Ao ler uma colectânea de datas e efemérides deparei-me que hoje é o Dia Mundial da Menopausa. Não havendo dias que cheguem começam a sobrepor-se várias iniciativas ao ponto de algumas ficarem subjugadas ou relegadas para um plano secundário face a outras. De facto, hoje, também, é Dia do Estivador, do Pintor, da Democratização dos Media, do Médico e de São Lucas!
A menopausa marca um ponto muito interessante na vida da mulher tendo uma interpretação evolutiva no sentido de ponto final. Não há mais crianças! Chega. Mas não é meu objectivo dissertar acerca deste momento, mas sim tentar focar o que está a acontecer com uma criança inglesa que sofre de grave paralisia cerebral.
A mãe de Katie Thorpe, uma adolescente, vem, reiteradamente, solicitar que façam uma histerectomia à sua filha impedindo-a de ser menstruada evitando todos os inconvenientes decorrentes quer para a jovem, que dificilmente compreenderá o que se irá passar, quer para mãe que, carinhosamente, a tem tratado e acompanhado.
O cirurgião contactado para o efeito, e sensível ao pedido da mãe, procurou junto de outros colegas uma opinião sobre o caso tendo-lhe sido recomendado que não seria razoável fazer a intervenção. As alternativas seriam os contraceptivos ou injecções que impedissem o fenómeno, mas a mãe contra-argumenta com eventuais fenómenos secundários. Há quem aponte o pedido de histerectomia como um atentado à dignidade dos deficientes.
Este fenómeno, evitar as complicações decorrentes da “adultização” de alguns deficientes, não é novo. No princípio deste ano, o caso de Ashley, o “Anjo do Travesseiro”, levantou polémica quando os pais solicitaram que fossem efectuadas as terapêuticas necessárias, incluindo a extracção do útero e das mamas, de forma a mantê-la num estado de criança permanente. Um conselho de ética deu o seu aval permitindo que Ashley permaneça “eternamente” com um corpo de menina.
No caso de Katie ainda não foi tomada uma decisão concreta. O debate continua e um artigo publicado no The Independent por Kate Ansell, ela própria vítima de paralisia cerebral, embora não tão grave como a de Katie, é comovente revelando quanto é complicado certas matérias. Kate descreve os seu dramas pessoais com o aparecimento da sua menstruação. Não deixa de compreender os argumentos da mãe de Katie mas considera prematuro o pedido até que o período se inicie. Depois deverá ser revista a situação. De qualquer modo a primeira menstruação de Katie Thorpe irá ser, sem sombra de dúvida, um acontecimento nacional no Reino Unido e fora dele.
Lidar com deficientes profundos não é tarefa fácil, mesmo nada fácil. A convivência diária aliada aos novos conhecimentos explica alguns dos pedidos que começam a surgir.
Os apoios de familiares, de instituições vocacionadas e estatais sempre vão ajudando, mas é um imperativo de consciência e de ética se propiciarmos algum conforto ao próprio e aos pais com as técnicas ao nosso dispor. Não vejo qualquer sinal de eugenismo, em medidas como as que foram adoptadas para a pequena Ashley, por exemplo, mas sim um sinal de respeito pela dignidade dos deficientes. Há crianças que têm direito a não crescer, porque o mundo lhes deve muito, mas mesmo muito e também aos seus pais.
Não basta ser médico dos homens mas também das suas almas. Hoje, Dia do Médico, em homenagem a São Lucas (“médico de homens e de almas”), não resisti a uma pequena reflexão sobre o sofrimento de tantas almas.
A menopausa marca um ponto muito interessante na vida da mulher tendo uma interpretação evolutiva no sentido de ponto final. Não há mais crianças! Chega. Mas não é meu objectivo dissertar acerca deste momento, mas sim tentar focar o que está a acontecer com uma criança inglesa que sofre de grave paralisia cerebral.
A mãe de Katie Thorpe, uma adolescente, vem, reiteradamente, solicitar que façam uma histerectomia à sua filha impedindo-a de ser menstruada evitando todos os inconvenientes decorrentes quer para a jovem, que dificilmente compreenderá o que se irá passar, quer para mãe que, carinhosamente, a tem tratado e acompanhado.
O cirurgião contactado para o efeito, e sensível ao pedido da mãe, procurou junto de outros colegas uma opinião sobre o caso tendo-lhe sido recomendado que não seria razoável fazer a intervenção. As alternativas seriam os contraceptivos ou injecções que impedissem o fenómeno, mas a mãe contra-argumenta com eventuais fenómenos secundários. Há quem aponte o pedido de histerectomia como um atentado à dignidade dos deficientes.
Este fenómeno, evitar as complicações decorrentes da “adultização” de alguns deficientes, não é novo. No princípio deste ano, o caso de Ashley, o “Anjo do Travesseiro”, levantou polémica quando os pais solicitaram que fossem efectuadas as terapêuticas necessárias, incluindo a extracção do útero e das mamas, de forma a mantê-la num estado de criança permanente. Um conselho de ética deu o seu aval permitindo que Ashley permaneça “eternamente” com um corpo de menina.
