domingo, 20 de abril de 2008

O drama do PSD


O PSD sofre de um mal terrível. No seu seio prevalece o entendimento de que o partido não precisa de um líder, necessita de um messias. E é pois de um messias que o PSD anda em busca.
É dificil, porém, ser messias sem boa nova. E não vejo que as personalidades messeânicas de que se fala, sejam portadores de uma qualquer doutrina que consiga curar o mal de que padece o partido: a fortíssima sensação de falta de ar, por ser curto o espaço que hoje ocupa, em boa parte apropriado pelo PS.
O PSD só voltará a respirar quando for reconhecido como alternativa ao PS.
E só o será quando apresentar ideias novas para superar os problemas estruturais de que o País continua a sofrer. Se na educação, na saúde, na economia e nas finanças, no papel social do Estado, na desgraçada justiça, nas políticas de segurança ou de ambiente e de ordenamento do território, na relação entre os diferentes níveis de Administração e na estruturação desta, não for capaz de apresentar propostas pensadas e credíveis, não é a personalidade do futuro lider que trará a cura. Ainda que as pessoas se cansem de Sócrates. Ou este se canse de governar sem sucesso.

Julgo inevitável que, mais uma vez, a escolha do lider do PSD se faça pelo simples confronto de personalidades. A confirmá-lo está a teoria dos mínimos há pouco exposta pelo messias, perdão!, professor Marcelo Rebelo de Sousa, na RTP1: é indicado para liderar aquele que está acima dos mínimos, pelo que, existindo vários, não se justifica que ele próprio, um dos messiânicos desejados, se dê ao incómodo de se submeter à imolação, que seria voltar a presidir ao partido a que pertence (não sou eu que o digo, foi Marcelo que, por outras palavras, o afirmou).
Eis um "excelente" crisma para o futuro líder, do qual as resmas de comentadores hostis ao PSD não se irão esquecer: o líder, qualquer que ele venha a ser, sê-lo-á porque que satisfaz pelos míninos...
Mas se é inevitável que a escolha se faça pela confrontação de personalidades, há sinais de que outros (poucos? muitos?) reconhecem que é pelo programa político que a afirmação de uma liderança deve começar. E que o momento é uma oportunidade aberta para lançar para a discussão novas ideias e novas propostas.

Se for assim, começou aqui a regeneração do PSD. Seja quem for a próxima escolha para o liderar.

12 comentários:

  1. Já começaram mal. Já são os media que estão a dirigir o processo de sucessão, com o partido inteiro a bater palmas. Não vai sair grande coisa daqui...

    ResponderEliminar
  2. Quando o caro JM Ferreira de Almeida afirma que o PSD precisa de um messias, está a traduzir o espírito reinante entre os militantes do PSD. No entanto, o messias que todos aguardam não é coincidente.
    Depois, os messias disponíveis, que julgam as suas propostas fantásticas, não querem de modo nenhum correr o risco da martirização. Ou seja, os messias disponíveis desejam que antes de reunir os apoios necessários se forme em torno das suas excelsas figuras uma aura de infalibilidade e de êxtase, um misto de milagre e idolatria.
    "O PSD só voltará a respirar quando for reconhecido como alternativa ao PS". Aquilo que o Prof. Marcelo ontem afirmou, é no fundo o pensamento daqueles que ainda acham poder garantir os apoios condutivos à liderança, mas vêem para além dela o abismo da foto acima. Só uma atitude pode contrariar essa predestinação e, o actor desse "filme" só pode ser um de dois: ou Santana Lopes, Ou Manuela F. Leite. O primeiro pelo popularismo e um certo devaneio político que por vezes o conduz ao sucesso, a outra, pelo carisma, pela tenacidade, pelo saber e pela irredutibilidade. E na conjuntura actual, meu caro JM Ferreira de Almeida, o PSD, antes de aspirar a ser a alternativa concreta ao PS, precisa de colocar ordem interna e explicar a uns meninos irreverentes, obstinados e completamente deslumbrados consigo mesmo, que o partido para além de berço aconchegante de alguns, muito para além disso, tem um desígnio que serve um fim. Governar uma nação! Mas governa-la com saber, com verticalidade. A linha orientadora tem de ser essa, só essa, porque se não for, o mais certo é o PSD fragmentar-se, deixar de haver alternativa ao governo PS e, voltarmos a ter um governo ao jeito daquele do estado novo. Recorda-se?... Recordam-se?
    "O PSD só voltará a respirar quando for reconhecido como alternativa ao PS". Digo eu: O PSD voltará a respirar quando for um partido único, forte, consistente, onde o protagonismo perder o sentido exibicionista e individual e passar a objectivar a construcção e a sustentação da política e do país.

