quinta-feira, 10 de abril de 2008

O médico bolonhês!...

Ao ouvir as notícias televisivas da manhã, levei novamente um tratamento de choque, ao ser várias vezes alertado para o perigo de uma série de doenças, da necessidade de diagnóstico precoce, e copiosamente informado dos sintomas e das formas de tratamento, que estão ali mesmo à mão de semear.
Pensando bem, julgo que as televisões nos querem pôr a rir, logo ao romper da aurora, falando-nos assim das doenças. Só com enorme sentido de humor se pode vir falar do remédio ao virar da esquina. De facto, é fácil; as filas de espera é que estorvam um pouco para lá chegar!...
Mas, a bem dizer, nem é preciso. Os diagnósticos são tão exaustivos e bem ensinados, até com recurso aos audiovisuais, que qualquer um é médico. Eu, pelo menos, com tanto ensinamento, já me considero bacharel em medicina pelo método bolonhês. E vou pedir a minha inscrição na Ordem dos Médicos Bacharéis de Bolonha. Aliás, já vou praticando em casa, receitando aos meus filhos. Eles é que não acreditam ainda e dizem-me sempre: mas agora tens a mania de que és médico? Bem, é preciso dar tempo ao tempo!...Claro que, neste interregno, e supletivamente, vou dando uns telefonemas aos meus colegas médicos e amigos, Dr. Luís Sá Pereira e Prof. Massano Cardoso!...
Depois deste meu exemplo, a auto-medicina é o corolário natural e o futuro: todos passamos a ser médicos. Aliás, a forma correcta de acabar com as filas de espera.
Tanto é assim que, ao terminar o pequeno-almoço, uma televisão me levou à Feira da Saúde, que está a decorrer não fixei em que pavilhão multi-usos deste país. Chega-se lá e compra-se a dose que se pretende!...
Assim, a Feira da Saúde é um verdadeiro serviço público, para democratizar a saúde. Não tarda, lá teremos uma secção especializada, tipo Pavilhão da Saúde, na Feira dos Ciganos do Relógio, na Feira de Carcavelos ou na Feira da Ladra. É só chegar, é só comprar!...
Com diagnóstico precoce e tal serviço de proximidade, está aí a garantia de vida eterna, mesmo neste mundo!...

7 comentários:

  1. Este post, caro Dr. Pinho Cardão, sobretudo por referir que vai praticando em casa, receitando aos seus filhos, trouxe-me à memória uma história passada ha alguns anos.
    Um amigo originário de Castro D'Aire, formou-se e passado pouco tempo regressou à terra de origem, passando a exercer, sob a custódia e em parceria com um velho médico seu mentor.
    Este meu amigo convidava-me com frequência para o visitar e ficar na casa onde habitava, pertença dos pais.
    Um ano, acedi ao convite e passei uma semana com uma família muitíssimo simpática, numa localidade francamente hospitaleira.
    O meu amigo fez questão de me mostrar as belezas da terra e da gastronomia, o rio e a montanha, tudo verdadeiramente extasiante.
    Na manhã do 2º dia, quando desci para o pequeno almoço, encontrei a mãe do meu amigo com um ar tristíssimo, de lágrima a aflorar-lhe ao olho. Preocupou-me o ar da senhora, que de imediato me referiu que o filho estava ainda deitado e que estava mal.
    Mal?
    Mas então o que se passa?
    A senhora lançou um fundo suspiro e informou-me que não dormiu a noite toda devido a uma enorme dor de dentes.
    -Então e não tomou um analgésico, perguntei-lhe.
    -Tomou, até mais de um, mas sabe... ele tem um dente muito estragado... tem medo de ir ao dentista e aquilo já não passa com comprimidos.
    E lá veio a lagriminha, que o filho único era o seu ai-Jesus e uma dor de dentes do filho, representava um braço arrancado para ela.
    Veio-me então uma ideia à cabeça e disse à senhora, vamos lá ao consultório do seu filho, que eu resolvo-lhe já o problema.
    Là veio comigo até à salinha, onde procurei um frasco de eter e um cotonete. Fomos depois ao quarto do meu amigo que gemia enterrado nos lençois. A mãe chamou-o com todo ocarinho deste mundo enquanto eu embebia o cotonete no eter, depois disse-lhe para abrir a boca e enfiei o cotonete na cratera do dente. Nem tugiu, nem mugiu, voltou a tapar a cabeça e nós saímos. Ainda não tínhamos chegado à salinha do pequeno almoço e já ouvíamos os passos do meu amigo, que chega ainda em pijama, com um ar espavorido a dizer que já não lhe doía o dente.
    A felicidade da senhora foi indiscritível, quando viu o filho a pé e aparentemente bem.
    Passei o dia a convencê-lo para consultar um dentista, mas ele preferiu o "meu" remédio.
    No dia em que me vim embora, o meu amigo fêz questão de me colocar a mala na bagageira, enquanto os pais me distraíram a atenção.
    Quando cheguei a casa tinha a bagageira cheia do mais variados produtos, vinho, queijo, enchidos, pão, trinta por uma linha.
    Foi a forma de compreender porque antigamente as pessoas pagavam aos médicos em géneros, afinal o que eles lhes pagavam não era o trabalho, mas sim a salvação... da dor.
    ;)))

