Compreendo que o sr. Engº José Sócrates relativize a importância dos seus compromissos para com o eleitorado. Já tinha quebrado, antes, promessas eleitorais. Esta, da promoção do referendo para a ratificação do tratado reformador das instituições comunitárias não traz, por isso, qualquer novidade nem provoca, por aí, qualquer especial emoção.
Compreendo que o Tratado de Lisboa mantendo - por vontade expressa dos actuais dirigentes europeus - a lógica aristocrática do governo da União, não estimule particularmente a vontade de obter uma legitimação popular sobre a proposta de reforma das instituições.
Compreendo também que Sócrates queira capitalizar para si o impacto de uma presidência bem sucedida no propósito de rapidamente fechar as negociações e assinar o texto do tratado, evitando que um debate sobre os méritos e deméritos do projecto europeu fizesse esfumar o suave perfume do sucesso.
Compreeendo que o Engº Sócrates não queira ser visto pelo seu amigo Sarkozi como o "traidor" ao compromisso de arrumar de vez o assunto do novo modelo institucional, para que se pudesse passar à fase da legitimação do domínio político do eixo franco-alemão e do vigilante caminho paralelo do Reino Unido.
Compreendo que a euforia "porreiro, pá!" tenha sido antecipadamente ensaiada após um necessário e prévio compromisso entre as lideranças dos Estados (por mais negada que seja) e que o referendo não seja compatível com esse acordo.
Compreendo que, no plano interno, todas as condições, todas as solidariedades relevantes tenham sido garantidas para que o Engº Sócrates e o PS não corressem qualquer risco político na tomada da decisão de rejeitar o referendo.
Compreendo que o Engº Sócrates entenda que o povo é ignato, incapaz de decidir sobre o seu futuro, e que os políticos são incompetentes para explicar não o texto mas o sentido e o alcance do Tratado de Lisboa, e por isso se descartem dessa responsabilidade.
Compreendo tudo quanto antecede.
Mas não aceito o atentado à inteligência de todos nós que é a explicação dada pelo senhor Primeiro-Ministro e secretário-geral do partido mais votado para rejeitar o referendo e quebrar a promessa que ninguém o obrigou a fazer. A de que o tratado já não se chama constitucional, mas sim de Lisboa!
Haja respeito para que se sinta que ainda existe alguma decência na política.
LOL :))) LINDO!!!!
ResponderEliminarQuando ouvi essa notícia, hoje de manhã, pensei exactamente no mesmo. Essa desculpa do nome do tratado foi excelente de tão imbecil que é.
No entanto, caro JMFA, vai ver que essa é uma desculpa que tem toda a possibilidade de pegar e sabe porquê? Porque toda a comunicação social andou durante tempos a anúnciar a nova "constituição" da Europa. Ninguém quis saber, nem estavam interessados, em dizer a verdade - i.e. que o documento era acima de tudo um Tratado - sobre a pseudo-constituição europeia. Queriam ver qual era a reacção do povinho à possibilidade de existir uma constituição europeia, mas como as coisas correram mal agora já é um Tratado (e como é óbvio, os tratados não precisam de ser referendados, nem constituem matéria de referendo).
Como a maior parte das pessoas «não vê um boi de Relações Internacionais» e vê muito menos sobre Tratados, vão achar que uma coisa não tem nada a ver com a outra quando na realidade até tem.
Não sei se já tiveram oportunidade para olhar para o texto do tratado mas, asseguro-vos que é hilariante. É basicamente um bailarico de artigos que dizem que uns revogam outros e meia volta alteram uma coisita aqui e outra coisita ali. É um comum exercício de dar a volta ao texto. Dizer as mesmas coisas por outras palavras.
Isto, meus senhores, é o tratado de Lisboa.
Caro Ferreira de Almeida:
ResponderEliminarPolíticos da envergadura de um Sócrates não podem ficar reféns de promessas anteriores.
"De minimis non curat pretor", já diziam os latinos: com coisas sem importância não se deve preocupar o pretor, digo Sócrates!...
Meu caro...
ResponderEliminaro que vertido em vernáculo será:
Sois umas bestas! estúpidos, é política.
Repito... afinal «quem se faz verme o mais que pode almejar é que o esmaguem».
Força!
David Oliveira
Previsão para os comentadores políticos logo à noite: "Só os burros é que não mudam de opinião..."
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