    ResponderEliminar
  3. Anónimo10:05

    Neste processo de sucessão há uma ideia clara e que serve, no meu entender, para orientar o desenvolvimento deste processo.

    Até à pouco e depois de ouvir Pacheco Pereira no Rádio Clube - a sucessão tem de conduzir a uma alternativa de governo credível e a prova dessa condição é quando um homem comum, mesmo que de outra área política, considerar que, mesmo não sendo a dele, existe a tal alternativa;

    Para todos os projectos e líderes esta condição deverá ser testada. A título de exemplo, a eventual candidatura de Manuela Ferreira Leite, no meu entender, não passa no teste pois a idade não permite a perspectiva de médio prazo e considerar um líder para o partido e outro para o governo é perder eficácia na passagem de mensagem junto do tal homem comum.
    A título de outro exemplo, os eventuais lideres e projectos que estiverem convictos de que o espaço político do PSD está em grande parte ocupado pelo PS, tembém não passam no teste.

    ResponderEliminar
  4. Carro Drº Ferreira de Almeida.
    O drama do PSD é igual ao drama de todos os partidos que, na falta do timoneiro certo, dá azo a que qualquer um julgue ter capacidades para o ser.
    Os discursos dos candidatos até agora conhecidos são pouco ambiciosos, falta-lhes aquilo que em linguagem equídea se costuma dizer -“falta-lhe sangue”. E, Sócrates,não é exactamente uma pileca na pista que se segue…
    Compreendo a vaidade dos homens, mas, o momento é muito sério. Sócrates tem contra si muita gente da classe média e média baixa que lhe deu a maioria, mas que não estará disponível para apostar na pessoa errada. Tem de haver alguém credível e com história do saber feito.
    Por mim, aposto na Dra. Manuela Ferreira Leite, pois é a única capaz de pôr nas próximas eleições Sócrates KO, sem sombra de dúvida…

    ResponderEliminar
  5. Demasiado racional, meus caros. No tempo em que os líderes partidários eram escolhidos na base do "gosto dele", acabavam por ser os líderes certos. Mas como andam todos preocupados em ver qual o candidato que preenche mais itens do "check list" que os media construiram, vai dar em asneira de certeza absoluta.

    ResponderEliminar
  6. a foto seleccionada choca-me, não só pelo acto em si, como tb, pelo significado, da imagem de um homem à beira do precipício, associado ao Título "O Drama do PSD" e aos últimos acontecimentos na vida de um dos dois maiores partidos políticos portugueses.

    Se o PSD está à beira do precipício, então a Democracia Portuguesa pode entrar em desequilíbrio.

    Mais preocupante que é pensar, no estado interno do PSD, face a esta imagem e a este título de post, Dr. JM, é para mim, inferir o que isto representa para o País, no seu todo, e nas consequências para a política interna.

    Penso que quem já deveria ter dito ... BASTA ..., era a Dra. Manuela Ferreira Leite.

    Mas tudo tem o seu momento certo, de acontecer.
    Eu sei ...

    ResponderEliminar
  7. Com Luís Filipe Menezes e Santana Lopes, o PSD tem vivido em contra ciclo. Para eles, o PPD/PSD, como Santana Lopes não se cansa de afirmar, deve seguir uma política neoliberal em que “o Estado não pode ter o monopólio da Saúde, Educação e Segurança Social, em que o Estado deve sair do ambiente, das comunicações, dos transportes, dos portos, e na prestação do Estado Social deve contratualizar com os privados”, etc, como dizia Luís Filipe Menezes há bem pouco tempo. Ora, esta política não é outra senão a que Sócrates vem exercendo com alguma eficácia. É uma política cujos princípios são compartilhados não apenas por Santana Lopes, mas também por Ferreira Leite, António Borges e muitos outros. É o velho PPD, esgotado, estafado, vivendo com todos os seus fantasmas do passado, que nada de novo tem para oferecer ao eleitorado.

    Se verdadeiramente o PSD quer conquistar o poder e fazer frente à governação Sócrates, terá que fazer jus ao seu próprio nome – partido social democrata – e propor aos portugueses uma verdadeira política social democrata. Uma política em que o acerto das contas públicas não se faça à custa do aumento de Impostos e cortes nas Funções Sociais do Estado, mas apenas com a redução da Despesa Pública. Terá que encontrar um líder capaz de romper com todos os privilégios criados por este “centrão” politico, romper com a promiscuidade reinante entre o poder politico e económico (com troca de cadeiras a toda a hora), romper com os privilégios das grandes empresas monopolistas nacionais, (que somam lucros escandalosos a cada ano), romper com os privilégios de uma “classe politica” que se reveza no poder, privilégios acumulados ao longo das ultimas décadas, com nomeações politicas para os cargos da Administração, com a criação de inúmeros órgãos do Estado com o objectivo primeiro de satisfazer lugares bem pagos para as clientelas partidárias não apenas na Administração central mas igualmente nas Autarquias (empresas municipais), romper com esta corrupção institucionalizada que atrofia e suga os recursos nacionais, terá que encontrar um líder capaz de relançar o País para um verdadeiro e consolidado desenvolvimento económico, onde se atenuem progressivamente as desigualdades sociais que uma política neoliberal cega tem vindo a agravar.

