Um amigo solicitou-me que escrevesse um artigo relacionado com a hipertensão arterial. Reflecti sobre o assunto e acabei por focar entre outros aspectos o problema do sal, cujo consumo entre nós é excessivo. Para o combater são necessárias, também, medidas políticas. Há alguns anos, enquanto deputado, tentei sensibilizar os responsáveis para que fossem tomadas iniciativas simples mas com impacto na população, nomeadamente a rotulagem do teor do sal dos alimentos e “convidar” a indústria alimentar a reduzir o seu uso, o que é possível, sem alterar as características dos produtos. Claro que houve quem tivesse afirmado (por ignorância?) que poderíamos estar perante uma “lei” (o objectivo era uma mera proposta de resolução) “fascizante” ao intrometermo-nos na liberdade do cidadão.
Na última crónica de Miguel Sousa Tavares, no último parágrafo, lá vem o aviso, perante a iniciativa de alguns deputados socialistas que querem assumir este assunto, de que a seguir à “lei do fumo”, vem a “lei do sal” e outras do género. “Eu não vos avisei?”
Eis uma pequena parte do texto (completo no Quarto da República):
(...)Falar do sal, é falar da hipertensão. É falar dos acidentes vasculares cerebrais. É falar do enfarte do miocárdio. É falar das principais causas de doença e de morte em Portugal. É falar da principal causa de invalidez. É falar de tragédias humanas e familiares. É falar de uma epidemia silenciosa em termos políticos, mas gritante e exasperante para as vítimas e suas famílias. É falar de projectos de vida interrompidos conflituando, em muitos casos, com uma auto-imagem negativa e uma humilhante necessidade de ajuda de terceiros.
O problema dos acidentes vasculares cerebrais não pode e nem deve cingir-se ao foro médico ou aos cuidados de enfermagem ou familiares. Trata-se de um problema de carácter individual, assente em responsabilidades colectivas, influenciado por factores económicos, culturais e, até, quem diria, políticos!
Anualmente morrem mais de 20.000 portugueses só por acidentes vasculares cerebrais. Estamos a falar de morte, que é um epifenómeno. Se tomarmos em linha de conta o número de AVCs, dos quais, cerca de um quarto se manifesta através da morte e outros 25% por incapacidades graves, necessitando da ajuda de terceiros, torna-se fácil compreender o impacto desta entidade. Acresce que, em Portugal, este fenómeno é particularmente violento, face aos restantes países comunitários.
As razões subjacentes a esta problemática são bem conhecidas. Dentro dos múltiplos factores, destacamos o já referido consumo excessivo de sal, tão característico do povo português, o não controlo efectivo da hipertensão arterial, cuja elevada prevalência é deveras preocupante e os consumos excessivos de álcool e do tabaco.
Apesar da tendência para a redução da mortalidade verificada nas últimas duas décadas, mesmo assim, a situação não deixa de ser dramática.
Muitos dos factores enunciados têm a ver com hábitos e comportamentos pessoais, os quais, paradoxalmente, se agravaram ou não sofreram modificações significativas.
A necessidade de educar e informar os portugueses a diferentes níveis é indispensável. Mas, a par das medidas educacionais e informativas, as quais são muito limitadas e, quase sempre, restringidas à área do foro da saúde, torna-se imperioso outras atitudes que se revistam de carácter político. Iniciativas legislativas que limitem o teor de sal dos alimentos pré-confeccionados são vitais, já que uma pequena redução do teor deste produto, na ordem dos 10%, por exemplo, é susceptível de uma redução substancial da morbimortalidade, mesmo a curto prazo, sem implicar alterações de fundo na qualidade e sabor dos produtos em causa. É pena que certos opinadores da nossa praça, ao arvorarem-se em defesa das liberdades e lutando contra correntes “fascizantes” que procuram regulamentar comportamentos diversos pondo em paralelo, por exemplo, a luta contra o tabaco e a lei “contra o sal”, não sejam mais honestos ou menos ignorantes, já que as medidas de carácter legislativo a serem tomadas terão como objectivo a rotulagem ou a redução da concentração dos alimentos pré confeccionados permitindo que milhares de toneladas de sal deixem de percorrer, anualmente, o nosso sistema sanguíneo reduzindo os riscos cardiovasculares. Quanto aos “doutos” fazedores de opinião têm todo o direito em ingerir o sal que lhes aprouver respeitando não só a sua liberdade de escolha mas também exprimir a sua estupidez e que São Ruperto os proteja.(...)
