O Ministro das Finanças terá ontem declarado que não é possível os portugueses endividarem-se mais, que chegamos ao limite tolerável de endividamento.
Que me recorde é a primeira vez, nos últimos anos, que um Ministro das Finanças vem fazer uma declaração que prima pelo bom senso e que contém uma advertência clara.
Só Manuela Ferreira Leite - já lá vão 5 anos - falou com idêntica clareza quando advertiu para o risco do défice externo e a espiral de endividamento que isso implicava.
As advertências de Manuela acabariam por cair em “saco roto” quando apareceu o fatídico discurso presidencial do “há mais vida para além do Orçamento” e a preocupação com o desequilíbrio externo e o correlativo endividamento, em especial das Famílias, passou a segundo plano.
É claro que o binómio desequilíbrio externo«-»endividamento prosseguiu a sua marcha imparável, as taxas de juro começaram também a subir desde há cerca de dois anos e agora temos esta preocupação renovada, a redescoberta do excesso de endividamento.
Só que agora o problema é mais complexo porque não vamos conseguir parar o processo de endividamento, este tornou-se auto-sustentado.
Os encargos da dívida ao exterior são de tal modo elevados que a única possibilidade de lhes fazer face é endividar-mo-nos cada vez mais.
Só no mês de Agosto do corrente ano, última informação mensal disponível, os encargos da dívida ao exterior totalizaram € 670 milhões, quase € 22 milhões/dia.
Para este ano prevê-se que os juros da dívida (+outros rendimentos) a pagar ao exterior representem à volta de 4,5% do PIB.
Isto torna obrigatório que o défice externo se mantenha a nível superior a 8% do PIB, tendendo a aumentar nos próximos anos.
Não há, portanto, volta a dar ao crescimento do endividamento, por muito que isso incomode – e acredito que incomode mesmo – o Ministro das Finanças.
Acresce que o aumento de endividamento é uma necessidade para os Bancos, que vêem seus resultados crescer, sem isso os resultados diminuiriam.
Assim, a declaração do Ministro das Finanças, se bem que mereça concordância (a minha, pelo menos), faz-me lembrar o velho provérbio – “Casa assaltada…trancas à porta!”.
Se me perguntarem onde vamos parar,por este caminho, reservo para já a minha resposta...
"Se me perguntarem onde vamos parar,por este caminho, reservo para já a minha resposta..."
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira,
Pois, com sua licença, eu, como não pago imposto por isso (o Ministro das Finanças ainda não se lembrou de um imposto sobre a asneira, que lhe resolvia o défice) arrisco a minha perspectiva:
Segundo notícias de há dias a Banca portuguesa tem no crédito ao sector imobiliário um encavanço de 57%, em média. São os novos senhorios. Mais a Caixa e o Montepio, menos o BPI, quase todos dependem hoje, em grande parte, da sua condição de senhorio.E não vão querer (ou poder) deixar de o ser e crescer.
Como a economia está quase recoberta por esta trepadeira que é a construção civil se um dia destes a trepadeira apanha uma moléstia a economia desmorona-se.
Se não existissem em muitos casos as garantias pessoais que amarram os arrendatários aos novos senhorios, o muro desmoronava-se mais cedo.
Havendo garantias pessoais, a amarração pode aguentar a situação mais tempo.
Em todo o caso, nem as trepadeiras crescem até ao céu. E se os juros se enlaçarem a elas vem tudo abaixo em três tempos.
Está a acontecer na América. Mas aí
há vários tipos de trepadeiras. As moléstias são mais perigosas no caso de culturas extensivas.
É escusado dizer que eu percebo pouco de botânica.
Caro Rui Fonseca,
ResponderEliminarMuito interessante e imaginativa esta construção botânico-bancária do problema financeiro que nos envolve ("engulf" emna versão inglesa)que oferece!
Estamos ainda a alguma distância de se perceberem bem as consequências da situação de superendividamento em que mergulhamos, mas parece-me que esse vai ser o grande tema do final desta 1ª década do século XXI em Portugal económico.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarEstamos condenados a discordar nesta questão da dívida.
No meu ponto de vista, dívida não é, à partida, um problema do devedor. E, assumindo uma dinâmica mínima, quem assume dívida para um valor maior que o valor do seu trabalho acaba, ao fim do dia, por ver o seu crédito limitado por ter levantado o problema no credor. Credor esse que tem esse crédito gerido nessa dinâmica e os demais devedores acabam por cobrir as perdas. Portanto, à partida, o desequilíbrio em euros estaria coberto por um desequilíbrio de sinal contrário em "stock" de casas, plasmas, cursos de inglês, etc...e a diferença entre o valor desse stock e o valor da d+ivida coberto pelos spread dos empréstimos.
A dívida das famílias (pelo menos daquelas que não têm bancos) deverá estar "equilibrada". O problema deverá estar, à partida (sempre, não se sabe...), naquilo que não está coberto pelo "grandes números", aquilo que por ser demasiado grande não tem a diferença entre o valor da dívida e do stock coberto pelo estatística. E aí caímos sempre na mesma coisa, a dívida pública contraída para financiar patetices.
