1. Os dados hoje divulgados relativos às contas com o exterior dão conta de um agravamento importante dos desequilíbrios da economia portuguesa, reflectidos num crescente défice das contas com o exterior.
O défice da balança corrente evidencia em Jan/Fevº uma subida de 25% em relação a igual período do ano transacto, podendo vir a situar-se este ano claramente acima de 10% do PIB.
2. Especialmente notável o que se passa com a rubrica dos Rendimentos, cujo défice, a manter-se a tendência dos últimos meses, pode só por si vir a representar um valor muito próximo de 6% do PIB no corrente ano...depois de ter atingido 4,6% em 2007.
Esta dependência do financiamento externo, que tem vindo a agravar-se de ano para ano – com a aparente indiferença dos responsáveis da política económica – pode vir a constituir uma poderosa condicionante das escolhas de política económica, nos próximos anos, pondo em causa, muito em especial, o programa de grandes obras públicas – quem as vai financiar e como irão esses financiamentos ser pagos, se o País suporta já hoje encargos de dívida tão elevados?
3. Não é fácil explicar este agravamento das contas com o exterior se aceitarmos por boa a tese, amplamente difundida em todos os media, de que têm sido implementadas reformas com grande impacto sobre a economia e, em particular, as chamadas “reformas difíceis”, envolvendo medidas de contenção que deveriam necessariamente produzir um impacto significativo na correcção do desequilíbrio externo...
4. Algo de estranho se passa, pois:
- Ou as reformas não são nada daquilo que tem sido apregoado, constituindo essencialmente operações de show-off, manifestações de intenção, muito pouco concretizadas...
- Ou então a estrutura plutonómica da economia portuguesa, traduzida no fosso entre os rendimentos mais elevados e os mais baixos acentuou-se nestes últimos 3/4 anos muito mais do que supomos, retirando eficácia às tais medidas de contenção, que atingem as famílias de rendimentos mais baixos mas deixam incólumes, ou cada vez melhor, as famílias de mais altos rendimentos...
5. Assinale-se, pela positiva, a evolução crescente das exportações de serviços (+50% em 2007/2006) – que não turismo ou construção – mostrando que tem sido criada uma malha de empresas competitivas nesta área...é promissor mas ainda é muito pouco (15,9% das exportações líquidas de serviços em 2007, face a 73% do turismo)...
6. Seria este um bom tema de debate, se existisse em Portugal uma Oposição que, em vez de passar a vida em intrigas internas/palacianas ou a tentar descortinar porque motivo sobem os preços dos bens alimentares (subida “incompreensível” face ao que se passa nos mercados desses produtos...) se preocupasse verdadeiramente em discutir a estratégia económica do País...que parece à deriva, para ser franco...
Cem por cento de acordo. Só que não tenho quaisquer duvidas quanto às "reformas não serem nada daquilo que tem sido apregoado".
ResponderEliminarEntão a "reforma" da Administração Pública é o exemplo mais acabado da inoperância, esbanjamento de dinheiros publicos e total ineficácia. Com ela vem aí mais despesa publica e paradoxo dos paradoxos um maior numero de funcionários pagos com dinheiros publicos.
Apenas um ou dois milhares de funcionários publicos sairam de funções. Outros vão sair sair da Administração Central para entrar na Administração Autarquica como está programado como os funcionários administrativos e de apoio das escolas que passam para as autarquias (cerca de 35.000). Nas contas de Teixeira dos Santos estes funcionários contarão para efeitos de propaganda como saídas da Administração. O que o ministro não contabiliza são os "funcionários", agora com estatuto diferente, que todos os dias entram nos novos Órgãos do Estado (Comissões, Institutos, Entidades, Auditorias, Gabinetes,etc)pagos pelos dinheiros públicos embora não "funcionários publicos".
Caro Tavares Moreira, permita-me a sugestão para que adicione a tudo o que escreveu mais uma variavel: o potencial que existe para a implosão do euro no médio prazo e o regresso das moedas nacionais dada a total incapacidade de um banco central europeu gerir a política económica de uma zona euro perante cenários diametralmente opostos nos países seus constituintes. Uns precisam de estimulos ao crescimento como de pão para a boca - nós, Espanha, França, Itália. Outros estão apavorados com a inflacção que, enfim, é ainda baixissima, como é o caso da Alemanha. Eis algo a observar com muita atenção e que nos mercados cambiais já vai sendo observado com olhos de ver e não como uma mera hipotese académica. Há cada vez mais indícios disto poder vir a suceder no médio-prazo, um horizonte de 3-5 anos e espero não estar a ser optimista.
ResponderEliminarEntretanto e de caminho, o meu caro amigo, no seu ponto 4, enuncia duas alternativas possiveis para esta coisa tão estranha do nosso endividamente externo continuar a aumentar. Posso deixar a minha aposta? As reformas apregoadas são 90% show-off, 10% sumo visivel. Mas posso estar errado, claro.
Os famosos momentos-Chavez
ResponderEliminarReformas??? eheheh
ResponderEliminarMas pegando pelo fim, que pode muito bem ser o início, tudo isto me parece, finalmente, o efeito Angola. O que só mostra a nossa pequenez e falta de liquidez.
De qualquer forma, anda tanta gente preocupada em arranjar investidores estrangeiros e o meu caro anda a dizer mal deles? Não pode ser, senão ainda descobrem que se meteram numa pior que obrigações subprime...
Caro Ruy,
ResponderEliminarQuer dizer que temos em perspectiva uma reforma do PRACE, para nos livrar dos malefícios deste?
E o apoio do BdeP a estas profundas reformas não conta para si?
Caro Zuricher,
Bem sei que a história nos oferece múltiplos exemplos de Uniões Monetárias, na Europa e não só, que acabaram mal...mas não me parece que esta possa implodir em 2/3 anos...as dificuldades que refere em gerir a política monetária são reais, até têm aumentado por força das divergências no desempenho das economias da zona Euro...mas daí até à implosão paece-me existir uma grande distância...
Cao Tonibler,
O Senhor não acredita nas reformas ou no efeito benéfico destas?! Esse pessimismo deixa-me perturbado, confesso.