Na última crónica de Miguel Sousa Tavares, no último parágrafo, lá vem o aviso, perante a iniciativa de alguns deputados socialistas que querem assumir este assunto, de que a seguir à “lei do fumo”, vem a “lei do sal” e outras do género. “Eu não vos avisei?”
Eis uma pequena parte do texto (completo no Quarto da República):
(...)Falar do sal, é falar da hipertensão. É falar dos acidentes vasculares cerebrais. É falar do enfarte do miocárdio. É falar das principais causas de doença e de morte em Portugal. É falar da principal causa de invalidez. É falar de tragédias humanas e familiares. É falar de uma epidemia silenciosa em termos políticos, mas gritante e exasperante para as vítimas e suas famílias. É falar de projectos de vida interrompidos conflituando, em muitos casos, com uma auto-imagem negativa e uma humilhante necessidade de ajuda de terceiros.
O problema dos acidentes vasculares cerebrais não pode e nem deve cingir-se ao foro médico ou aos cuidados de enfermagem ou familiares. Trata-se de um problema de carácter individual, assente em responsabilidades colectivas, influenciado por factores económicos, culturais e, até, quem diria, políticos!
Anualmente morrem mais de 20.000 portugueses só por acidentes vasculares cerebrais. Estamos a falar de morte, que é um epifenómeno. Se tomarmos em linha de conta o número de AVCs, dos quais, cerca de um quarto se manifesta através da morte e outros 25% por incapacidades graves, necessitando da ajuda de terceiros, torna-se fácil compreender o impacto desta entidade. Acresce que, em Portugal, este fenómeno é particularmente violento, face aos restantes países comunitários.
As razões subjacentes a esta problemática são bem conhecidas. Dentro dos múltiplos factores, destacamos o já referido consumo excessivo de sal, tão característico do povo português, o não controlo efectivo da hipertensão arterial, cuja elevada prevalência é deveras preocupante e os consumos excessivos de álcool e do tabaco.
Apesar da tendência para a redução da mortalidade verificada nas últimas duas décadas, mesmo assim, a situação não deixa de ser dramática.
Muitos dos factores enunciados têm a ver com hábitos e comportamentos pessoais, os quais, paradoxalmente, se agravaram ou não sofreram modificações significativas.
A necessidade de educar e informar os portugueses a diferentes níveis é indispensável. Mas, a par das medidas educacionais e informativas, as quais são muito limitadas e, quase sempre, restringidas à área do foro da saúde, torna-se imperioso outras atitudes que se revistam de carácter político. Iniciativas legislativas que limitem o teor de sal dos alimentos pré-confeccionados são vitais, já que uma pequena redução do teor deste produto, na ordem dos 10%, por exemplo, é susceptível de uma redução substancial da morbimortalidade, mesmo a curto prazo, sem implicar alterações de fundo na qualidade e sabor dos produtos em causa. É pena que certos opinadores da nossa praça, ao arvorarem-se em defesa das liberdades e lutando contra correntes “fascizantes” que procuram regulamentar comportamentos diversos pondo em paralelo, por exemplo, a luta contra o tabaco e a lei “contra o sal”, não sejam mais honestos ou menos ignorantes, já que as medidas de carácter legislativo a serem tomadas terão como objectivo a rotulagem ou a redução da concentração dos alimentos pré confeccionados permitindo que milhares de toneladas de sal deixem de percorrer, anualmente, o nosso sistema sanguíneo reduzindo os riscos cardiovasculares. Quanto aos “doutos” fazedores de opinião têm todo o direito em ingerir o sal que lhes aprouver respeitando não só a sua liberdade de escolha mas também exprimir a sua estupidez e que São Ruperto os proteja.(...)
