Tenho vindo a notar que volta e meia nos textos que escrevemos e nos comentários dos nossos Comentadores fazemos referências e lembramos situações com alguma carga nostálgica e sentimento de pena, talvez por não nos conformarmos com a sua decadência ou desaparecimento, e citamos frases de pessoas com uma particular atenção ou um especial carinho, talvez por nos tocar a sua simplicidade. Ainda agora, ao reflectir com o nosso Caro just-in-time a propósito do comércio de proximidade e dos centros comerciais (http://quartarepublica.blogspot.com/2007/12/mais-vale-um-burro-do-que-um.html#comments) dei comigo a recordar, como sendo uma fatalidade do presente e do futuro, a decadência do comércio tradicional e a pensar na vida das pessoas, já com idades avançadas, que dele se ocupam e que ainda o fazem viver.
Não vou aqui debruçar-me sobre o comércio ou sobre uma qualquer outra actividade económica ou problema social ou político, matérias que têm sempre actualidade e que nos ocupam bastante do nosso tempo.
Não vou aqui debruçar-me sobre o comércio ou sobre uma qualquer outra actividade económica ou problema social ou político, matérias que têm sempre actualidade e que nos ocupam bastante do nosso tempo.
Gostava, antes, de falar um pouco sobre a simplicidade, sobre as pessoas e as coisas simples e o paradigma do desenvolvimento que introduz uma cada vez maior complexidade nas nossas vidas tornando difícil a sobrevivência da simplicidade.
Fico sempre muito sensibilizada quando converso e oiço pessoas simples. São simples porque falam desinteressadamente, com verdade, sem maldade, com bondade, com alguma ingenuidade, sentem o que dizem e prestam atenção ao que ouvem, gostam das pessoas, valorizam cada coisa e bocadinho das suas vidas, respeitam e admiram as outras pessoas como seres humanos, não professam sentimentos de inveja e mostram apenas o que são. Admiro ainda mais estas pessoas simples porque vivem num mundo complicado e em mudança permanente que não foi aquele em que foram ensinadas, educadas, cresceram e trabalharam quando ainda eram relativamente novas. Enfrentam muitas dificuldades – com a tranquilidade e a dignidade que o passado mais risonho lhes ensinou que era assim que deveriam estar perante a vida – e muitas vezes já sem esperança de poderem ter uma vida menos complicada, porque o tempo já não será suficiente para lhes dar essa oportunidade.
E apesar de tudo isto são pessoas simples! E embora algumas delas estejam tristes por dentro, não deixam de ser alegres por fora!
É assim que são muitas das pessoas velhotas que vivem no meu bairro, um bairro antigo de Lisboa, cuja tradição e ambiente familiar e de entreajuda em muito a elas se devem.
Muitas destas pessoas são os comerciantes das mercearias, leitarias, tabacarias e padarias do meu bairro que ainda sobrevivem à avalanche das grandes superfícies. Não sei por quanto tempo mais! É nesta actividade “comunitária” que vão buscar os parcos rendimentos que lhe permitem fazer face às baixíssimas pensões que auferem e a alguma pequena poupança desgastada pelo tempo. São pessoas muito educadas e respeitadoras, metidas na encruzilhada entre o passado e o futuro, tentando resistir ao tsunami do desenvolvimento, lutando já com as poucas forças que têm para não acabarem à esmola de um Estado que não se lembra delas ou à caridade alheia.
São pessoas simples sempre com tempo para contarem as suas histórias, para nos fazerem um sorriso e para nos animarem com a sua hospitalidade.
Fico sempre muito sensibilizada quando converso e oiço pessoas simples. São simples porque falam desinteressadamente, com verdade, sem maldade, com bondade, com alguma ingenuidade, sentem o que dizem e prestam atenção ao que ouvem, gostam das pessoas, valorizam cada coisa e bocadinho das suas vidas, respeitam e admiram as outras pessoas como seres humanos, não professam sentimentos de inveja e mostram apenas o que são. Admiro ainda mais estas pessoas simples porque vivem num mundo complicado e em mudança permanente que não foi aquele em que foram ensinadas, educadas, cresceram e trabalharam quando ainda eram relativamente novas. Enfrentam muitas dificuldades – com a tranquilidade e a dignidade que o passado mais risonho lhes ensinou que era assim que deveriam estar perante a vida – e muitas vezes já sem esperança de poderem ter uma vida menos complicada, porque o tempo já não será suficiente para lhes dar essa oportunidade.
E apesar de tudo isto são pessoas simples! E embora algumas delas estejam tristes por dentro, não deixam de ser alegres por fora!
É assim que são muitas das pessoas velhotas que vivem no meu bairro, um bairro antigo de Lisboa, cuja tradição e ambiente familiar e de entreajuda em muito a elas se devem.