    Mas será que existe alguém no PSD capaz de responder ao chamamento deste Tempo?

    ResponderEliminar
  8. Compreendo que os militantes do PSD queiram chegar ao poder, é um desejo perfeitamente legítimo.
    .
    Agora para um eleitor não comprometido, o que é que Manuela Ferreira Leite traz de diferente de Sócrates, para além da política cor de rosa/arco-íris e da relação com a Igreja Católica?
    .
    Há alguma diferença na concepção da sociedade? Acreditam no choque fiscal? Acreditam na redução da despesa?

    ResponderEliminar
  9. "A opinião (...) tornou-se quase "oficial". O PSD não tem ideologia, diz-se, e se a tem não é social-democrata mas liberal envergonhado.
    Tema para muitas mangas, que obrigaria a perceber-se o que é hoje a social-democracia e a fazer uma excursão sobre a praxis dos partidos do arco governativo."

    Desculpe-me ter trazido de lá de trás uma resposta sua a um comentário meu. O que disse a seguir, e agora confirma, só reforça, parece-me, que o drama do PSD é esse mesmo:

    A presidência do partido disputa-se em directas que dependem do circuito da carne assada, onde a razão não pontifica. Por outro lado, não seria no espaço curto que Menezes decidiu conceder a eventuais candidatos que alguém poderia vingar as suas propostas com base num programa agregador.

    Deste modo, inevitavelmente o PSD (que não diz em que se distingue do PS, por um lado, e do CDS por outro) continuará condenado a viver entre o nevoeiro.

    Um dia voltará a ser governo? Talvez. Quando descarrilar este governo. Mas pelo andar da carruagem, assim, vai levar muito tempo.

    ResponderEliminar
  10. Caro CCz,
    li o seu comentário. Permita-me que o comente desta forma:
    Os eleitores não comprometidos, pelos menos alguns que eu conheço, os tais que fazem a diferença, dizem-me que a Dra. Manuela Ferreira Leite seria incapaz de manipular a verdade e a mentira de acordo com interesses pessoais e conjunturais. Só aqui, já temos uma grande diferença em relação a Sócrates.
    Milagres, ninguém espera, mas um político de palavra, com certeza que sim!

    ResponderEliminar
  11. Anónimo19:25

    Manuela Ferreira Leite é candidata à presidencia do PSD. Há fumo branco. Finalmente!

    Era realmente esta senhora que eu esperava para ver se se tornava candidata a PM ou não. E a idade dela, isso é o de somenos importância. Não me choca absolutamente nada ter um Primeiro-Ministro com quase 70 anos no início do mandato.

    Agora resta ver se consegue ser eleita pelas bases do PSD (um grande ponto de interrogação) e se consegue ganhar as eleições em 2009, coisa que espero que suceda.

    URRAHH!!!!

    ResponderEliminar
  12. Penso,meu caro Ferreira de Almeida,que o penúltimo parágrafo do seu texto é extremamente feliz no diagnóstico do caminho que o PSD deve seguir.
    É fundamental,talvez mais que nunca,que o partido volte a discutir ideias e propostas que cativem os portugueses.
    A eleição de um novo lider,para além do "folclore" de campanha e das qualidades dos candidatos,deve assentar num conjunto de ideias claras sobre o país.
    Penso que os militantes do PSD nestes ultimos anos tiveram doses exageradas de tacticismo,de manobras,de diz que não diz e faz que não faz.
    Andamos nisso provavelmente desde o cavaquismo.
    E quando algum candidato quiz discutir realmente ideias foi submerso pelas modas(os que eles gostam e os que nao gostam) da comunicação social,pelos regulamentos eleitorais internos ou pela necessidade de proporcionar espectáculos mediáticos.Agora o PSD está na sua 25ª hora: Ou é capaz de dar o salto em frente ou vai definhar em lideranças provisórias que mal eleitas já ouvem o afiar das facas nos bastidores.
    Esse salto em frente,regenerador e necessário,tem de passar necessáriamente por o partido ser capaz de voltar pensar.
    Estratégica e globalmente.
    Não sei se será possivel sinceramente.
    Mas se não formos capazes então não teremos futuro como grande partido alternativo ao PS.

    ResponderEliminar