sábado, 5 de abril de 2008

Economia espanhola afrouxa? Nada de receios!

PARTE I
Na sua edição de 4 do corrente, o Financial Times deu significativo relevo a dados muito recentes – relativos à industria transformadora e aos serviços - que indiciam um forte abrandamento da actividade económica em Espanha…
Quebra de encomendas, procura interna mais fraca, actividade em queda e custos a subir – tudo ingredientes que permitem antecipar uma quebra apreciável do ritmo de crescimento já no 1º trimestre de 2008, com tendência para se prolongar.
Estas indicações vêm confirmar que o rebentamento da bolha do sector imobiliário em Espanha está a produzir efeitos em todos os outros sectores da economia.
Sem surpresa, acrescentar-se-á, quando se sabe que o forte crescimento do sector imobiliário foi, simetricamente, o principal responsável pelo dinamismo da economia nos últimos 14 anos.
Os dados avançados por algumas instituições de análise conjuntural sugerem que a economia, depois de ter crescido 3,8% em 2007 pode em 2008 vir a crescer muito menos.
Para o 1º trimestre são apontados valores da ordem de 0,2%, crescimento em cadeia: a manter-se este padrão, o crescimento anual poderá andar na casa de 1%, o que será menos do que a média da zona Euro…
É claro que o Governo espanhol tem alguma margem de manobra, nomeadamente em matéria de política fiscal, pois fechou 2007 com um superavit nas contas públicas.
O que irá fazer o Governo no caso de se confirmarem as piores expectativas?
Poderá utilizar a almofada orçamental e reduzir alguns impostos, quem sabe…
E se os espanhóis se lembram – é bem possível - de reduzir o IVA? Lá teremos os portugueses a correr ainda mais para Espanha, para abastecimento de combustíveis e não só…

PARTE II

Entretanto, embora alguns comentadores tenham vindo a sugerir que esta vizinhança começa a ficar incomodativa para a economia lusa, não me parece que isso possa por em causa o “milagre económico” português.
Felizmente, foi possível decretar a tempo uma taxa de inflação de 2,1% em 2008, que faz inveja aos europeus (e mais ainda aos infelizes zimbabueanos) e um crescimento que pega de estaca e que, bem regado todos os dias pelas agências de comunicação, deverá manter-se a todo o custo, qualquer que seja a evolução das variáveis explicativas.
Não devemos assim temer, por muito más que sejam, as notícias que vêm de Espanha!

6 comentários:

  1. Anónimo00:29

    Caro Tavares Moreira, na dúvida, na dúvida, se calhar o melhor é ir mesmo viver para o lado de lá da fronteira. Já que se abastece o carro, fazem-se umas compritas no supermercado, passa-se na loja dos trapos a comprar a farpela, porque não mudar a residencia também e poupar o incómodo da deslocação para ir às compras?

    Feliz e infelizmente não são poucos os que conheço que têm partido para Espanha. E para mais além também.

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  2. Muito têm ainda que andar os espanhóis para atingir o nosso nível de desenvolvimento em que o crescimento económico não está dependente do imobiliário.... Nem do mobiliário.

    Fora dessa característica de subdesenvolvimento, ter um superavit nas contas públicas ajuda, mas a aposta exagerada que o estado espanhol fez na construção (aqueles Don's todos também precisam de comer) pode ainda não ter sido toda absorvida e esse superavit desaparecer num instante.

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  3. Caro Dr. Tavares Moreira
    O seu texto goza como de costume de muito interesse. Mas do que eu gostei mais nele, foi a " fixação por decreto-lei" do valor da inflacão para 2008 em 2,1%. Uma anedota de que é co-responsável o inefável governador do b.p. E com grande participação, pudera.

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  4. Uma razão adicional para seguir a sua apetecível sugestão, caro Zuricher: os preços das casas estão a baixar em Espanha e essa baixa tem todas as condições para se acentuar nos meses mais próximos!

    Exactamente, caro Tonibler, o nosso desenvolvumento não está dependente nem dum nem doutro desses malfadados sectores.
    Ele afirma-se, pujante e desafiante, por diploma legal e é mantido, também pujante e desafiante, pelo insano e patriótico trabalho (quase gratuito, como bem saberá) das agências de comunicação!

    Desculpar-me-á, caro AntoniodasIscas,mas a inflação fixa e inamovível - por mais que os preços subam - não constitui qq anedota,é antes um factor decisivo para a edificação do "milagre económico" português!

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  5. Portugal está num momento imparável. Nada o afecta. Assim só é possível chegar a uma conclusão. Estamos a cumprir um dos pontos do Blitzkrieg de Hitler. Self-suficiency. Só assim é possível estar imune À conjuntura internacional.

    A Espanha irá abrandar consideravelmente. Penso que iremos sofrer esse abrandamento, em especial na área do turismo.

    Duvido que Zapatero seja a melhor opção. Já o PM acho que "Rosé Luis compañero" é óptima opção. A ver vamos o que é o PSOE capaz de fazer para abrandar os efeitos do abrandamento espanhol.

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  6. Evidentemente, caro André, a continuarmos por este caminho, não admira que - se não for mesmo até ao final da actual -no decurso da próxima legislatura, no pressuposto de uma repetição do modelo rosa que tanto nos enleva - Portugal já terá engolido a Espanha...
    Inverter-se-á assim a tendência dos últimos anos - os portugueses comprando tudo o que cheire a bom negócio em Espanha e não apenas os combustíveis...
    Vai ser uma nova Aljubarrota, agora no campo económico...
    Para começar, este ano já cresceremos a um ritmo quase duas vezes o esperado em Espanha!

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