ao mesmo tempo, a taxa de câmbio €/USD tem evidenciado uma forte apreciação, em especial na sequência da decisão do FED, levantando receios de um maior abrandamento económico na Europa do Euro e reduzindo ainda mais os riscos de inflação.
Neste contexto, é realmente difícil perceber o persistente receio do BCE em relação aquele fantasma.
Sarkozy sente-se assim à vontade para entalar o BCE...Será que, atormentado pelo tal fantasma, este vai continuar a servir o jogo do Presidente?

11 comentários:

  1. Já há muito sou pró-sarkozy. A sua personalidade foi muito importante para dar um abanão à hibernada França. Ainda é cedo para ver resultados das reformas. Para já a sua hiperactividade tem sido bem-vinda em especial com a consonância e benção de Angela MErkel.

    Quanto ao Bce, penso que uma descida das taxas de juro nesta altura seria bem vinda para desafogar devedores e relançar as exportações.

    Saudações Republicanas

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  2. O "Sarko" é que a sabe toda... ás vezes pergunto-me até onde o deixarão ir! Vamos ver. É sabido que se ele quiser reformar alguma coisa em França (e por consequência na Europa, sobretudo do Sul) tem de aproveitar o estado de graça dos primeiros 2 anos, depois é gerir o barco até ás próximas eleições, sobretudo agora que deizaram de ser de 7 em 7 anos para passar a ser de 5 em 5 anos.

    Para quem esteve habituado à letargia da mais de uma década de Chirac não há qualquer dúvida que Sarko está a dar um abanão à França.

    Dependendo como correm as coisas o resultado pode ser positivo para a Europa (sobretudo países do Sul, como nós) ou negativo, uma vez que existe uma enorme tendência desses países para copiar aquilo que por lá se faz em termos legislativos nas áreas sociais, económicas e laborais.

    Esta entrada de leão com o BCE tem um claro interesse político, em minha opinião não apenas de justificar os "suficientes" resultados económicos da França, até porque disso ele não é o único responsável, mas também de ganhar alguma confiança dos agentes económicos para poder dar inicio à tão propagandeada revolução laboral e social que serviu de bandeira na campanha e que irá inevitávelmente "mexer" (a ir para a frente) com muitos dos "poderes" instituídos no actual sistema de funcionamento da economia francesa, desde os patrões aos empregados.

    Para haver uma maior liberalização do mercado de trabalho em França, o que irá proporcionar uma maior competitividade da economia frente às asiáticas, do leste europeu e até face à americana, é preciso que todos se unam contra um "inimigo" comum que dificulta a vida a todos, desde o Estado, aos empresários até aos empregados. Esse "inimigo" está identificado. E como atacar todo o sector bancário de frente pode ser suicídio, quem é que sobra?

    Além de que, apesar de isto não ser oficialmente reconhecido, é sabido que muitos países europeus não gostam muito da ideia de o BCE ser uma entidade que supostamente não tem qualquer intervenção política directa por parte dos estados europeus. Por alguma razão os ingleses (entre outras) optaram por se manter de fora do Euro, porque dessa forma também perderiam o controlo directo numa área em que países com influência à escala mundial só tinham a perder com a criação do BCE.

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  3. Temos que convir que os Estatutos do BCE e os poderes do seu Conselho de Administração foram aprovados pelos vários países aderentes, que assim pretenderam colocar fora da área política e dos políticos determinado tipo de decisões.
    É óbvio que muitos políticos desejavam ter na sua mão poderes de que abdicaram em nome de um interesse maior. Como é o caso, agora, de Sarkozy. A questão não se pode colocar ao nível das competências do BCE, mas sim ao nível do juízo que os seus responsáveis possam fazer sobre a evolução das economias dos países do euro e do bom senso sempre exigível em qualquer decisão.
    Evidentemente que Sarkozy vê o problema da França: o BCE deve ver o problema sob um prisma mais alargado; o primeiro terá uma visão mais de curto prazo, o BCE terá uma visão mais abrangente.
    No final de contas, o que está em causa é mais um problema de competitividade da economia e a competitividade não se resolve com medidas facilitistas.
    De qualquer modo, atendendo ao valor da inflação,e de uma forma mais intuitiva que reflectida, sou apologista de uma descida das taxas. Não vem resolver nenhum problema de fundo, mas é capaz de gerar algum alívio.
    E para Portugal seria um balão de oxigénio. Mas o doente continuaria mal, pois não é menos o,25%, ou mesmo 1% na taxa de juro que resolve o essencial dos nossos problemas.
    Espero a contradita do meu amigo Tavares Moreira, e já me estou a abrigar!...

