quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Casa assaltada...trancas à porta!

O Ministro das Finanças terá ontem declarado que não é possível os portugueses endividarem-se mais, que chegamos ao limite tolerável de endividamento.
Que me recorde é a primeira vez, nos últimos anos, que um Ministro das Finanças vem fazer uma declaração que prima pelo bom senso e que contém uma advertência clara.
Só Manuela Ferreira Leite - já lá vão 5 anos - falou com idêntica clareza quando advertiu para o risco do défice externo e a espiral de endividamento que isso implicava.
As advertências de Manuela acabariam por cair em “saco roto” quando apareceu o fatídico discurso presidencial do “há mais vida para além do Orçamento” e a preocupação com o desequilíbrio externo e o correlativo endividamento, em especial das Famílias, passou a segundo plano.
É claro que o binómio desequilíbrio externo«-»endividamento prosseguiu a sua marcha imparável, as taxas de juro começaram também a subir desde há cerca de dois anos e agora temos esta preocupação renovada, a redescoberta do excesso de endividamento.
Só que agora o problema é mais complexo porque não vamos conseguir parar o processo de endividamento, este tornou-se auto-sustentado.
Os encargos da dívida ao exterior são de tal modo elevados que a única possibilidade de lhes fazer face é endividar-mo-nos cada vez mais.
Só no mês de Agosto do corrente ano, última informação mensal disponível, os encargos da dívida ao exterior totalizaram € 670 milhões, quase € 22 milhões/dia.
Para este ano prevê-se que os juros da dívida (+outros rendimentos) a pagar ao exterior representem à volta de 4,5% do PIB.
Isto torna obrigatório que o défice externo se mantenha a nível superior a 8% do PIB, tendendo a aumentar nos próximos anos.
Não há, portanto, volta a dar ao crescimento do endividamento, por muito que isso incomode – e acredito que incomode mesmo – o Ministro das Finanças.
Acresce que o aumento de endividamento é uma necessidade para os Bancos, que vêem seus resultados crescer, sem isso os resultados diminuiriam.
Assim, a declaração do Ministro das Finanças, se bem que mereça concordância (a minha, pelo menos), faz-me lembrar o velho provérbio – “Casa assaltada…trancas à porta!”.
Se me perguntarem onde vamos parar,por este caminho, reservo para já a minha resposta...

13 comentários:

  1. "Se me perguntarem onde vamos parar,por este caminho, reservo para já a minha resposta..."

    Caro Tavares Moreira,

    Pois, com sua licença, eu, como não pago imposto por isso (o Ministro das Finanças ainda não se lembrou de um imposto sobre a asneira, que lhe resolvia o défice) arrisco a minha perspectiva:

    Segundo notícias de há dias a Banca portuguesa tem no crédito ao sector imobiliário um encavanço de 57%, em média. São os novos senhorios. Mais a Caixa e o Montepio, menos o BPI, quase todos dependem hoje, em grande parte, da sua condição de senhorio.E não vão querer (ou poder) deixar de o ser e crescer.

    Como a economia está quase recoberta por esta trepadeira que é a construção civil se um dia destes a trepadeira apanha uma moléstia a economia desmorona-se.

    Se não existissem em muitos casos as garantias pessoais que amarram os arrendatários aos novos senhorios, o muro desmoronava-se mais cedo.

    Havendo garantias pessoais, a amarração pode aguentar a situação mais tempo.

    Em todo o caso, nem as trepadeiras crescem até ao céu. E se os juros se enlaçarem a elas vem tudo abaixo em três tempos.

    Está a acontecer na América. Mas aí
    há vários tipos de trepadeiras. As moléstias são mais perigosas no caso de culturas extensivas.

    É escusado dizer que eu percebo pouco de botânica.

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  2. Caro Rui Fonseca,

    Muito interessante e imaginativa esta construção botânico-bancária do problema financeiro que nos envolve ("engulf" emna versão inglesa)que oferece!
    Estamos ainda a alguma distância de se perceberem bem as consequências da situação de superendividamento em que mergulhamos, mas parece-me que esse vai ser o grande tema do final desta 1ª década do século XXI em Portugal económico.

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  3. Caro Tavares Moreira,

    Estamos condenados a discordar nesta questão da dívida.
    No meu ponto de vista, dívida não é, à partida, um problema do devedor. E, assumindo uma dinâmica mínima, quem assume dívida para um valor maior que o valor do seu trabalho acaba, ao fim do dia, por ver o seu crédito limitado por ter levantado o problema no credor. Credor esse que tem esse crédito gerido nessa dinâmica e os demais devedores acabam por cobrir as perdas. Portanto, à partida, o desequilíbrio em euros estaria coberto por um desequilíbrio de sinal contrário em "stock" de casas, plasmas, cursos de inglês, etc...e a diferença entre o valor desse stock e o valor da d+ivida coberto pelos spread dos empréstimos.

    A dívida das famílias (pelo menos daquelas que não têm bancos) deverá estar "equilibrada". O problema deverá estar, à partida (sempre, não se sabe...), naquilo que não está coberto pelo "grandes números", aquilo que por ser demasiado grande não tem a diferença entre o valor da dívida e do stock coberto pelo estatística. E aí caímos sempre na mesma coisa, a dívida pública contraída para financiar patetices.