Muitas destas pessoas são os comerciantes das mercearias, leitarias, tabacarias e padarias do meu bairro que ainda sobrevivem à avalanche das grandes superfícies. Não sei por quanto tempo mais! É nesta actividade “comunitária” que vão buscar os parcos rendimentos que lhe permitem fazer face às baixíssimas pensões que auferem e a alguma pequena poupança desgastada pelo tempo. São pessoas muito educadas e respeitadoras, metidas na encruzilhada entre o passado e o futuro, tentando resistir ao tsunami do desenvolvimento, lutando já com as poucas forças que têm para não acabarem à esmola de um Estado que não se lembra delas ou à caridade alheia.
São pessoas simples sempre com tempo para contarem as suas histórias, para nos fazerem um sorriso e para nos animarem com a sua hospitalidade.
É bom existirem pessoas simples! É um privilégio “conhecê-las” e ser “tocadas” por elas. Suponho que em cada momento geracional haverá pessoas simples, mas tenho dúvidas se serão como as de hoje porque o actual presente será o passado de um futuro, com toda a certeza, bem diferente do passado do actual presente!
Tambem prestei especial atenção ao oportuno comentário do nosso amigo "just-in-time", cara Margarida.
ResponderEliminarSobretudo à questão das diferenças, justificadas pelos diferentes estilos de vida e necessidades. A nossa realidade, parece-me resultante de um misto de diferentes formas de entender e conciliar, explosão demográfica, com melhoria de qualidade de vida e inovação. Estas condições, verificadas ha alguns anos atrás e, para as quais o comercio tradicional deixou de ter resposta suficiente, nomeadamente no que respeita à inovação e visão para aderir a ela, degradaram-se progressivamente até aos dias de hoje, resultado da diminuição do poder de compra, reflexo do aumento do desemprego. Temos hoje uma triste realidade, agonizam o comercio tradicional de bairro, agoniza o comércio nas grandes superfícies. Assistimos a saldos, com diferentes nomes, dependendo da época do ano, porque existe uma lei estapafurdia que não permite que se chame saldo se não estiver enquadrado num determinado intervalo de tempo e, assistimos, apesar de todos esses saldos às qeixas pretinentes dos donos das lojas, que não ganham o suficiente para pagar ordenados, para retirar os seus lucros, tão pouco para pagar os exorbitantes impostos ao estado, que os espartilham, que os sofocam?
O que lhes resta fazer? peguntam eles derrotados, perguntamos nós, nostálgicamente?
Entregarem as cinzas e passar a vegetar à sombra de uma reforma exígua, baseada em descontos mínimos e em contas de matemáticas tendenciosamente explorativas?
Ou, manter o espírito lusitano na crença arreigada de que um milagre surgirá e que tudo voltará um dia a ser como foi?
Ou uma terceira solução onde o capricho seja o equilíbrio entre oferta e procura, supremamente reido por leis reguladoras e justas que benificiem e premeiem quem é trabalhador e empreendedor, em vez de castradoras e gratuitamente exigentes, espartilhadoras e desencorajadoras dos pequenos investidores?
A Margarida tem uma forma de escrever muito doce e muito feminina. Feito o elogio, vamos ao comentário.
ResponderEliminarSabe uma coisa ? Eu confirmo, concordo, subscrevo, aplaudo tudo o que escreveu.
Quando penso que tenho que ir a uma "grande superfície", fico logo indisposta. Sorry, Mister Belmiro ...:-))))
Adoro mercearias, drogarias, lojas de loiças, de brinquedos, de sapatos, de flores, livrarias, .... mas lojas .... e de bairro, se possível.
Por três razões:
- Estão perto de casa. Precisamos, e num saltinho, estamos lá.
- Somos atentidas de forma personalizada e especializada, por muitos anos de experiência acumulada.
- Interagimos com os donos das lojas (ou empregados) e, por outro lado, cruzamo-nos com pessoas conhecidas com quem tb interagimos.
Enfim, também a nossa vida é mais simples, no meio destas pessoas "simples", Cara Margarida.
E estamos menos sós !
Nós e "elas". As tais pessoas "simples". Porque somos a sua razão de viver e de sobreviver.
Gostei muito do seu texto. Sobretudo desta parte:
ResponderEliminar"São simples porque falam desinteressadamente, com verdade, sem maldade, com bondade, com alguma ingenuidade, sentem o que dizem e prestam atenção ao que ouvem, gostam das pessoas, valorizam cada coisa e bocadinho das suas vidas, respeitam e admiram as outras pessoas como seres humanos, não professam sentimentos de inveja e mostram apenas o que são. Admiro ainda mais estas pessoas simples porque vivem num mundo complicado e em mudança permanente que não foi aquele em que foram ensinadas, educadas, cresceram e trabalharam quando ainda eram relativamente novas. Enfrentam muitas dificuldades – com a tranquilidade e a dignidade que o passado mais risonho lhes ensinou que era assim que deveriam estar perante a vida – e muitas vezes já sem esperança de poderem ter uma vida menos complicada, porque o tempo já não será suficiente para lhes dar essa oportunidade.
E apesar de tudo isto são pessoas simples! E embora algumas delas estejam tristes por dentro."
É mesmo assim.
Cara Margarida
ResponderEliminarMais grave do que a degradação do pequeno comércio será a degradação da qualidade da vida humana associada aos modelos de organização urbana que se vêm desenvolvendo.
