segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A nova inflação

A inflação acaba de atingir 3,1%, em termos homólogos (Nov2007/Nov2006) na zona Euro, pulverizando o objectivo de estabilidade de preços que o BCE prossegue desde que em 1999 foi instituído e assumiu a responsabilidade pela condução da política monetária.
O BCE pretende conter a inflação próxima mas abaixo de 2%, de forma duradoura.
Esta subida dos preços no Euro (e não só) é recente, devendo-se no essencial à subida dos custos das matérias-primas, com destaque para o petróleo e seus derivados, bem como dos bens alimentares.
Note-se que isto aconteceu numa altura em que a taxa de câmbio do Euro/USD atingiu o nível mais elevado desde que existe Euro, o que deixa perceber que na falta dessa forte valorização do Euro a subida dos preços teria sido mais acentuada.
Merece especial referência a subida dos preços dos bens alimentares que em Outubro do corrente ano atingiu em média 4%, sendo bastante mais elevada em países como a Bélgica (5,0%) Alemanha (5,2%), a Áustria (6,5%) e a Espanha (6,8%).
A subida dos preços da alimentação deve-se ao forte aumento que tem sido registado nos preços dos cereais, trigo e milho em especial, fenómeno que para nós é novo, habituados que estavamos à queda dos preços agrícolas.
Nos últimos 12 meses, o preço do trigo duplicou e o do milho subiu mais de 50%.
A subida do preço dos cereais explica-se muito especialmente pela sua crescente procura para a produção de bio-combustíveis, biodiesel e bioetanol, a qual por sua vez se deve aos incentivos financeiros instituídos pela política de apoio às energias menos poluentes.
Defrontado com este novo fenómeno, o BCE emitiu na última semana um aviso de possível subida das taxas de juro, para o caso de a tendência de subida dos preços no consumidor não ser corrigida – e não se vê bem como possa ser corrigida, considerando que estes serão os primeiros sinais de um fenómeno que tende a acentuar-se.
Curiosamente, há cerca de 2 semanas - pouco tempo antes de se conhecer o valor mais elevado da inflação para Novembro – o Gov/BP declarou publicamente, na Associação Comercial de Lisboa, que a subida dos preços que estávamos a observar seria um fenómeno passageiro, devendo ser corrigido a curto prazo, o que lhe permitia afirmar que para 2008 estaria excluído o cenário de subida de taxas de juro na zona Euro...
Perante estes novos dados e face a uma sempre possível alteração na tendência do câmbio Euro/USD, é caso para nos interrogarmos se essa profecia (influência de Ricardo Reis?...), além de altamente arriscada, não terá também excedido o nível aceitável do politicamente correcto.
Teremos oportunidade, já nos próximos meses, de perceber melhor a sustentação deste fenómeno inflacionista e também se o BCE exclui mesmo o cenário de subida de taxas como nos foi prometido…ou se vamos ter juros mais elevados.
Deus queira que desta vez a profecia se cumpra, mas o risco é muito grande.
Em qualquer caso, estamos perante uma nova inflação, com algumas causas bem diversas das que há alguns anos conhecíamos.

14 comentários:

  1. Caro Drº Tavares Moreira:

    Veja se nesta quadra natalícia nos brinda com uma boa notícia, nem que seja tirada da cartola, para passarmos menos angustiados!
    Era tão bom se nos dissesse: a partir de Janeiro, as coisas começam a compor-se...

    :)

    P.S:
    Desejo a V. Exa. e aos outros autores, bem como aos comentadores, um excelente Natal cheio de saúde.

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  2. Caro Tavares Moreira,

    Será 2008 um ano de estagflação na Europa e nos EUA?

    Como se compreende esta alteração súbita e muito significativa no câmbio euro/dólar? Num momento em que as expectativas inflacionistas ameaçam a economia norte-americana os juros tenderão a subir mas também tenderão a subir na zona euro.

    Estamos num ponto de inflexão que levará à correcção da sobrevalorização do euro relativamente ao dólar aumentando o risco de potenciar a inflação na zona euro por aumento, também cambial, dos combustíveis?

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  3. Bem visto! Vamos também estar perante uma nova política financeira? No BCE são uns burocratas financeiros que reagem à culpa. Inflacção é culpa eles, a economia não. E vão subir as taxas de juro porque sim, porque contra a inflacção aumenta-se a taxa de juro, mesmo que essa inflacção não o seja de facto. E isto vai-nos levar a entregar a economia também ao BCE e, com isso, matar de vez as nações que ficarão reduzidas às rotundas e ao estádios de futebol.

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  4. Bem, digo-vos uma coisa, há alturas em que fico mesmo feliz por não perceber nada disto.

    Esta é uma delas. :))

    Acho que brincar aos Sistemas Financeiros é deveras "lixado", principalmente, quando à partida se sabe quem é que está sempre a perder. Só resta saber quem é que está a ganhar.

    No meio disto tudo, eu tenho cá as minhas suspeitas (mas não digo porque não sei fundamentá-las).

    Amigo Tóni, anime-se homem! Veja as coisas pelo lado positivo, rotundas e Estádios de Futebol não é tão mau quanto isso, principalmente se todos os eventos desportivos decorressem aqui. E quem diz eventos desportivos, diz outros eventos quaisquer.

    Imagine que nos transformavamos numa versão - ligeiramente mais reduzida - do Estado do Nevada e Lisboa passava a ser a capital europeia do entertenimento, tipo Las Vegas. Não era assim tão mau.