No caso de Katie ainda não foi tomada uma decisão concreta. O debate continua e um artigo publicado no The Independent por Kate Ansell, ela própria vítima de paralisia cerebral, embora não tão grave como a de Katie, é comovente revelando quanto é complicado certas matérias. Kate descreve os seu dramas pessoais com o aparecimento da sua menstruação. Não deixa de compreender os argumentos da mãe de Katie mas considera prematuro o pedido até que o período se inicie. Depois deverá ser revista a situação. De qualquer modo a primeira menstruação de Katie Thorpe irá ser, sem sombra de dúvida, um acontecimento nacional no Reino Unido e fora dele.
Lidar com deficientes profundos não é tarefa fácil, mesmo nada fácil. A convivência diária aliada aos novos conhecimentos explica alguns dos pedidos que começam a surgir.
Os apoios de familiares, de instituições vocacionadas e estatais sempre vão ajudando, mas é um imperativo de consciência e de ética se propiciarmos algum conforto ao próprio e aos pais com as técnicas ao nosso dispor. Não vejo qualquer sinal de eugenismo, em medidas como as que foram adoptadas para a pequena Ashley, por exemplo, mas sim um sinal de respeito pela dignidade dos deficientes. Há crianças que têm direito a não crescer, porque o mundo lhes deve muito, mas mesmo muito e também aos seus pais.
Não basta ser médico dos homens mas também das suas almas. Hoje, Dia do Médico, em homenagem a São Lucas (“médico de homens e de almas”), não resisti a uma pequena reflexão sobre o sofrimento de tantas almas.
Caro Prof. Massano Cardoso, grandioso e admirável post nos trás hoje. São efectivamente assuntos que requerem extrema sensibilidade para que possam ser convenientemente avaliados, nas diferentes vertentes e pontos de vista dos visados. Antes de comentar concretamente os casos que tão delicadamente nos apresenta, quero acrescentar algo à informação sobre os diferentes santos que protegem as profissões que hoje comemoram o seu dia mundial. São Nicolau, é o protetor dos marinheiros, estivadores e das crianças, S. Francisco de Salles, protege os jornalistas e escritores, para além de S. Lucas "O Evangelista" que além de médicos, protege ainda os pintores e os curandeiros. Neste aspecto, constitui-se S. Lucas, o paradigma da não-descriminação, uma vez que não diferencia médicos de curandeiros, na sua santa protecção. Posto isto, resta-me confirmar que desconheço o nome do santo que protege as mulheres que atingem o "ponto" da menopausa, o que infere... não haver santo que lhes valha. Bom, terminada a brincadeira, e no que refere à diferença de opiniões quer de familiares como dos proprios médicos em relação à decisão de proceder à histerectomia, assalta-me uma dúvida, talvez gerada pelo meu absoluto desconhecimento acerca do que poderá estar envolvido, quer seja tomada a decisão pretendida pela mãe da pequena Katie, ou pelos clínicos.
ResponderEliminarNão entendo a necessidade de proceder à histerectomia (ablação total do útero). Isto ainda porque tenho ouvido dizer que o útero tem a importantíssima funcção de manter a funcionar convenientemente algumas glândulas necessárias ao bom funcionamento de outros orgãos. Tenho ouvido dizer ainda, que as pessoas a quem é retirado o útero, têm de ser medicadas, a fim de compensar esses funcionamentos. Se efectivamente estou a processar estas informações com um mínimo de correcção e partindo do princípio de que esta criança não poderá quando crescer vir a ter uma vida sexual que lhe permita engravidar, não percebo qual a necessidade de a submeter a uma operação e posteriormente à obrigatoriedade de ingerir medicamentos, não estando livre que mesmo assim, o seu sistema imunitário não fique debilitado, por exemplo.
Estarei a ver bem esta questão caro Prof. Massano Cardoso?
trás????
ResponderEliminarirra! este teclado é um traidor!!!
Caro Bartolomeu.
ResponderEliminarPenso que está a falar de histerectomia total(com anexectomia - extracção dos ovários). Neste caso há de facto consequências. Mas, presumo que no caso em apreço, a da adolescente inglesa, o que se pretende retirar é apenas o útero, conservando os anexos. Neste caso não haverá graves problemas.
Aproveito para dizer que tive muita honra em o conhecer pessoalmente, ontem, na FNAC.
Um grande abraço.
Também tenho seguido esta questão com muito interesse e concordo com esta perspectiva do Prof. Massano, de que a protecção da vida não se esgota em manter as pessoas vivas, deve incluir o direito a viver com um mínimo de dignidade, tornando também menos pesado o trabalho dos que apoiam. Como é que isso se consegue, com operações ou químicos, não sei. Mas o problema não se põe só em relação às mulheres, os rapazes com esse tipo de deficiência, ou outras que impeçam a vida sexual normal, também sofrem imenso e creio que é com medicamentos que os ajudam. Onde estabelecer as fronteiras do admissível, é uma questão que nunca será suficientemente resolvida...
ResponderEliminarA honra foi sobretudo minha, caro professor, na medida em que, pelo seu carácter, a sua disponibilidade e grandeza humana, me fez sentir orgulhoso pela atenção que me dispensou.
ResponderEliminarRetribuo o seu amável abraço.
Senhor Professor Massano Cardoso.
ResponderEliminarSobre este caso, li algures que - a inexistência de vontade da própria, suscita problemas de ética -.
Tenho dificuldade em compreender esta posição. Se bem entendi, a intervenção cirúrgica tem por fim não aumentar no futuro, ainda mais, o sofrimento da Katie. Havendo o desejo e consentimento dos pais, parece-me, salvo melhor opinião, inusitado suscitar questões de ética.