O FMI acaba de anunciar a revisão em baixa das suas previsões de crescimento económico para o corrente ano, reduzindo para 1,6%, dos anteriores 2,1% a previsão para a Zona Euro.
Em Portugal, o Governo, com o BdeP atrelado a uma distância de 0,2 pontos apenas, continua a sustentar que não existem razões fundamentais para rever a previsão de crescimento de 2,2%.
A ser assim, a economia portuguesa, depois de anos no penúltimo ou último lugar no “ranking” do crescimento europeu, salta de supetão para um dos lugares cimeiros.
Vamos ficar quase ao nível da Espanha, cuja taxa de crescimento foi já revista em baixa por duas vezes.
O Governo espanhol tinha assumido como cenário base, aquando da discussão do Orçamento para 2008, um crescimento de 3,7%.
Essa previsão havia sido já corrigida para 3,0% e, nos últimos dias, foi anunciada nova revisão em baixa, desta vez para 2,6%.
Em Portugal, mantém-se heroicamente a previsão adoptada aquando da apresentação da proposta de Orçamento para 2008, os 2,2% acima referidos, já lá vão mais de 3 meses.
Nada tenho contra essa postura heróica...acho até muito bem, muito louvável, nos tempos que correm, que se assumam atitudes de desafio, de coragem, de ruptura com os consensos nesta área como noutras...
A única questão que aqui suscito, na esteira da já discutida teoria do Oásis, é a de saber se este desafio que estamos a travar será com a Zona Euro ou com as leis da gravidade aplicadas à economia...
Porque se estivermos a desafiar as leis da gravidade, o risco de ficarmos “sem cara” daqui por algum (não muito) tempo não é nada desprezível...
Aceito – e já aqui deixei meu aplauso – a ideia de neutralizar os efeitos dos aumentos de preços no indicador da inflação, tornando esta insensível às variações dos preços...todos ficam a ganhar com isso, sobretudo os que quase não têm quase acesso a quaisquer bens...
Mas já me parece bastante mais difícil admitir que o crescimento económico possa constituir um mero exercício de fé...
A não ser que se parta do princípio de que as agências de comunicação, na altura própria, terão a receita milagrosa para justificar - quiçà transformar em sucesso - o insucesso.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarNão me parece que seja preocupante a desafinação de Sócrates no coro que anuncia o caminho da recessão, caminho que, provavelmente, já estamos a percorrer.
E não me preocupa porque não vejo que do optimismo de Sócrates venha qualquer mal ao mundo. Aliás, era preciso que a recessão fosse muito teimosa para não aparecer, tantos são os que por todo o mundo apregoam a aparição. A posição do governo tem o seu quê de garridice, o que, toda a gente sabe, faz bem à vida.
O que me preocupa é que, perante a iminência da crise, não apareçam sugestões, ideias, para a minorar.
O boletim meteorológico, perdoe a comparação, se tem alguma vantagem, é a de nos recomendar guarda-chuva ou qualquer outro abrigo no Inverno ou sugestão de praia no Verão.
Se a crise vem aí, que fazer?
Há dias, no Prós e Contras, Eduardo Catroga recomendava que o Governo pagasse a quem deve o que, lançando alguma liquidez adicional na economia, podia ajudar a espevitá-la. Parece-me bem. Aliás, parece-me que não deveria ser necessária a crise para o Estado se portar de forma honesta. Até porque daí poderia induzir uma prática corrente no sector privado mais consentânea com um comportamento que nos retirasse o labéu de maus pagadores (vulgo caloteiros) na Europa.
Parece que poderá, contudo, haver um problema gordo: o de não estarem os calotes do Estado inscritos no deve e a sua inscrição implicar o aumento por atacado no défice.
Outra ideia é a redução da carga fiscal.
Há dias retirei para este blog um artigo "Why the Stimulus Shouldn't Stimulate You"
By Steven E. LandsburgSunday
Poderá lê-lo aqui no Aliás (post de 27/1)
Creio que a conclusão do articulista faz sentido em outras paragens. Por exemplo aqui.
Que lhe parece?
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarNa volta, o homem tem razão. Se ele conhecer o cash flow previsto da AutoEuropa, o número até pode ser seguro. Não é um indicador económico, mas é seguro. Tal como a inflação sintética (ora cá está um bom nome para o nova inflação independente dos preços, tem um "aroma" a "wall street rocket science").
Caro Rui Fonseca,
ResponderEliminarSeja bem regressado, antes de mais!
Devo confessar-lhe que agora sim acaba de me dar um motivo de preocupação ao dizer-me que já não o preocupa o optimismo governamental, por muito pouco fundamento que possa ter...
Quando pessoas lúcidas como o Rui Fonseca deixam de dar importância aos erros de previsão económica, por muito evidentes que eles sejam ou pareçam, significa que chegamos à fase da cafrealização...
Desculpe a dureza da observação, mas é isto mesmo, infelizmente, o indiferentismo que começa a grassar entre as pessoas responsáveis do País.
