O Euro não para na sua marcha de valorização contra o USD – acaba de romper a barreira 1,56 USD e, por este andar, não me espantará que chegue em breve a 1,6 USD.
Face a este cenário, Trichet lamentou esta semana, alto e bom som, as “flutuações excessivas das taxas de câmbio”.
Todavia, a evolução recente das taxas de câmbio constitui uma resposta dos mercados aos comportamentos das economias e aos sinais das políticas monetárias.
Do lado das economias, cabe realçar o aprofundamento da “crise” nos USA e, em contraponto, a notável robustez evidenciada pela economia alemã cujas exportações mantiveram em Janeiro uma forte dinâmica, além da melhoria da confiança dos agentes económicos.
Do lado das políticas monetárias, é também visível o contraste entre o Banco de Reserva Federal - FED, que tem tomado medidas sucessivas no sentido de tentar estimular a economia americana, designadamente com uma agressiva descida das taxas de juro – até agora com muito pouco sucesso – e o Banco Central Europeu que não mexe as suas taxas desde Junho do ano passado.
Assim sendo, alguma surpresa com a evolução da taxa de câmbio €/USD?
Ou quereria Trichet lamentar não a evolução dos câmbios mas antes a política do FED que tanto tem contribuído para essa evolução?
Entretanto, a inflação na zona Euro, em Fevereiro, manteve-se teimosamente em 3,2% e não existem factores que façam prever a sua desaceleração para já – ao contrário do que o Gov/BP profetizava, com muita segurança, em Novembro passado (discutia-se então o OE/2008...).
Até pode acontecer que a inflação suba ainda um pouco na zona Euro (Portugal é excepção, desfrutamos do raro privilégio de uma taxa de inflação que não é sensível à evolução dos preços...), complicando-se o puzzle para Trichet.
Acresce que política monetária única para economias com muito divergentes posições cíclicas, como se desenha na zona Euro, torna-se ainda mais ingrata – temos a Alemanha pujante e a Espanha em queda...
Trichet não vai mesmo poder dormir.
Mas que bom seria nesta altura estarmos vizinhos da Alemanha...
Caro TM,
ResponderEliminar"Acresce que política monetária única para economias com muito divergentes posições cíclicas, como se desenha na zona Euro, torna-se ainda mais ingrata – temos a Alemanha pujante e a Espanha em queda..."
Não acontece o mesmo nos EUA? Não se fala no comportamento económico do Texas, da Califórnia,... e depois de outros estados, numa outra liga, tipo Kentucky, Missipi, Arkansas,...?
Não será uma inevitabilidade, quando se tem uma tão vasta superfície sob uma mesma moeda? Meia-dúzia (força de expressão) de atractores sifonam o dinheiro e o talento... um pouco como a drenagem que Lisboa faz ao resto do país.
Caro Tavares Moreira, mas será que não é exactamente esse o objectivo da Fed, o USD baixo? E a Europa, Japão, mundo em geral, que se aguentem! Por um lado para potenciar a exportação da produção americana e, por essa via, impedir a estagnação do crescimento e, simultaneamente, diminuir a colossal dívida americana. Repare que o USD não está a cair apenas contra o Euro. Está a cair contra tudo. Os dolares australiano e neo-zelandês estão a bater recordes de décadas o primeiro e de sempre o segundo contra o USD. O USD/JPY está a valores a que não estava há vários anos, estando muito perto dos 100USD (faltam uns cêntimos neste momento).
ResponderEliminarEmbora o Senhor Bernanke vá ocasionalmente dizendo o contrário, o que é facto é que não apenas o que tem feito como também o que tem dito nos sítios efectivamente importantes - e isto é importante para o sentimento dos investidores nos mercados de Forex - têm levado continuamente o USD para baixo. O melhor expoente disto foi aquando da sua «conversa» chamemos-lhe, no Congresso, há duas semanas. Durante 2h o USD esteve a ser vendido e a cair de preço ininterruptamente.
Efectivamente partilho da sua opinião de que o governador do BCE pretendia criticar a política seguida pela FED por tabela daquilo que criticou. Mas, e há aqui um mas, não sei se se recorda, há sensivelmente 2 anos, quando o câmbio EUR/USD chegou ao seu máximo de sempre até então, os 1.3667. Nessa altura não faltaram vozes de todo o lado a intervir de todos os lados, Europa, Japão, Austrália, contra a desvalorização do USD e que por fim, no seguimento de uma intervenção do ministro das Finanças Francês levaram à inversão da tendencia de queda do USD. Neste momento vêm-se intervenções tímidas de todo o lado, nada que se pareça com o reboliço de há 2-3 anos, tanto na Europa como no Japão, o que me deixa a pensar bastante.