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  4. Caro André All-garvio,

    Meu Amigo é um indefectível de Sarkozy, já sabia, concordo que o Homem tem chama e vende muito bem as suas ideias.
    Mas olhe que as relações dele com A. Merkel, não sendo más, também não andam num mar de rosas...

    Caro Vírus,

    Não deixo de lhe reconhecer alguma razão, a cruzada anti-BCE que Sarkozy protagoniza tb serve os propósitos que assinala.

    Caro Pinho Cardão,

    Não o vou contraditar, por diversas razões e designadamente porque o que meu Amigo diz é sensato.
    Agora estou convencido que o BCE conquistou um inimigo de peso e que a actual conjuntura económica, se sofrer um abanão mais sensível vai dar razão ao Presidente francês e deixar o BCE em situação incómoda...ou mesmo muito incómoda.

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  5. Pois é, isto da moeda única pode não ter sido uma ideia por aí além...Mas o BCE é fraquinho.

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  6. Tonibler em dia de boa disposição, muito condescendente!
    O que o Amigo não diria, com outro estado de espírito...

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  7. Caro Tavares Moreira,

    Concordar com o Sarkozy seria como festejar um golo do (urgh!) Sporting. Mesmo contra uma equipa estrangeira devemos ser discretos na felicidade.

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  8. Caro Tonibler,

    Mas não aceita ser um pouquinho mais explícito nos seus comentários acerca dos pavores inflacionistas do BCE? E à estratégia de encurralamento do BCE seguida por Sarkozy?
    Olhe que a sua opinião é muito mais escutada do que talvez pense...

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  9. Caro Tavares Moreira,

    Assim fico constrangido...
    O Sarkozy tem razão e o seu post também. Eu imagino que o BCE seja um exército de académicos e gente que vive há décadas de estudar políticas monetárias mas, perdoem-me o estilo iconoclasta (esta não me vou esquecer :)...), andam aos papéis. Taxa de juro e inflação problemática relacionam-se noutros níveis da "curva", não é nos 4 ou 5%. E, se calhar, andaram muitos anos a estudar as economias europeias do pós-guerra, mas o mundo de hoje não tem nada a ver, é outro.
    Neste momento parecem (é a única explicação lógica) andar à procura de manter o petróleo baixo procurando valorizar o euro face ao USD, mas não é só o petróleo que vive de USD. Os carros japoneses, os têxteis indonésios, a electrónica chinesa, os serviços indianos vivem em USD.

    Eu não sei explicar isto em "economês" mas quando o FED baixa administrativamente a taxa de juro, reduz o valor do dólar de forma administrativa e gera uma oportunidade de arbitragem face ao euro, uma vez que o euro passou a estar artificialmente valorizado face ao USD. Como as economias são só uma hoje em dia, essa valorização artificial vai ser compensada por uma desvalorização real por via de transacção para compra de carros japoneses, têxteis chineses, etc, pela consequente desvalorização da produção europeia e do investimento. Portanto, o BCE anda a fazer asneira da grossa, não anda a controlar inflação coisa nenhuma e é, essencialmente, um fardo para as economias europeias.
    Agora, aceitariam os políticos europeus a independência e a discricionariedade que tem o FED??? Duvido…

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  10. Tonibler,
    Está a ver como eu tinha razão?
    O meu Amigo, cuja formação académica desconheço, sabe mais de economia do que muitos especialistas e analistas diariamente citados pelos "nossos" media, num arduo exercício de prever o que aconteceu nos últimos dias...nem disso sendo capazes, tantas vezes.
    Meu Caro, faz bem em libertar essa energia pensante, ficamos todos a ganhar com isso!

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  11. Agora fiquei mesmo constrangido com tão amáveis palavras.

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