As exigências ficam reservadas para a Oposição, que tem de apresentar medidas, sugestões, soluções, para facilitar a vida ao Governo...
Nessa versão politicamente correcta, a Oposição é vista como uma espécie de assessoria do Governo, trabalhando para lhe facilitar a vida - e depois ser acusada, curiosamente, de não ser capaz de fazer oposição...
Quanto à ideia/sugestão de o Governo pagar as enormes dívidas que vem acumulando, acho até curioso o facto de provir de quem nem uma palavra ainda disse ao facto de podermos testemunhar exactamente o oposto: as dívidas dos Serviços e Fundos Autónomos, das EPE e EP's têm vindo a crescer, então na área da saúde a ritmo impressionante.
Ainda há dias reparei numa notícia alusiva a um dos objectivos do Ministério da Saúde para o ano económico de 2007, qual era a redução das dívidas à indústria farmacêutica.
Sabe qual foi o resultado final? Essas dívidas aumentaram só 22%...
Que quer mais que lhe diga?
Redução de impostos?
Mas o Pinho Cardão e eu próprio não temos insistido de forma recorrente sobre esse ponto?
Com reservas da parte de comentadores entre os quais o próprio Rui Fonseca?
Um grande abraço, meu Caro.
Os Governos não podem fazer muito perante as crises e também não são os autores do crescimento.
ResponderEliminarMas como os governos são os primeiros a tomarem para si as glórias do crescimento, também são penalizados pelas crises.Têm assim o que merecem!...
Compete aos governos serem realistas e terem as políticas públicas correctas. Quando os governos não se querem aperceber das situações, não têm as políticas públicas adequadas.
É o que vem acontecendo em Portugal. Por isso, as consequências são piores.
Mesmo com algum eleitoralismo à mistura, Zapatero fez o óbvio, que foi restituir impostos aos agentes económicos. E deu uma razão de fundo: dinamizar a economia, através do investimento e do consumo privado.
Não se percebe isso em Portugal?
Não.
ResponderEliminarDinamizar a economia? as empresas?
Isso são negócios e de vigaristas.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarVolto para tentar clarificar o que no meu comentário concluo ter ficado menos entendível.
Eu não desvalorizo o interesse das previsões no comportamento dos agentes económicos. O que eu penso é que se Sócrates & Cª já tivesse
afinado com o coro da recessão e revisto em baixa a previsão de crescimento económico em 2008, esse alinhamento, só por si, não teria tido qualquer influência no andamento da economia. E, se tivesse, provavelmente teria sido negativo.
Um dia destes, forçosamente, terá de o fazer invocando a conjuntura internacional, bla, bla, bla, bla, bla, bla. E nada, só por esse motivo, se alterará.
O que, talvez, poderá alterar alguma coisa será a adopção de algumas medidas que coloquem nos bolsos privados mais liquidez, o pagamento dos atrasados, por exemplo. O que implica aumento da dívida pública, e provavelmente aumento do défice. Implicaria também a adopção de procedimentos que impedissem voltar atrás, à situação de laxismo crónico na assumpção de compromissos pelo Estado.
Quanto à redução dos impostos, trata-se de uma medida que também subscrevo, e nunca disse outra coisa. O que disse é que não sei como é que isso se faz sem redução da despesa pública ou aumento descontrolado do défice.
Por outro lado, os aumentos do consumo e do investimento em simultâneo, são conflituantes: ou poupamos para investir ou consumimos e não poupamos. Se a opção, por ser de curto prazo, for consumir, irá esse consumo dinamizar a produção interna ou desequilibrar ainda mais a balança comercial? Receio que o resultado seria o crescimento das importações.
Mas não tenho certezas.
Quem tem?
Oh meu Caro Rui Fonseca, meu Amigo não para de surpreender...
ResponderEliminarEntão acha que manter previsões desligadas da realidade pode ser bom para a economia?
Acha isso melhor do que apresentar previsões realistas - boas ou más - de acordo com os fundamentos económicos?
Não o sabia tão rendido à teoria do Oásis...
A propósito, sabia que a previsão de crescimento em Itália, para este ano, foi reduzida de 1,7 para 1%? E que nós temos estado colados à Itália?
Quanto ao problema do pagamento mais rápido das dívidas a fornecedores de bens e serviços, que poderia dar uma ajuda à economia, meu ponto é este: o que estamos a observar, com especial gravidade na área da Saúde, é um significativo alongamento dos prazos de pagamento...
Se quiser informação sobre o tema, recomendo-lhe a leitura do último relatório do Tribunal de Contas, facilmente acessível no respectivo site.
Acha que faz algum sentido prático recomendar, nestas condições o encurtamento dos prazos?
Quando sabemos de antemão que aquilo a que vamos assistir é ao alongamento desses prazos, prolongando a tendência dos últimos anos?
Acha sinceramente que isso adianta alguma coisa?
Não acha bem mais importante, nesta fase, denunciar, de forma objectiva mas firme, o erro desta política?
