1º Acto, ESPERANÇA
Em 29 de Agosto deste ano editei um Post no qual comentava a feliz profecia de um muito jovem Professor da Universidade de Princeton, Ricardo Reis que, graças ao arrojo então demonstrado, mereceu do “laborioso” D. E. nada menos do que o epíteto de “Nova estrela da economia portuguesa”.
Na sua profecia o Prof. Reis sustentava que dentro de 30 dias já não se falaria na crise dos mercados financeiros, também conhecida por crise do “sub-prime”, a qual segundo o Professor se confinava a um episódio de turbulência nos mercados monetários.
Nessa altura, mostrando é certo alguma reserva, dei ao Prof. Reis - como não podia deixar de dar - o benefício da dúvida.
2º Acto, DESENCANTO
Em 6 do corrente recordei a dita profecia, chamando a atenção para o facto de ser já evidente a não verificação da mesma uma vez que a crise do “sub-prime” se tinha agudizado e alastrado e serem muito elevadas as perdas registadas por importantes Bancos, nos EUA e na Europa, derivadas da sua exposição ao risco “sub-prime”.
A dimensão do problema tinha extravasado em muito as fronteiras do mercado monetário para ganhar uma importante expressão financeira, afectando as condições de exploração e até a credibilidade (Northern Rock, maxime) de diversos Bancos.
E em muito estava excedido o prazo de 30 dias, elemento central da profecia, continuando a falar-se, com crescente intensidade de resto, no problema e nas suas presumíveis consequências.
3º Acto, IMPLOSÃO
Chegados quase ao final de Novembro, acumulam-se sinais de que estaremos a entrar na fase de implosão da profecia de R. Reis, com o adensamento da crise e a sua mais que provável extensão à chamada economia real.
A OCDE estimou há poucos dias em USD 300 mil milhões - € 200 mil milhões ao câmbio corrente – as perdas causadas pelo “sub-prime” nas contas do sistema financeiro da Zona, o que a confirmar-se quer dizer que ainda estará por revelar mais de duas vezes o montante de perdas já confessado...
A evolução recente dos mercados de crédito e dos mercados de capitais sugere com forte intensidade um abrandamento sensível da actividade económica nas economias mais desenvolvidas em 2008 pelo menos (sempre com a excepção da economia de aço).
A rápida queda das taxas de juro dos prazos mais longos também aponta para o abrandamento da actividade, tendo-se até verificado nos últimos dias um fenómeno que há poucas semanas seria quase inadmissível: apesar da grande fraqueza do USD, as taxas de juro da dívida soberana americana a 10 anos caíram para nível inferior ao das taxas de idêntico prazo na Europa.
A continuarmos assim, o FED terá de baixar as suas taxas a ritmo mais célere do que se supunha.
E o BCE está perante um cenário de horror, agora que na Alemanha a inflação atingiu 3% e o crescimento dos agregados monetários acelerou...
Certa vez, Diógenes andava pelas ruas de Atenas, em pleno dia, com uma lanterna acesa na mão. A quem lhe perguntava a razão daquele procedimento, Diógenes respondia: "Ando à procura de um Homem"
ResponderEliminar;)))
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarAcabo de ler no Washington Post online o seguinte:
"NEW YORK -- Wall Street barreled higher Wednesday for the second day in a row, giving the Dow Jones industrial average its biggest two-day point gain in five years after a Federal Reserve official hinted that the central bank may lower interest rates again.
Investors' renewed hopes for a rate cut added to their relief that companies that made losing bets on subprime mortgages, such as Citigroup Inc. and Freddie Mac, are coming up with ways to raise cash. The market was clearly optimistic that at least some of the damage from the months-long credit crisis was finally being mitigated."
mais em:
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/linkset/2006/06/01/LI2006060100693.html?hpid=topnews
É para acreditar?
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarJulgo que o velho Diógenes-o Cínico, se pudesse vir de novo a este Mundo, teria tarefa bem mais complicada para encontrar o homem que procurava...se pelo caminho não aparecesse mesmo um meliante que lhe furtasse a lanterna...
Caro Rui Fonseca,
Quando escrevi este Post, tinha já conhecimento da forte recuperação dos mercados accionistas, ontem e hoje (hoje sobretudo).
Sabe que este entusiasmo advém do facto de o Governo do Abu Dhabi, através de um fundo de investimento que controla, ter decidido investir USD 7,5 mil milhões no capital do Citigroup, tendo isso sido interpretado como um sinal de que outros investidores do Middle East estarão preparados para investir em grandes bancos americanos, ajudando a resolver a crise do "sub-prime".
Decidi não obstante manter este Post, pois me parece que se trata mais de um fenómeno de "temporary relief" do que de uma solução estrutural e duradoura da crise.
A ver vamos, não sou profeta como o nosso ilustre Professor Reis.
Repare que o comentário quanto ao BCE é autónomo: o cenário para os seus Governadores é aterrador com a inflação na Zona Euro a tocar os 3%, uma forte aceleração da taxa de crescimento dos agregados monetários e de crédito e uma economia que começa a dar sinais titubeantes...
O caderno de Economia do Expresso, da última semana, também começava por dizer que é a melhor altura para comprar casa. Será!? Não ficará ainda melhor?
ResponderEliminarOs jornais económicos e os entrevistados sofrem da tentação de exprimirem sempre o whishfull thinking.
Por mim, ficou-me na cabeça o apocalíptico comentário:
"Gold is for optimists. I’m diversifying into canned goods."
aqui: http://ftalphaville.ft.com/blog/2007/11/21/9066/stand-by-for-generalised-systemic-financial-meltdown/
e sobretudo aqui:
http://www.rgemonitor.com/blog/roubini/227330
Muito provávelmente, caro Dr. Tavares Moreira, o que, a verificar-se não deixaria de ser um acto de extorção, o que nem sempre se verifica numa sociedade capitalista.
ResponderEliminarAli, é mais uma questão de acumulação de capital, conseguida criando o estímulo ao consumo, o incentivo à produção e o consequente lucro. Este gigante sorvedor, é que é o malvadão da história.
;)))))
escrevi extorção...?
ResponderEliminarTalvez devesse ter escrito extorsão, mas pronto, já está, assim fica!
Sobre o Ricardo Reis, caro Tavares Moreira, sejamos generosos com a juventude! Vamos ver como envelhece... os bons vinhos começam pujantes (e imbebíveis) mas com o tempo melhoram. Esperemos para ver.
ResponderEliminarMas o seu post levanta dois problemas:
a) afinal quem vai pagar a factura? o pagode?
b) por alturas do colapso de agosto, discuti com um amigo como nos protegermos em situações piores. De facto, numa situação de colapso global, a habitual diversificação em papel não funciona. Chegamos à conclusão que tinha-mos de comprar ouro (ouro mesmo e não papeis). Deveria ser guardado em bancos onde o estado não tenha a tradição de confiscar o ouro, i.e. a suiça (e não em portugal).
Qual é a sua opinião?
Cumprimentos,
Paulo.
caro Paulo,
ResponderEliminarWelcome on board!
Quanto ao pagamento da factura, se por "pagode" significa o cidadão comum, direi que é aí que desaguam, normalmente, as consequências deste tipo de problemas...
Neste caso, talvez ao étimo pagode devesse acrescentar "endividado", pois será esse, em especial, quem suportará a factura a que se refere.
Quanto à outra questão, a fuga para o ouro ou outros metais preciosos é uma boa opção,não faltando quem a tenha já seguido...
Enquanto estivermos no Euro, o outro risco que refere é negligenciável...