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  2. Bela história, caro Bartolomeu.
    E o meu amigo começou logo a ser remunerado em espécie, como um bom João Semana!...

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  3. Caro Drº Pinho Cardão, não tarda muito, ainda vê essa sua competência certificada...
    :)

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  4. Concorrência desleal!!!
    Continuem. Continuem e ainda chamo a ASAE...

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  5. Caro Pinho Cardão,

    Creio que por se encontrar já lá muito em baixo o meu comentário resposta ao teu no post "Burocracia arrogante" ficou a falar sozinho.

    Como estou certo que tens uma boa resposta tomo a liberdade de o repescar para aqui:

    "Caro Pinho Cardão,

    O meu latim não é lá grande coisa, é verdade, e dos clássicos também não me gabo de ter bebido o que devia, mas o que sei é que é no abuso dos contratos com o Estado que os fornecedores engrossam as margens.

    Imagina que tu és o presidente de uma empresa que contrata com duas entidades para prestarem cuidados médicos aos seus empregados. E que à entidade A são entregues os cuidados x, e à entidade B os cuidados Y. Um dia constatas que a entidade A, sem autorização prévia, prestou cuidados y. Que fazes? Pagas e não reclamas?

    Est modus in rebus? "

    E fico na expectativa de notícias.

    Um abraço

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  6. Caro Rui:
    De facto, não tinha visto!...
    Mas vou responder aqui.
    Claro que reclamaria e veria o que se passava.
    Mas cada caso é um caso. Se os cuidados fossem à peça, o remédio seria um; se os cuidados fossem globais, o remédio seria outro. Se tivesse havido má fé, o remédio seria um; se se tivesse agido de boa fé, o remédio seria outro. Se os doentes não fossem prejudicados e a empresa não fosse prejudicada, o remédio seria um; se tal não acontecesse, o remédio seria outro.
    E, sobretudo, quando soubesse, punha ordem na casa, definindo tudo muito bem.
    O que não aconteceu no caso do Amadora-Sintra,ao que li, pese os esforços feitos pela directora para clarificar o contrato em tempo útil.

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  7. Essa Feira vai ter um grande sucesso, os portugueses adoram automedicar-se, os diagnósticos resultam dos conciliábulos entre vizinhos, lá está o ditado a confirmar que "de médico e de louco, todos temos um pouco..." O caro Bartolomeu saiu-se muito bem dessa, será que voltou a ser convidado?? Ou o seu amigo converteu-se ao dentista?

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