E muita atenção ao galopante endividamento externo que está em vias de se tornar um tremendo constrangimento - mais um - para a economia portuguesa.
Leu por acaso o "expresso" do último sábado acerca desse tema?
Caro Dr. Tavares Moreira
ResponderEliminarJulgo que deve haver bom senso e prudência nas projecções sobre o crescimento económico porque estas mexem com as expectativas dos agentes económicos (empresas e demais investidores). Nada pior que defraudar as expectativas. No quadro conjuntural actual da crise financeira vigente, de algum grau de pessimismo e cautela da parte dos empresários em arriscar novos investimentos, do nível de desemprego e das restrições à promoção de um forte investimento público por motivos que se prendem com o controlo do déficit, tenho alguma dificuldade em entender a sustentação da taxa de crescimento prevista anteriormente, tanto mais que quas todos os nossos principais parceiros de comércio internacional (em especial a Espanha para onde exportamos 28% do total)estão a rever as suas próprias taxs de crescimento.
Como diz o ditado - cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
Um abraço
Mário de Jesus
Penso também que deve haver bom senso e prudência nas projecções sobre o crescimento da economia em 2008.
ResponderEliminarMas, bom senso, é reflectir na realidade das coisas; as projecções apontadas, nomeadamente as do FMI, indicam uma desaceleração da economia global, logo, parece óbvio que a economia portuguesa também irá desacelerar. Não vale a pena "camuflar" esta situação porquanto, os investidores são pessoas bem informadas e certamente que ajem de acordo com os ecos que entretanto lhes vão chegando. Por isto, bom senso, deverá ser em minha opinião, o governo dar a informação o mais transparente possível.
Caros Mário de Jesus,
ResponderEliminarOs vossos comentários revelam uma qualidade que tem estado bastante ausente entre nós: bom senso.
Basta uma dose média de bom senso, parece-me, para se perceber que estamos, com esta teimosia num cenário de crescimento irrealista, a criar problemas para o futuro...
Diz muito bem o Mário de Jesus que com isto se corre o risco de defraudar expectativas.
E uma vez defraudadas as expectativas, abre-se um problema de falta de credibilidade.
E isso é muito mau para qualquer economia, designadamente para a nossa em que é essencial reconquistar a confiança dos investidores.
Caro Invisível,
ResponderEliminarPeço desculpa de não o ter nomeado no comentário anterior, que também lhe era dirigido...
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarDesculpe a insistência mas eu não
disse que achava "que manter previsões desligadas da realidade pode ser bom para a economia"
O que disse foi que a revisão em baixa (ou em alta, já agora acrescento)só por si não altera o rumo da economia. Influencia os agentes económicos, sem dúvida, mas uma revisão em baixa, teremos de concordar, dificilmente os influenciará positivamente. O que poderá influenciar serão as medidas contracíclicas que puderem ser adoptadas pelo governo.
Pergunta-me o meu Amigo: "A propósito, sabia que a previsão de crescimento em Itália, para este ano, foi reduzida de 1,7 para 1%? E que nós temos estado colados à Itália?"
Com toda a consideração que me merece, discordo da fatalidade que esta conclusão supõe: primeiro, porque nenhum nexo de causalidade nos liga tão intimamente à Itália no campo económico;segundo, porque se continuarmos a alinhar pelos mais desenvolvidos nas descidas e abaixo deles, ou ao lado deles, nas subidas, vamos perdendo cada vez mais posições no pelotão.
Portugal tem de crescer mais do que os que estão na frente sob pena de recuar cada vez mais na classificação geral.
E claro está, isso não se consegue com revisões das previsões mas com medidas que as contrariem.
Salvo melhor opinião.
PS(D) - Como bem sabe, o FMI tem um notável curriculum de previsões menos acertadas.Mas receio que não vá ser o caso desta vez. Lamentavelmente.
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarNão sou técnico destas matérias e tenho grande consideração pelo rigor da informação e comentários que habitualmente nos trás. Terá naturalmente razão quando demonstra a inevitabilidade da tendência, a curto prazo, de alguns números mas permita-me também mudar um pouco o ângulo:
- alinho pelas palavras de Rui Fonseca;
- não entendo porque é que nos resignamos a lógicas de determinadas fatalidades da nossa economia;
- se nas empresas observamos que entre o sucesso e o insucesso a fronteira é estreita, porque é que na macro economia não se parte do mesmo principio. Não sei se me entende, mas com um pouco mais de esforço e génio podemos passar a crescer 5%.
- Portugal não tem nenhum estigma negativo que impeça de crescer, pelo contrário;
- Agora mais concretamente e a título de exemplo, precisamos como de pão para a boca de disponibilizar recursos para os privados investirem. É claro que são precisas medidas corajosas. Mas será preferível continuarmos nesta resignação, adormecimento?
- poderíamos dizer que somos como Cabo Verde, temos um território pobre, carente de tudo que vem do exterior e como tal teríamos de ser realistas com a nossa condição. Mas não é de todo a nossa condição e até Cabo Verde está a crescer a 7%.