Estive esta semana numa Festa de Natal organizada por um grupo de amigos que voluntariamente quiseram proporcionar um momento diferente, porventura inesperado, para aquelas pessoas idosas que partilham a sua existência num lar que as acolhe e as ampara na última etapa das suas vidas.
É difícil descrever a alegria quase silenciosa daquelas pessoas, de intensidade e expressão diferentes marcadas pelos também diferentes percursos das suas vidas ou pelos acontecimentos que lhe estão mais próximos no tempo.
É difícil descrever o medo das suas próprias emoções numa reacção de defesa a algo perturbante nas rotinas de hora a hora, na monotonia do dia a dia e nos ritmos iguais que se repetem mês a mês e por vezes ano a ano.
É difícil descrever a vontade de, por momentos, quererem ser diferentes acabando por não serem, por saberem que no momento seguinte tudo voltará a ser de novo igual.
É difícil descrever o que é a solidão dos seus corações mas ao mesmo tempo o muito carinho que têm para dar, que acumularam ao longo de vidas mais ou menos felizes, a vontade de o fazerem num momento que advinham ter um sabor doce.
É difícil descrever o companheirismo, a solidariedade e a entreajuda das pessoas idosas mais novas e ainda com alguma saúde física e vitalidade intelectual para com as outras já muito velhinhas, com problemas difíceis de mobilidade física ou já alheadas do mundo real.
Mas no meio de tantas dificuldades é me fácil confessar a gratidão que todos sentimos por termos tido a sorte, e teremos muitas outras se assim quisermos, de receber destas pessoas idosas um arranjo de flores secas, coloridas e envernizadas, que durante alguns dias ocupou os seus trabalhos manuais com todo o afinco e amor.
Não esquecerei as duas senhoras de 101 anos, felizmente muito activas e lúcidas, que recordaram e contaram histórias dos seus casamentos, vividos num caso durante 68 anos e no outro caso durante 70 anos! Assim como não esquecerei uma outra senhora cujo maior desejo é receber a visita da sua única filha! E estou a lembrar-me de um senhor que não queria abrir o presente que lhe foi oferecido porque não queria ficar sem o embrulho com os seus laçarotes e enfeites de sininhos! Vidas bem guardadas, cheias de tesouros únicos, repletas de alegrias e tristezas que o Natal veio lembrar e recordar e que o Menino Jesus quis presentear!
É difícil descrever a alegria quase silenciosa daquelas pessoas, de intensidade e expressão diferentes marcadas pelos também diferentes percursos das suas vidas ou pelos acontecimentos que lhe estão mais próximos no tempo.
É difícil descrever o medo das suas próprias emoções numa reacção de defesa a algo perturbante nas rotinas de hora a hora, na monotonia do dia a dia e nos ritmos iguais que se repetem mês a mês e por vezes ano a ano.
É difícil descrever a vontade de, por momentos, quererem ser diferentes acabando por não serem, por saberem que no momento seguinte tudo voltará a ser de novo igual.
É difícil descrever o que é a solidão dos seus corações mas ao mesmo tempo o muito carinho que têm para dar, que acumularam ao longo de vidas mais ou menos felizes, a vontade de o fazerem num momento que advinham ter um sabor doce.
É difícil descrever o companheirismo, a solidariedade e a entreajuda das pessoas idosas mais novas e ainda com alguma saúde física e vitalidade intelectual para com as outras já muito velhinhas, com problemas difíceis de mobilidade física ou já alheadas do mundo real.
Mas no meio de tantas dificuldades é me fácil confessar a gratidão que todos sentimos por termos tido a sorte, e teremos muitas outras se assim quisermos, de receber destas pessoas idosas um arranjo de flores secas, coloridas e envernizadas, que durante alguns dias ocupou os seus trabalhos manuais com todo o afinco e amor.
Não esquecerei as duas senhoras de 101 anos, felizmente muito activas e lúcidas, que recordaram e contaram histórias dos seus casamentos, vividos num caso durante 68 anos e no outro caso durante 70 anos! Assim como não esquecerei uma outra senhora cujo maior desejo é receber a visita da sua única filha! E estou a lembrar-me de um senhor que não queria abrir o presente que lhe foi oferecido porque não queria ficar sem o embrulho com os seus laçarotes e enfeites de sininhos! Vidas bem guardadas, cheias de tesouros únicos, repletas de alegrias e tristezas que o Natal veio lembrar e recordar e que o Menino Jesus quis presentear!
Foi um Natal especial para todos, com muita luz e brilho, que todos recordarão, em particular nós que somos bem mais novos...
O Natal é um tempo em que estamos mais predispostos para os outros. É um tempo em que provamos que a capacidades espiritual existe por si, sem depender nem precisar da capacidade material ou consumista para darmos e recebermos. No Natal há muito para oferecer que não está à venda nos centros comerciais, que está apenas nas nossas mãos dar e receber. Cada um saberá como fazê-lo em relação aos seus e aos outros...
