quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

To be or not to be...socrático!...

No discurso do Jantar de Natal dos Deputados do PS, Sócrates criticou a crítica que lhe vem sendo feita de não explicar suficientemente os actos e medidas do Governo. Referiu então, em palavras triunfantes, que era fácil falar da sua governação, pois seria falar dos êxitos conseguidos. No discurso de Natal, repetiu a dose, agora para todos os portugueses. Não há dificuldades, o governo tudo ultrapassou, e a nossa economia está assim mais bem preparada para enfrentar os desafios e as incertezas da economia global.
Mas eu duvido da tese, porque nem só de êxitos se faz qualquer governação, e duvido do método, porque nunca se deve subestimar a inteligência das pessoas. E entre o To be de Sócrates ( e vou usar palavras do próprio) e o Not to be de muitos portugueses vai uma larga distância.
To be- ...o défice orçamental ficará abaixo dos três por cento...
Not to be- mas a despesa pública não diminuiu e o défice foi aliviado simplesmente à custa de mais impostos, implicando maiores dificuldades para os cidadãos e as empresas, menor investimento, menor formação, mais desemprego.
To be-...a economia portuguesa prossegue de forma consistente uma trajectória segura de crescimento…com um crescimento económico... próximo dos dois por cento em 2007...
Not to be-A trajectória mais baixa dos países da CE, o que nos leva a aumentar a divergência.
To be-...temos este ano mais alunos no ensino secundário e no superior...
Not to be-À custa de passagens administrativas no básico, na sequência das medidas aplicadas com vista a um fácil sucesso escolar.
To be-...360 mil portugueses inscreveram-se no programa Novas Oportunidades para melhorarem as suas qualificações...
Not to be-E, sobretudo, para obterem o diploma do 12º ano em três meses.
To be –...Aumentámos o emprego e temos agora boas razões para acreditar que a criação de emprego vai prosseguir nos próximos anos...
Not to be-Mas o que se verifica é que o desemprego atingiu a sua maior taxa de sempre, aproximando-se vigorosamente das maiores taxas da CE.

Não se podem negar alguns êxitos do governo. Mas é nítido que o país passa por grandes dificuldades, na economia, na segurança interna, na justiça, na educação, que não podem ser ignoradas. A primeira forma de respeito de um Governo pelos seus cidadãos é considerar que estes não são menos inteligentes do que o 1º Ministro ou os Ministros que o compõem. Ao escamotear tais dificuldades, e ao esconder a face feia da moeda, não creio que nós, cidadãos portugueses, tenhamos sido respeitados pelo 1º Ministro.

3 comentários:

  1. Há de facto alguns êxitos do governo, particularmente nas áreas onde teve o mérito de estar quieto sem fazer nada que, parecendo que não, é uma grande vantagem face aos seus antecessores. Nestas está o crescimento económico, muito devido à economia paralela que está pujante e geradora de um crescimento das receitas fiscais bem acima do que seria previsível e lido pelo crescimento do PIB.

    Outro êxito notável do governo está na redução da despesa escrita devido a essa reforma estrutural fundamental que é aldrabar nas contas dos estado. Se alguém se tivesse lembrado disto antes escusavamos de passar dificuldades, bastava decidir que não queríamos passar dificuldades.

    Nas coisas em que o governo resolveu fazer alguma coisa, fez asneira. Como todos antes deles e, previsivelmente, todos os que ainda virão.

    Há, com certeza, algumas medidas folclóricas e sem grande impacto real para o qual deveriam estar destinados todos os governantes. E dessas há que elogiar vigorosamente o governo para que cada vez mais os políticos se dediquem a elas. Tipo "foi o governo que revolucionou e implementou a IVG em Portugal!". Nós, povo, deveríamos exigir mais medidas deste tipo, mais empenho dos governantes no casamento homosexual, nos direitos dos chimpanzés, nas salas de chuto, na discussão da eutanásia, etc.Seríamos todos muito mais ricos....

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  2. Sempre em grande e magnífica forma, o Tonibler!...
    E de uma sabedoria incontornável!...

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  3. Realmente alguém que explique ao senhor dito "engº" que por muito que ele ladre, a caravana passa. E passa a caravana da oportunidade de se fazerem reformas profundas em quase todos os sectores de intervenção do Estado, nomeadamente na educação.

    É um verdadeiro embuste o que está a ser proposto a centenas de milhar de portugueses, acenando-lhes com uma "via verde" para terem um diploma do secundário, menosprezando o esforço de muita gente que se empenhou em acabar o 12º pela "via normal". Esquece-se o governo que a qualificação é um meio e não um fim.
    O zé povinho lá se vai inscrevendo e acabando o curso. De outra forma não podia ser, dado que o sucesso é garantido.
    E com este passe de mágica se resolve em meia dúzia de meses um problema crónica da nossa sociedade. Palmas para o prestidigitador Sócrates e a sua brilhante assistente Lurdinha...

    O que vale é que todos sabemos que o homem ainda está inebriado pela sua prestação na presidência europeia...o pior é a ressaca, que já se adivinha!

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