Todo este assunto convém ver com atenção. Eu estava convicto de que o USD não iria baixar dos 1.52 contra o EUR nem dos 105 contra o JPY mas o que é facto é que baixou. Supus que viesse a haver intervenção dos bancos centrais nesse sentido mas o que é facto é que, em absoluto, ela não ocorreu. Mais, na última reunião do G8 foi um tema falado por alto e, liminarmente recusada qualquer intervenção de qualquer banco central ou consertada no sentido de forçar uma correcção da actual tendencia. Seria sempre um mero balão de oxigénio temporario, é certo, mas daria um par de semanas de folga. Chegar aos 1.60 é neste momento um objectivo ao alcance da mão e bem possivel, efectivamente, e há analistas que falam em 1.75 até ao Verão.
Quanto ao senhor Trichet... bom, que tente governar a montanha russa o melhor possivel... e que Deus o ajude. A ele e a nós!
Confesso que não sei se é o senhor Trichet que tem pesadelos ou se é a política que inspira que está a provocar pesadelos a muita gente. Vou lendo aqui e ali as opiniões dos economistas (que parecem rivalizar com os juristas no número de soluções para o problema sem que se entendam muitas vezes quanto à equação...), e vou pensando se vale a pena esta aposta no controlo da inflacção à custa de um crescimento muito moderado que nos vai (á Europa) colocando num situação de cada vez mais acentuada perda de competitividade em relação a outras economias...
ResponderEliminarCaro CCzed,
ResponderEliminarA situação nos USA e na zona Euro em matéria de política monetária é muito distinta, embora possa parecersemelhante à 1ª vista dadas as diferenças de ritmo económico entre os diferentes estados americanos.
A principal razão para essa distinção consiste no facto de o Orçamento Federal no caso dos USA ter uma importância muit(íssim)o superior ao Orçamento da União Europeia a 15 ou 27, o que significa que os USA dispõem de um instrumento federal de intervenção sobre a actividade económica que na UE não existe.
Na UE os Orçamentos nacionais são largamente predominantes, ocorrendo ainda frequentes situações de políticas orçamentais pró-cíclicas que podem acentuar as divergências nacionais no tocante às posições cíclicas.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarHá dias, o meu Amigo, desafiou-nos a comentar o seu prognóstico (confirmado) de que o BCE não iria descer as taxas de juro.
Suponho que quem comentou concordou.
Devo deduzir agora, da sua perspectiva de hoje, que a decisão de Trichet não decorreu de uma ponderação conveniente dos fundamentos da conjuntura mas de uma obstinação em não mexer nas taxas?
Por outro lado, parece-lhe que a baixa das taxas de juro na Zona Euro espevitaria a economia portuguesa? Ou provocaria um aumento generalizado da inflação na Eurolândia?
Creio que o problema maior da economia portuguesa é de falta de potencial, que nem a redução das taxas de juro (nem a redução de impostos)consegue colmatar. Conseguiria, talvez, desequilibrar mais a balança comercial e aumentar o défice com o exterior.
Salvo melhor opinião.
Para o governo, Portugal é uma espécie de Springfield (Simpson's), temos uma cúpula a volta do nosso pais, e não somos afectados por crise alguma, alias a palavra crise não é mais que ficção cientifica, essa malta ai a queixar-se não é mais que meia dúzia de malandros conotados com a CGTP...
ResponderEliminarCaro Zuricher,
ResponderEliminarMuito elaborado seu comentário, nada a observar...salvo a ajuda de Deus a Trichet que me parece altamente improvável...
Entretanto a inflação na zona Euro subiu para 3,3% em Fevereiro...
Caro Ferreira de Almeida,
A principal vantagem dos nossos economistas sobre os juristas reside na capacidade para efectuar previsões sobre factos passados, com um grau de acerto da ordem de 50%...
Caro Rui Fonseca,
Não estou convencido de que, nas condições actuais, o nível de taxas de juro com mais ou menos 0,75% ou mesmo 1% seja determinante para a inflação ou para a dinamização das economias europeias...
Veja quanto as taxas já baixaram nos USA e o que está acontecendo à economia...quando há problemas estruturais a condicionar o crescimento, o poder da política monetária é escasso ou nenhum!
O BCE tem, como tudo, vantagens e desvantagens. Enquanto temos a virtude de possuir uma moeda forte e credível para negociar, temos no entanto de nos sacrificar em virtude das maiores potências económicas europeias. ( isto foi uma aula À cozinheiro-chefe)
ResponderEliminarCom a crise do subprime, os investidores começam a refugiaram-se nas "commodities" o que provocará uma inflação alta até haver sinais de confiança estáveis nos EUA. Trichet agora enfrenta um problema. Com a economia espanhola a ser vitima da crise imobiliária e com a Alemanha a gozar de pujante estabilidade, é caso para Trichet sofrer de insónias. Ainda para mais porque se baixar as taxas de juro, poderiamos ter uma inflação ao nível do Zimbabué.
Resta a Trichet fazer como Sócrates. Um bocadinho de marketing político. Visitar bancos sem liquidez e países em recessão. hehe
A ver vamos o que acontece...
A situação de Trichet agrava-se de dia para dia, André...
ResponderEliminarEle está entre a espada (inflação) e a parede (afrouxamento), faltando-lhe o génio de um M. Pinho para sair deste imbroglio!
Espero pelo menos que ele tenha estado hoje no Pavilhão do Académico no Porto, para aprender economia da boa!