Ora viva, caro Professor Massano Cardoso!!!
ResponderEliminarMas viva bem, como é meu desejo e penso que o de todos aqueles que o conhecem, pessoal e profissionalmente.
A evidência daquilo que o caro Professor expõe no seu post é tão real e abrange uma tão grande faixa de população que qualquer comentário a esta matéria e aos conselhos que o caro Professor deixa expressos, me parecem inadequados, ou sem valor.
Porém, seguindo o seu conselho final, foquei-me na figura de São Ruperto, que, confesso, não conhecia e pesquisei.
Aprendi que São Ruperto, faleceu a 27 de Março de 720, foi Bispo de Worms, na Alemanha, convidado pelo Duque Theodoro, da Bavária a fim de evangelizar o seu povo.
Este convite deveu-se ao facto de ter chegado ao conhecimento do duque as notáveis virtudes de São Ruperto, nomeadamente pelo seu espírito e carácter austero e piedoso para com os mais pobres, confortando-os e efectuando curas milagrosas.
Cheira-me que o caro Professor não citou gratuitamente o nome do santo, mas no fundo concordo totalmente com o seu ponto de vista, é importante, fundamental, evangelizar e converter, às boas práticas, tanto o espírito, como o físico (como se um não fosse dependente do outro nos seus multíplos equilíbrios).
Escolhi São Ruperto porque foi o primeiro bispo de Salzburgo. Foi nas margens do rio Salzach que exerceu forte actividade. Esta região era conhecida pelas suas salinas desde o tempo dos romanos (antiga cidade de Juvavum). Foi responsável por uma intensa actividade de exploração das minas de sal, como forma de promover os habitantes da zona. Assim nasceu Salzburgo, a cidade do sal. São Ruperto aparece nas diversas representações com um punhado de sal nas mãos.
ResponderEliminarDesconheço se era hipertenso, mas foi um grande empreendedor!
Caro Prof. Massano Cardoso
ResponderEliminarAí tem uma verdadeira cruzada!
Se é verdade que os principais iões que asseguram o equilíbrio electrolítico dos nossos fluidos são Ca++, Mg++, K+ e Na+, e se não adicionamos os três primeiros à nossa alimentação, porque havemos de acrescentar o sódio?
Consta que alguns leigos também gostam de juntar o cálcio, em "doses terapêuticas", mas que este, quando em excesso, se deposita onde não deve!
Caro Professor Massano Cardoso
ResponderEliminarMuito importante o seu aviso sobre os terríveis malefícios do sal. E não menos importante sobre as iniciativas políticas que deveriam ser promovidas no domínio da rotulagem e limitação do teor do sal nos alimentos pré-confeccionados.
Os números que nos apresentou e as consequências para uma vida saudável e os níveis de mortalidade associados colocam-nos perante um problema de saúde pública!
A "lei do sal" tarda. Quem gosta de sal terá sempre a possibilidae de nele carregar. O que não pode é impor a "ditadura do sal", numa atitude egoísta e "fascizante" que em nada abona a favor da liberdade responsável.
Acho que esta seria uma medida para proteger quem já é doente porque o corpo de pessoa saudável, com idade e heriditariedade para ser saudável, não precisa destas atenções ou intenções a não ser para se ir habituando, para um dia mais tarde não torcer o nariz ao comer uma sopa sem sal.
ResponderEliminarMas a saúde é, ou é quase, uma utopia, por isso... Já não sei de nada.
Cara Lenor
ResponderEliminarEstas medidas são para todos, principalmente para os saudáveis curiosamente os que poderão ganhar mais. E não é pouco! É muito, mesmo muito!