A propósito das crises continuadas no sistema financeiro, e tomando como exemplo as do Bear Stearns, do Citibank e do Carlyle Fund, apresentei ontem 3 razões para estas crises: o “excesso” de informação aos mercados, o enfoque da gestão nos objectivos de rentabilidade a curto prazo, impulsionada pelos esquemas de remuneração dos gestores baseado em stock options ou na valorização bolsista e o comportamento dos analistas de mercado. Neste contexto, o sub-prime não é pois uma causa, mas um efeito. Vamos à primeira causa.
Pensou-se que a disponibilização frequente de informação de gestão às autoridades e reguladores evitaria casos como os descritos. Assim não aconteceu, nem acontecerá. E mais informação, como alguns reguladores pretendem, só agravará o mal.
A obrigatoriedade de informação trimestral é um dos maiores dinamizadores e aceleradores das crises. Tal informação tem impacto imediato nas análises bolsistas e no valor das acções, e esse impacto tem como efeito mais importante, não a transparência de actuação, mas a tomada de decisões que tragam rentabilidades a curto prazo, em detrimento do “investimento” no reforço sustentado das capacidades da empresa.
Os gestores sentem a espada dos analistas financeiros que, face à informação disponibilizada, facilmente alteram as expectativas que eles próprios produziram, passando a antever descidas quando há pouco viam estruturadas subidas e marcando a cotação dos títulos.
Por isso, em vez de trabalhar para os accionistas, os gestores são levados a trabalhar para os analistas, procurando formas novas de produção de resultados imediatos, geradores de recomendações favoráveis e de fixação de preços-alvo apetecíveis. Sem factos novos ou novos produtos, as recomendações são de baixa, pois a estabilidade das cotações não favorece o negócio: “manter” carteiras não traz proventos às Corretoras ou aos Bancos de Investimento.
Como não é possível manter crescimentos anormais indefinidamente, a pressão de resultados imediatos e crescentes leva naturalmente a decisões de risco e à “invenção” de produtos de risco, como a utilização intensiva de sofisticados produtos derivados, engenhosamente propostos pela Banca especializada como serviço personalizado e à medida, rentáveis no presente, mas geralmente escondendo prejuízos futuros. E favorece transacções virtuais, escondidas em veículos financeiros encobertos por sigilosas plataformas off-shore.
Pelo meio, leva a contabilidades “criativas”, facilmente camufláveis nos milhões e milhões de registos contabilísticos ou, no limite, até a contabilidades fraudulentas.
Pensou-se que a disponibilização frequente de informação de gestão às autoridades e reguladores evitaria casos como os descritos. Assim não aconteceu, nem acontecerá. E mais informação, como alguns reguladores pretendem, só agravará o mal.
A obrigatoriedade de informação trimestral é um dos maiores dinamizadores e aceleradores das crises. Tal informação tem impacto imediato nas análises bolsistas e no valor das acções, e esse impacto tem como efeito mais importante, não a transparência de actuação, mas a tomada de decisões que tragam rentabilidades a curto prazo, em detrimento do “investimento” no reforço sustentado das capacidades da empresa.
Os gestores sentem a espada dos analistas financeiros que, face à informação disponibilizada, facilmente alteram as expectativas que eles próprios produziram, passando a antever descidas quando há pouco viam estruturadas subidas e marcando a cotação dos títulos.
Por isso, em vez de trabalhar para os accionistas, os gestores são levados a trabalhar para os analistas, procurando formas novas de produção de resultados imediatos, geradores de recomendações favoráveis e de fixação de preços-alvo apetecíveis. Sem factos novos ou novos produtos, as recomendações são de baixa, pois a estabilidade das cotações não favorece o negócio: “manter” carteiras não traz proventos às Corretoras ou aos Bancos de Investimento.
Como não é possível manter crescimentos anormais indefinidamente, a pressão de resultados imediatos e crescentes leva naturalmente a decisões de risco e à “invenção” de produtos de risco, como a utilização intensiva de sofisticados produtos derivados, engenhosamente propostos pela Banca especializada como serviço personalizado e à medida, rentáveis no presente, mas geralmente escondendo prejuízos futuros. E favorece transacções virtuais, escondidas em veículos financeiros encobertos por sigilosas plataformas off-shore.
Pelo meio, leva a contabilidades “criativas”, facilmente camufláveis nos milhões e milhões de registos contabilísticos ou, no limite, até a contabilidades fraudulentas.
