terça-feira, 29 de abril de 2008

“Contrarianismo”

De vez em quando tropeçamos em novas palavras que nos despertam particular curiosidade. Confesso que nunca tinha ouvido a palavra “contrarianismo”. Não existe na nossa língua, é um anglicismo, mas os brasileiros já começam a utilizá-la. Mas foi precisamente na área da saúde que a apreendi. Afinal, pensei, também sou um “contrarianista”!
É do conhecimento geral a propagação das virtudes miraculosas de certos produtos, contrastando com opiniões menos favoráveis acerca dos mesmos. O café e o chá são estimulantes, tiram o sono, provocam taquicardia, mas acabam por serem apresentados como benéficos, por exemplo, prevenindo a doença de Alzheimer ou as doenças cardiovasculares. Estudos revelam que a obesidade é perigosa para a saúde, mas outros revelam que as pessoas com excesso de peso morrem menos! O consumo de bebidas alcoólicas é perigoso? É, claro. Mas não deixam de ser apresentadas como benéficas em termos de saúde, e não é só o vinho tinto, também a cerveja e muitas outras. O chocolate é mau para a diabetes e engorda? Sim! Mas isso não evita que surja com frequência, e cada vez mais, dados que apontam que é do melhor do que há para proteger as coronárias e não só! As gorduras trans são perigosas? São, ao ponto de certas indústrias já terem sido penalizadas pelo seu uso, mas agora começam a aparecer evidências de que também têm efeitos positivos! Enfim não vale a pena continuar com mais exemplos. Os que acabei de apresentar revelam efeitos opostos. De um modo geral, é bom recordar que na forma habitual de utilização ou de consumo poderão ser poucos saudáveis. Além do mais, muitos aspectos positivos decorrentes da presença de certas substâncias só se manifestam em quantidades relativamente avultadas. Neste caso, os aspectos negativos poderão sobrepor-se aos benéficos.
Os exemplos citados ajudam a suportar o “contrarianismo”. Afinal de contas o que é um “contrarianista”? Alguém que pode ser classificado como um “céptico são”. Não é propriamente um indivíduo sempre do “contra” ou um pessimista. Procura optimizar os recursos ou as informações disponíveis de forma a saber fazer bem e a escolher correctamente contribuindo para uma sociedade melhor. “É uma arte difícil de ser exercitada e mais ainda de ser compreendida”. Seja qual for a área em que nos movemos, devíamos cumprir algumas regras, nomeadamente na área politica. Nesta, certas posições assumidas por algumas pessoas são o oposto do “contrarianismo”.
Algumas regras para se ser um “contrarianista”: questionar as origens e os fundamentos de um processo, tal como fazem os linguistas e os epidemiologistas quando estudam a etimologia das palavras ou as causas das doenças; determinar se o problema em questão corresponde à essência do fenómeno em análise; perguntar as razões do porquê de ter surgido neste momento; examinar e avaliar todas as soluções possíveis; quando for encontrada a solução aplicar-se com empenho critico e, por fim, avaliar todo o processo, praticando um pouco de história virtual, ou seja considerar todos os resultados possíveis inerentes a um determinado processo.
Ser-se céptico não é mal nenhum, mas ser-se céptico e desonesto é um atentado à integridade do próprio e uma violação dos direitos dos outros. No entanto, ser-se “céptico são” é um sinal de maioridade e de credibilidade.
Muitos opositores políticos não são honestos, porque não respeitam as regras de como ser um verdadeiro “contrarianista”...

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