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  5. "Curiosamente, há cerca de 2 semanas - pouco tempo antes de se conhecer o valor mais elevado da inflação para Novembro – o Gov/BP declarou publicamente, na Associação Comercial de Lisboa, que a subida dos preços que estávamos a observar seria um fenómeno passageiro, devendo ser corrigido a curto prazo, o que lhe permitia afirmar que para 2008 estaria excluído o cenário de subida de taxas de juro na zona Euro..."

    Se não fosse uma coisa séria... até dava para rir!!!
    Basta pegar numa folha de papel, colocá-la de em formato paisagem e começar a desenhar as relações de causa-efeito que se retiram do seu postal, para começar a vislumbrar a trama conspirativa que a realidade está a urdir contra nós. O governo continua, qual Santana primeiro ministro, que decretou o fim do "aperto" orçamental, que basta dar confiança ao "pobo" (mesmo assim com "bê"), para que a onda de confiança resolva a crise.

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  6. A frase correcta é "O governo continua a acreditar..."

    Perdão

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  7. Caro Invisível,

    A partir de Janeiro os dias começam a ficar mais longos...anime-se, pois!

    Caro Rui Fonseca,

    Não me parece que o cenário seja de stagflation, apesar do horrendo pessimismo do nosso Comentador Tonibler não creio que os Bancos centrais caiam nessa...
    Admito que a inflação se mantenha "elevada" (para os padrões do BCE) ao longo dos próximos meses.
    Mas não estou a ver que aqueles ilustres decisores de política monetária se atrevam a subir as taxas ao ponto de causarem a estagnação da economia...eles tb prezam muito o lugar que ocupam...

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  8. Excelente post, caro TMoreira.
    Seria bom que o Ministro da Economia o lesse, o Ministro das Finanças nele reflectisse e que o 1º Ministro nele se inspirasse para poder dizer a verdade aos portugueses.
    Seria ainda bom que a Oposição parlamentar, particularmente os líderes do PSD, fosse lendo alguns textos do 4R, nomeadamente do meu amigo, como trabalho de casa em matéria económica, coisa que raramente faz, substituindo o trabalho por meia dúzia de tiradas mais ou menos demagógicas e já muito vistas e usadas.

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  9. Caro CCz,

    Permitir-me-á que o corrija, mas a mim parece-me que o Governo não acredita em coisa nenhuma, simula acreditar - muito bem às vezes, nem tão bem outras - para convencer/enganar cidadãos de boa vontade como sucede frequentemente com o nosso excelente Comentador Rui Fonseca...

    Caro Anthrax,

    Excelente visão a sua, Nevada/Las Vegas e por que não Macau?
    Já viu o que está a passar-se em Macau desde que a Administração deixou de ser portuguesa e passou a ser "comunista" (risos...)?
    Acho que faz muito bem em puxar por Tonibler, que anda um tanto pessimista a mais...
    A solução poderá passar, tomando o exemplo de Macau, por negociar a gestão económica do País em "outsourcing" - que lhe parece? Não acha que seria bem mais eficaz?


    Pinho Cardão,

    Obrigado pelo cumprimento, meu Caro, não deixando de assinalar que no 4R (modéstia à parte) se faz crítica social e política bem mais a sério do que no Parlamento...e não sou eu o principal protagonista...

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  10. Sempre que os "cubanos" do continente, julgam ameaçar os madeirenses, com o agitar da independência forçada e o fim dos apoios de Lisboa, sorrio e lembro-me sempre de Macau.

    Livres das regras de Lisboa e concentrados na sua autosuficiência... era tão fácil aplicar a receita de Macau, do Mónaco, de ... e acabar por começar a dar emprego aos "cubanos" fugidos desta progressiva Albânia do Oeste "in the making".

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  11. Como fez manchete na economis da semanada passada "The end of the cheap food" para além da procura para os bio-combustíveis tem outro importante factor. Os NPI como a China, a Índa, etc.. começaram agora a alimentar as suas populações a níveis razoáveis. Os gastos da economia chinesa dispararam nesta ultima década no que a bens alimentares dizem respeito.
    Quanto ao fenómeno inflacionário temos que dar o braço a torcer e dar razão à obsessão de Trichet para a manutenção da taxa de inflação.

    Quanto às previsões do Banco de Portugal isso sim, isso é que vale a pena. Neste período de reinado de incontestável incompetência por parte de Constâncio ( e peço desculpa por ferir a susceptibilidade do laborioso "DE") além de terem a fantástica característica de andarem em constante dissonância com outros orgãos tais como, OCDE, FMI e CE, são governados por um cozinheiro que de chefe só tem o estatuto! Assim sendo, prefiro os meus "conselheiros" da economist que não ganham metade de Constâncio, mas acertam o dobro!

    Saudações REpublicanas

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  12. Vergasta afinada, caro André, ao conhecido jeito do Dragão rejuvenescido que já deixa os seus mais directos competidores a uma distância cósmica e ainda nem chegamos a meio do campeonato...
    Além disso anda muito bem informado...tem razão, mais vale ler o Economist com atenção de que ouvir - a não ser por penitência - os previsores domésticos que, apesar de pagos a peso de ouro, por vezes até se equivocam a "prever" o passado!

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  13. E para complementar essa boa informação da economist e FT, os importantes posts do 4R, por parte de Tavares Moreira!

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