Sem palavras, cara Margarida...
ResponderEliminarFico-me pelo prazer de lhe oferecer e aos restantes autores e comentadores este vídeo de Don McLean intitulado "Starry Starry Night", dedicado pelo autor a Van Gogh e ao seu quadro com o mesmo título.
A letra desta canção vem ao encontro dos sentimentos que a cara Margrida deixa expressos e traduz as imagens que nele tambem conseguimos vislumbrar... abandono, insanidade, esperança, apego, desejo de ficar... partindo. É o ciclo que todos devemos cumprir e do qual nos compete retirar e proporcionar todo o proveito possível!
Um excelente Natal para todos e desejos de que o futuro nos proporcione o ensejo de nos completarmos.
Comentava ha dias o Professor Massano Cardoso, acerca de uma palavra trocada num seu post, que era o resultado de escrever após a meia noite... pois no meu caso as trocas e os esquecimentos aparecem logo após as 8 horas :)))
ResponderEliminarMas como o prometido é devido, aqui fica o linkezinho para a minha prendinha para todos vós.
http://www.youtube.com/watch?v=dipFMJckZOM
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarÉ difícil descrever os sentimentos porque na verdade é uma impossibilidade. Um mesmo sentimento é vivido de formas diferentes, diferente na intensidade, diferente na profundidade e diferente na sua exteriorização! Ás vezes não há mesmo palavras, seja às 8 horas da manhã, seja à meia noite...
Obrigada pela sua "prendinha", mas sobretudo muito obrigada pela sua presença que tanto prezamos e gostamos. Feliz Natal!
É isso, Cara Margarida, a solidariedade pratica-se. E é só através da solidariedade de todos nós, que muitos cidadãos conseguirão sobreviver, e atravessar este período tão difícil que o país atravessa.
ResponderEliminarDois milhões e oitocentos mil pobres.
700 000 desses pobres vivem com 180euros por mês, de pensão de sobrevivência.
500 000 desempregados.
Sinceramente, neste cenário de números, é-me difícil sorrir, e dizer FELIZ NATAL.
Mas não podemos perder a esperança, e sobretudo, temos de acreditar que, com trabalho, com seriedade, com competência, com rigor e até alguma dor, é possível mudar este panorama desolador.
Cada um no seu lugar, mas todos juntos.
Cara Margarida, depois de algo tempo volto a comentar os seus posts e este porque especialmente me levou a comentar. O conceito de natal é algo que vem a mutar, sempre acompanhada pela minha maturidade. Já foi a altura de receber presentes, passou por ser uma seca, o ano passado foi a altura épica para rever família e este ano o pensamento é outro. Rendi-me ao mais básico e sincero comentário de natal. Sem dúvida, o natal é quando um homem quer! Podemos partir desde a frivola e justa desculpa dos presentes. Se eu der os meus presentes dia ! de agosto, para mim o natal será um de Agosto. O ano passado participei numa iniciativa e nos dia 23 e 30 de DEzembro fui dar com,ida aos sem -abrigo do porto. Uma iniciativa marcante. Este ano, será feito na Páscoa e para mim, o Natal será na Páscoa. Não é só o dar comida, é o choque de lidar com todo o tipo de histórias. Vê-los saciar as mágoas num simples prato de sopa e numas bolachas... na primeira vez, fui vitima de um assassinio futil. Por pouco tempo, esqueci telemóveis, ipods e jornais económicos para me preocuparcom um sem -abrigo que volvida aquela conversa de circunstância, voltaria a ser mais um a arrastar-se, aguardando o destino que lhe é confinado. Porque como diz Pedro Abrunhosa numa das suas canções " De que serve um mapa, quando o destino está traçado.".
ResponderEliminarInterrompo agora este esvaio mental para concluir uma ideia que é a minha ideia para este natal. Sem dúvida que o Natal é quando um homem quer. Podemos nós, alargar este sentimento por mais tempo? DAr bom-dia de boa cara ao porteiro, ter paciência nas filas, apoiar ao invés de resmungar, ... Obvio que não peço um mar de rosas, mas se cada um fizer o seu pouco, todos faremos uma grande diferença.
Quanto aos idosos, tenho a minha opinião e gostaria de ouvir a sua opinião. Dia após dia, a sociedade se torna mais egoísta e isso também se reflecte nos mais novos. Visto que as classes mais novas do básico gostam muito de projectos interactivos, seria bom passarem algum tempo com esses idosos. Era uma maneira de aprenderem história local e poderia dinamizar-se essas vistas com trabalhos e resumos.
Espero que me esclareça e antes de mais, FELIZ NATAL
Cada vez gosto mais de vir ao 4R, pela qualidade de post's que aqui leio, mas também pela excelência de comentários que verifico !!!