Aldous Huxley escrevia nos anos 30 que só os pobres têm vizinhos ... já que os ricos não precisam de ajuda.
Se não me engano, foi Pierre Desgraupes, no "Mal du Siécle", que descrevia a grande convivialidade nas praças públicas durante as Idades Média e Moderna e que isso ajudava muito à harmonia familiar, portas adentro.
No final dos anos 90, visitando a Hungria, ouvi uma guia turística local cognominar os novos bairros, constituídos por sucessivos blocos rectangulares de apartamentos, de uma monotonia deprimente, de "estilo socialista realista".
Mais recentemente, ouvi ao Prof. Massano Cardoso que, após todos os progressos médicos que prolongam a vida, é essencial cuidarmos de criar e desenvolver redes de amizade e afecto, porque são essenciais à saúde e ao bem estar.
Rarificadas e enfraquecidas as relações pessoais de vizinhança, passámos a ter à nossa disposição telemóveis, Internet e todas as suas funcionalidades, mas ainda estamos a descobrir a forma de os conciliar.
Já imaginaram cena mais deprimente do que um grupo de amigos combinar encontrar-se para festejar, por exemplo, a passagem do ano e no momento alto dessa comemoração agarrarem-se todos freneticamente ao telemóvel numa alternância alucinada entre SMS´s e chamadas de votos de Feliz ano novo?
Caro Bartolomeu
ResponderEliminarFicarei sempre com a dúvida se não teria sido possível conciliarmos o comércio tradicional e o comércio das grandes superfícies. Seria assim tão difícil atenuar a decadência de um e conter a explosão do outro? Será que está em causa apenas uma questão de mercado? Ou será que não fomos capazes de condimentar ambas as soluções? É na gestão e no ajustamento das diferenças que se procuram e encontram os equilíbrios que em cada momento a evolução nos coloca, quer sejam diferenças entre as gerações mais novas e mais velhas ou entre o que é novo e o que é velho ou ainda entre o que é tradição e é inovação.
Manter as diferenças é uma solução necessária de compromisso. Que graça teria se apenas pudéssemos fazer as nossas compras em centros comerciais ou em hipermercados?
Cara Pézinhos
Gosto de saber que também aprecia a vida de bairro, que gosta de fazer as coisas de uma forma mais simples, sem ter que percorrer várias dezenas de quilómetros para ir comprar as mercearias e as drogarias num qualquer hipermercado, que valoriza o comércio que interage em ambiente de vizinhança e gosta do atendimento “familiar”. É muito mais simples assim!
Cara Isabel
Pois seja muito bem vinda a esta partilha de opiniões que tem a qualidade da simplicidade... Obrigada pelo contributo.
Caro just-in-time
O seu ponto é muito importante! A degradação da qualidade da vida humana é uma realidade e uma ameaça ao desenvolvimento harmonioso das sociedades. Não haverá desenvolvimento sem a preservação do bem estar da pessoa enquanto ser humano.
As redes de vizinhança e de solidariedade são importantíssimas ao nosso equilíbrio enquanto seres relacionais que nos damos mal com a solidão, que precisamos de receber e dar atenções e afectos.
A vida urbana nas grandes cidades e metrópoles está cada vez mais despida de uma vivência de proximidade, na qual seja possível criar laços afectuosos duradouros. A construção e a preservação do conceito de bairro, não na acepção de um conjunto de cubos de betão, mas de um espaço para as pessoas dotado de micro estruturas económicas, sociais ou culturais que assegurem a organização da vida das pessoas num espaço marcado pela sua presença em múltiplas tarefas do dia-a-dia é algo que em muitos países europeus nuca se perdeu e se investiu.
Os telemóveis e as televisões que se tornaram uns “bichos” indispensáveis permitiriam que essa proximidade nunca estivesse longe do mundo... Cumpririam melhor a sua função!
Foi uma das mais bonitas definições que já encontrei para "PESSOA SIMPLES".
ResponderEliminarQue pena os nossos políticos (em particular o Primeiro Ministro) e políticos do mundo não serem pessoas simples... tudo seria mais simples.
Belo texto, cara Margarida.
ResponderEliminarQuando eu ouço as conversas numa padaria, por exemplo, vejo como o discurso político anda longe das pessoas reais deste país.
Não há qualquer correspodência entre si.
Andamos todos num mundo virtual.
Uns mais, outros menos, claro!...
Ao menos, alguns textos do 4R, como este da Margarida, têm a virtude de nos fazer voltar à terra!...
Caro Murilovsky
ResponderEliminarSeja, muito simplesmente, muito bem vindo!
O seu comentário não podia ser mais simples... Para quê complicar o que simplesmente é!
Caro Dr. Pinho Cardão
Belo apontamento. Tem muita razão. O discurso político vive no planeta do deslumbramento que não é o das pessoas que andam cá em baixo e que não têm outro remédio se não andarem com os pés bem assentes na terra. Têm que fazer pela vida... É tão simples quanto isto!