    Onde vamos parar, não sei, mas é pela A6, passa-se Badajoz e vai-se pela A5 na direcção de Madrid...

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  4. Caro Tonibler,

    Nós só discordamos na medida em que o Tonibler o afirma, pois no plano dos conceitos que estamos a tratar não existe discordância alguma.
    É ceto que, por maior e mais excessivo que seja o nosso endividamento - acaba de ser confessado pelo próprio Ministro das Finanças - haverá sempre (milhares de) agentes económicos em Portugal que continuarão altamente solventes.
    Assim não seria se tivéssemos moeda própria: os actuais solventes, dada a perda de valor da moeda nacional, seriam arrastados pelos insolventes (as velhas "fugas de capitais" eram a defesa contra este fenómeno...).
    E os nossos agentes continuam solventes precisamente porque pertencemos a uma zona monetária com alguns dos nossos principais credores e esses agentes estão longos na moeda única.
    O problema, meu Caro, está na Contabilidade Nacional, PIB, Balança de Pagamentos, Dívida Pública, Residente, Não-Residente, e outros ornamentos, que são peças essenciais da organização económica internacional em que estamos integrados e servem para aferir o desempenho de cada Estado/País...
    É nesse contexto que temos de situar a problemática da dívida excessiva e a grave crise que nos espera - só nos faltava mais essa... - se não formos capazes, que não somos, de sustar o rápido crescimento da dívida ao exterior.
    Quanto à saída que aponta, lembro-lhe que também existe a Portela - para continuar, pelos vistos - e dentro de alguns anos o TGV para Madrid...

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  5. Anónimo17:10

    A solução está, no meu entender, justamente no imobiliário e na entrada de dinheiro do exterior que o sector permite. A Espanha beneficiou intensamente desse fenómeno nos ultimos anos.

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  6. Caro Agitador,

    Bem vindo a este painel de lúgubres pensamentos!
    Acha mesmo que a solução está no imobiliário, numa altura em que a chamada bolha imobiliária se encontra em fase de esvaziamento ou mesmo de pré-implosão, nomeadamente na Espanha?
    Não lhe parece que o optimismo também tem limites?
    Admito que o lançamento de empreendimentos turístico-imobiliários de grande qualidade possa ajudar um pouco, mas só mesmo um pouco!
    Era bom que o Agitador tivesse razão e que conseguíssemos convencer os detentores de riqueza - designadamente nos países produtores de petróleo que acumulam reservas a um ritmo frenético - a investir no sector imobiliário em Portugal, mas creio que isso não passa de uma miragem.

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  7. Quanto a empréstimos só tenho uma coisa a dizer:

    Quem não tem pai ricos vai ao BES, quem tem vai ao BCP.


    Hehehe


    Saudações Republicanas

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  8. André, essa é mesmo boa! Sempre no estilo acutilante do dragão que lança línguas de fogo!
    Quer também dizer que meu Amigo vai ao BCP?
    E quem tem pai insolvente aonde vai? Veja se consegue adivinhar...

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  9. Eu sou cliente do BES. Se quiserem fazer umas doações até deixo aqui o meu NIB. Heheh

    Quem tem pai insolvente????

    Dantes fazia um choradinho ao Paulo Macedo. Agora vai para debaixo da ponte.

    Saudações Republicanas

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  10. Anónimo16:29

    Caro Dr. Tavares Moreira,

    Obrigado pela entusiástica recepção.

    É exactamente pela bolha se encontrar em esvaziamento, nomeadamente em Espanha e na Irlanda, e simultâneamente em Portugal o mercado estar estagnado, que deviamos cativar a transferência de investimentos desses mercados saturados para o nosso.

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  11. André, meu Caro chegou lá perto com sua conhecida sagacidade e perspicácia, mas não disse tudo...
    Faltou dizer o nome da ponte para baixo da qual devem ir os filhos de pais insolventes...vá lá, mais um pequeno esforço, nem é assim tão difícil!

    Caro Agitador,

    Não obstante reconhecer-lhe boa vontade na aproximação que faz ao problema, continuo a pensar que se situa num plano apenas onírico, sem qq perspectiva de realização.
    Como lhe disse, o único (sub)sector em que teremos condições para atrair capital estrangeiro é o imobiliário-turístico de superior qualidade, mas isso, embora ajude, quase nada resolve.
    Veja se descobre mais alguma saída para além das que já foram indicadas pelo Tonibler!

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  12. Anónimo22:14

    Caro Dr. Tavares Moreira,

    Concordo q estamos a falar de um sonho pois todas a soluções definidas para o pais no seu todo são sempre sonhos. Mas o sonho comanda a vida ou devia.

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  13. Caro Agitador,

    Sem prejuízo do respeito que me merece a dimensão poética da expressão que utiliza, neste caso receio que o sonho comande não a vida, mas a dívida.
    É sonhando com impossíveis como esse, da venda de imensos activos para o exterior, que nos vamos endividando até mais não poder...
    Muito cordialmente, creia.

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