(Continua)
É verdade, concordo com quase tudo. Só não concordo com o trabalhar para os accionistas como objectivo do gestor, esse é um dos problemas. O mui ilustre presidente de um mui, mui, mui ilustre banco alemão compra acções próprias do banco para retirar acções da rua, para subir o dividendo a pagar aos accionistas e, assim, garantir o voto na próxima assembleia geral. E trafulhices destas em que se rouba a empresa a "trabalhar para o accionista" há ao pontapé. Ainda hoje ou ontem se noticiava que os dividendos no PSI20 aumentaram apesar da quebra nos resultados, indicando que há muita empresa a ser roubada.
ResponderEliminarEu gosto mais dos gestores que trabalham para a empresa, para os seus trabalhadores e para os accionistas que dependem da sua existência, porque accionista que é hoje e amanhã não, não interessa.
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarDo meu ponto de vista, e na sequência do meu comentário de ontem, há um factor gerador primordial de todos os furacões financeiros: a incontível tentação dos operadores financeiros em realizar as acções que lhes proporcionem as maiores vantagens sem olhar a meios, porque todos, do ponto de vista deles, são bons se servirem aos fins visados.
Tu acrescentas o excesso de informação e a intervenção enviesada dos analistas. Não me parece que essas razões se localizem no olho do furacão. São, quanto muito, poeiras que tornam o ambiente ainda mais opaco mas não provocam o desencadear dos movimentos destruidores.
Guiam-se os grandes investidores ou especuladores pelo que dizem os analistas? Claro que não. Quanto muito os analistas dizem o que alguns deles lhes mandam dizer.
Quem intervem no mercado grossista tem os seus próprios meios de análise.
Os pequenos investidores que entregam aos gestores de fundos as suas economias fazem-no por uma questão de fé: por mais que se desunhem a esgravatar na informação que vem a público não descortinarão nunca os canais, e a que horas, por onde passaram os seus dinheiros.
A indústria bancária é feita de passes de mágica que escapam aos espectadores que se sentam na plateia e só os entendem os que têm assento por detrás da cortina.
É precisamente a opacidade que permite o saque que está na origem do furacão e não o contrário.
Não creio, contudo, que a solução do problema passe pela adopção de medidas de maior regulação.
Acredito, no entanto, que passa por medidas que possam garantir maiores meios de defesa aos investidores que não sejam accionistas de referência, isto é, que não tenham nenhuma intervenção (directa ou indirecta) na gestão dos bancos.
A derrocada dos mercados financeiros reduz, por vezes até nada, as poupanças em fundos de pensões. Quando tal acontece, é porque o gestor ou gestores desses fundos não acautelaram um princípio básico que preside à constituição de um fundo de pensões: o de que os investimentos deverão ser de baixo risco já que não há, teoricamente, nenhum investimento de risco zero.
Pelas práticas de actuação dolosa, que se fazem em nome de outros interesses e não daqueles previstos na definição dos produtos financeiros largamente publicitados deveriam ser responsabilizadas criminalmente os seus autores e por elas responderem os seus bens.
Enquanto tal não suceder continuarão a acontecer as ocasiões que fazem os autores dos furacões.
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"Parece-me que só discordamos quanto à despesa pública!..."
A respeito de despesa pública que discordâncias temos?
Caro Tonibler:
ResponderEliminarSem accionistas, sem trabalhadores e sem clientes não há empresa. O Gestor tem que trabalhar para remunerar os accionistas; estes não serão remunerados se não houver clientes fieis e satisfeitos e não há bom serviço a clientes sem trabalhadores motivados, motivação que passa também por uma adequada remunreração. Fala dos accionistas que dependem da empresa; por mim, dependendo ou não, o accionista, qualquer accionista, é elemento essencial.
Mas também concordo que, em certos segmentos de análise, há accionistas e accionistas...
Caro Rui:
Perguntas se os grandes investidores ou especuladores se guiam pelo que dizem os analistas? Claro que não, respondes.
Também acho.
Mas os grandes especuladores são os maiores beneficiados pela pressão que os analistas colocam nos gestores, levando-os a "inventarem" produtos e resultados, de que também vão beneficiar através das stock options.
Claro que os grandes especuladores não acreditam em milagres continuados, pelo que vendem na melhor ocasião...
Referir-me-ei ao facto no terceiro post.
Também concordamos quanto à despesa pública?
Óptimo!... Prossigamos então uma luta conjunta contra a dita!...