Onde vamos parar, não sei, mas é pela A6, passa-se Badajoz e vai-se pela A5 na direcção de Madrid...
Caro Tonibler,
ResponderEliminarNós só discordamos na medida em que o Tonibler o afirma, pois no plano dos conceitos que estamos a tratar não existe discordância alguma.
É ceto que, por maior e mais excessivo que seja o nosso endividamento - acaba de ser confessado pelo próprio Ministro das Finanças - haverá sempre (milhares de) agentes económicos em Portugal que continuarão altamente solventes.
Assim não seria se tivéssemos moeda própria: os actuais solventes, dada a perda de valor da moeda nacional, seriam arrastados pelos insolventes (as velhas "fugas de capitais" eram a defesa contra este fenómeno...).
E os nossos agentes continuam solventes precisamente porque pertencemos a uma zona monetária com alguns dos nossos principais credores e esses agentes estão longos na moeda única.
O problema, meu Caro, está na Contabilidade Nacional, PIB, Balança de Pagamentos, Dívida Pública, Residente, Não-Residente, e outros ornamentos, que são peças essenciais da organização económica internacional em que estamos integrados e servem para aferir o desempenho de cada Estado/País...
É nesse contexto que temos de situar a problemática da dívida excessiva e a grave crise que nos espera - só nos faltava mais essa... - se não formos capazes, que não somos, de sustar o rápido crescimento da dívida ao exterior.
Quanto à saída que aponta, lembro-lhe que também existe a Portela - para continuar, pelos vistos - e dentro de alguns anos o TGV para Madrid...
A solução está, no meu entender, justamente no imobiliário e na entrada de dinheiro do exterior que o sector permite. A Espanha beneficiou intensamente desse fenómeno nos ultimos anos.
ResponderEliminarCaro Agitador,
ResponderEliminarBem vindo a este painel de lúgubres pensamentos!
Acha mesmo que a solução está no imobiliário, numa altura em que a chamada bolha imobiliária se encontra em fase de esvaziamento ou mesmo de pré-implosão, nomeadamente na Espanha?
Não lhe parece que o optimismo também tem limites?
Admito que o lançamento de empreendimentos turístico-imobiliários de grande qualidade possa ajudar um pouco, mas só mesmo um pouco!
Era bom que o Agitador tivesse razão e que conseguíssemos convencer os detentores de riqueza - designadamente nos países produtores de petróleo que acumulam reservas a um ritmo frenético - a investir no sector imobiliário em Portugal, mas creio que isso não passa de uma miragem.
Quanto a empréstimos só tenho uma coisa a dizer:
ResponderEliminarQuem não tem pai ricos vai ao BES, quem tem vai ao BCP.
Hehehe
Saudações Republicanas
André, essa é mesmo boa! Sempre no estilo acutilante do dragão que lança línguas de fogo!
ResponderEliminarQuer também dizer que meu Amigo vai ao BCP?
E quem tem pai insolvente aonde vai? Veja se consegue adivinhar...
Eu sou cliente do BES. Se quiserem fazer umas doações até deixo aqui o meu NIB. Heheh
ResponderEliminarQuem tem pai insolvente????
Dantes fazia um choradinho ao Paulo Macedo. Agora vai para debaixo da ponte.
Saudações Republicanas
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarObrigado pela entusiástica recepção.
É exactamente pela bolha se encontrar em esvaziamento, nomeadamente em Espanha e na Irlanda, e simultâneamente em Portugal o mercado estar estagnado, que deviamos cativar a transferência de investimentos desses mercados saturados para o nosso.
André, meu Caro chegou lá perto com sua conhecida sagacidade e perspicácia, mas não disse tudo...
ResponderEliminarFaltou dizer o nome da ponte para baixo da qual devem ir os filhos de pais insolventes...vá lá, mais um pequeno esforço, nem é assim tão difícil!
Caro Agitador,
Não obstante reconhecer-lhe boa vontade na aproximação que faz ao problema, continuo a pensar que se situa num plano apenas onírico, sem qq perspectiva de realização.
Como lhe disse, o único (sub)sector em que teremos condições para atrair capital estrangeiro é o imobiliário-turístico de superior qualidade, mas isso, embora ajude, quase nada resolve.
Veja se descobre mais alguma saída para além das que já foram indicadas pelo Tonibler!
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarConcordo q estamos a falar de um sonho pois todas a soluções definidas para o pais no seu todo são sempre sonhos. Mas o sonho comanda a vida ou devia.
Caro Agitador,
ResponderEliminarSem prejuízo do respeito que me merece a dimensão poética da expressão que utiliza, neste caso receio que o sonho comande não a vida, mas a dívida.
É sonhando com impossíveis como esse, da venda de imensos activos para o exterior, que nos vamos endividando até mais não poder...
Muito cordialmente, creia.