ResponderEliminarO Comentador André tocou numa fantástica "oportunidade" que se "esconde" no "problema", Cara Margarida.:-)
Refiro-me à mais valia que existe nos idosos, em termos de Valores e Saberes, e que pode ser transmitida às classes mais novas do Básico.
Uma verdadeira "ponte" para o futuro.
Mas ainda por construir ....
E se há "velhinhos" que tanto gostavam de ensinar o que sabem, e o único salário que desejam é o sorriso de uma criança.
Caro André
ResponderEliminarGostei muito do seu pensamento “.., o natal é quando um homem quer!”. Infelizmente a Quadra do Natal foi transformada numa vertiginosa festa de marketing consumista que faz esconder e esquecer a nossa pobre condição humana, que parece não deixar espaço a qualquer dimensão espiritual.
A esperança no amor e na boa vontade dos homens é uma dimensão grandiosa que o Natal nos poderia ajudar a olhar e a fazer crescer. Infelizmente a Quadra do Natal transformada que está num bazar "louco" de compras e vendas afasta os homens das preocupações que deveriam ter com o sofrimento de outros homens privados de esperança.
Se o Natal é quando o homem quer há que transformar cada dia das nossas vidas num verdadeiro Natal. Fazê-lo não é difícil se estivermos disponíveis para dar um pouco de nós, a nós próprios e aos outros, e receber um sentimento de gratidão.
Caro Pezinhos n' Areia
As pessoas idosas adoram os nossos sorrisos!
Caro Pezinhos n' Areia e Caro André
Sobre o abandono “afectivo” das pessoas idosas deixo-lhes, se tiverem paciência para o ler, o post que escrevi aqui no 4R em 16 de Novembro:
“A magia da convivência geracional...
Vivemos uma época em que as pessoas idosas são objecto calculado de exclusão social e arrumadas em "silos geracionais", em que o abandono e a solidão são motivo de insegurança e de sofrimento, em que a proximidade às famílias está cada vez mais distante, em que muitos lares e residências não são mais do que "afectos profissionalizados" e em que muitos outros absurdos poderiam ser enumerados. O egoísmo, o esquecimento, o desprezo, a desvalorização, o encargo que representam muitas pessoas idosas para as famílias e para a comunidade apresentam-se aos olhos de muitos como um efeito da sociedade moderna, como que uma fatalidade ou mesmo uma necessidade de um novo modelo de organização. Este é um tema que apesar de muito humano e muito próximo, muito boa gente não quer ouvir falar porque incomoda, porque é uma chatice, porque é deprimente, porque não!
Vem tudo isto a propósito de um caso elogioso de como integrar socialmente as pessoas idosas, de como as valorizar, de como reconhecer nelas uma função humana, social e económica, de como ajudar a dar um sentido à sua vida, de como fazer renascer a sua alegria e o seu bem estar e de como outras gerações podem aprender e beneficiar das suas experiências, dos seus saberes e afectos. As coisas bem feitas devem ser apontadas e evidenciadas, devem ser motivo de notícia e divulgação, até para contrapor ao espírito medíocre, à desgraça e à tragédia que todos os dias e a toda hora invadem a nossa casa numa espécie de "masoquismo" colectivo.
É uma história bonita e muito simples, mas que justamente pela sua simplicidade merece ser contada. É tão simples que se torna difícil contar! Trata-se de um projecto que aposta numa integração social geracional envolvendo pessoas idosas que contam ou lêem histórias e fábulas a dezenas de crianças de diferentes idades, durante as actividades de tempos livres pós escolares, e em que as crianças são estimuladas a ler para todos os outros e a contar outras tantas histórias. Há uma reciprocidade geracional de papéis, desempenhados de forma bem diferente, mas em que deste contraste nasce uma cumplicidade afectuosa. Com as suas narrativas carregadas de veracidade, de sabedoria e de emoção, as pessoas idosas enchem o imaginário das crianças que com os seus olhos muito abertos se prendem e rendem à ternura de quem, como mais ninguém, as envolve num ambiente como que de magia. Uma magia ao serviço do desenvolvimento, da educação e da formação da criança...”
Se em alguns casos fossem afectos profissionalizados, até que nem seria, mau de todo. O problema é que de profissonalizados, esses pseudo-afectos nada têm.
ResponderEliminarContudo, ressalvo que, há muitas ipss's que são um verdadeiro exemplo a seguir. Verdadeiros "manuais de boas práticas" no acompanhamento aos idosos.
Quando leio os textos que a Cara Margarida escreve sobre este tema, só me ocorre um princípio - A Excelência na Solidariedade, e uma teoria: o "Benchmarking" aplicado à acção social.
É o caminho a seguir, (dizem por aí ...)
Que bom "falarmos" disto ...
:-)
Caro Pezinhos n' Areia
ResponderEliminarContinuaremos certamente a conversar sobre este tema com a excelência que bem merece! Não faltarão oportunidades...