A notícia segundo a qual a “democracia portuguesa” é das piores da Europa deixou-me embasbacado. Também não estava à espera que fosse das melhores mas ficar atrás da Estónia, da República Checa, da Hungria, da Eslováquia, da Letónia e longe da Espanha dá cabo da auto-estima de um cidadão que se preze! Ao fim de 34 anos era de esperar que fossemos mais “democratas”, mas não, infelizmente. A nossa participação cívica é paupérrima e tudo aponta para que não melhore. Quem se empenha em actividades cívicas e associativas já deve ter-se apercebido da ingratidão de muitas pessoas, o que é o menos, se compararmos à má língua, a tiques preconceituosos e a uma maldade intrínseca a que não é alheia a falta de cultura e de formação. Nalguns meios, sobretudo nos mais pequenos, sente-se um atrofiamento na liberdade de expressão, falo da genuína, da democrática, com medo de eventuais retaliações(!), passando a ser usual as facadas, as pulhices e sacanices feitas à calada e nas costas dos visados. À verdadeira democracia contrapõem a ditadura da cretinice e da mesquinhez. Curiosamente esta última forma não lhes tolhe a língua! Considero que a falta de formação e de empenho nas instituições democráticas e associativas pode explicar a nossa má democracia. Também não é alheia a tendência dogmática de grande parte da população que, ao transferi-la para a politica, acaba por toldar a visão, originando verdadeiras cataratas sociais que nem os requintados médicos cubanos são capazes de extirpar. Para não falar da surdez selectiva. É do partido X? É um animal! É do partido Y? É um palhaço. O que eles querem é encher a mula. Se alguém estiver interessado em fazer uma colectânea de insultos políticos estou certo de que não vai queixar-se, nem de material, nem de originalidade boçal. Entre os próprios políticos, acabamos, algumas vezes, por observar tiques de parvoíce consciente e ridícula que já não sei se são consequência dos seus apaniguados ou se é para os alimentar.
Mesmo assim, o melhor é continuar a ter intervenção cívica, porque senão ainda corremos o risco de não continuarmos a ser uma das piores democracias mas passarmos para uma “democracia empezinhada”. E eu não gosto nada de coisas empezinhadas...
Mesmo assim, o melhor é continuar a ter intervenção cívica, porque senão ainda corremos o risco de não continuarmos a ser uma das piores democracias mas passarmos para uma “democracia empezinhada”. E eu não gosto nada de coisas empezinhadas...
"A coima aplicada ao PSD no âmbito de um financiamento ilegal realizado pela empresa Somague poderá ser paga até 2010, em quatro prestações, sem juros. O presidente do Tribunal Constitucional (TC) foi sensível aos argumentos de que o partido se encontra mal financeiramente"
ResponderEliminarPublico, 4 de Maio
Ora, Prof., eu nem faço ideia onde é que as pessoas vão buscar essa do "eles querem é encher a mula"...
tem razão, Prof. Massano, há mesmo muito trabalho a fazer, mas às vezes parece tudo inútil, tudo se organiza para que pareçam justificadas essas atitudes de troça ou de desprestígio. Talvez seja uma forma de se justificar um certo medo de confronto com quem não concorda,ou preguiça de não participar, não sei, quando oiço essas conversas só se gera um aplauso geral quando se entra na má língua ou em juízos demolidores de muitas figuras públicas de quem nem se conhece quase nada... Mas, no fundo, todos esperam que "alguém" lhes resolva os problemas!
ResponderEliminarCaro professor Massano Cardoso, vivemos no mundo ocidental, e de há uns 40 anos a esta parte, na utopia democrática, ou seja, criou-se nos países mais avançados socialmente um determinado modelo aplicavel às suas condições, mentalidades, etc, etc, e aplicou-se posteriormente esse modelo a todos os outros países, cegamente, sem cuidar de verificar se esse modelo seria assimilavel pela cultura existente nesses sítios. Por isto, aliás, temos os retumbantes falhanços da democracia em África onde há diversos factores - primordialmente o tribalismo - que impedem a existência da democracia.
ResponderEliminarNo caso Português, para o povo existente e para a cultura Portuguesa, a democracia, pelo menos o modelo aplicado, não pode funcionar. É simplesmente muito distante da cultura do povo para poder funcionar em pleno. Quer isto dizer que em Portugal não podemos ter um regime democrático e poderíamos ter apenas totalitarismo? Não direi tanto mas digo que enquanto não voltarmos uns quantos passos atrás e fizermos a transição que não fizemos em 1974, 75, 76, etc, etc estes resultados são normalissimos e, aliás, coisas bem piores do que estes resultados. E não tendem a melhorar, em absoluto, dado que ao não ter havido uma aprendizagem feita com calma, com tempo, com ponderação, não houve o salto social que poderia levar-nos a ter uma sociedade efectivamente democrática e um povo com efectivos valores democráticos. Democracia é muito mais do que enfiar um papel num caixote a cada quatro anos!
A democracia é o sistema de governo supremo por excelência. É o mais avançado, o mais evoluído, o mais próximo possivel da perfeição que a humanidade conseguiu alcançar. Porém, um sistema avançado, evoluído e quase perfeito não pode funcionar numa cultura que está num estágio social atrasado como a Portuguesa. Precisamente por haver esse desfazamento entre cultura, mentalidade, estágio social do sistema e dos governados, é que um sistema de governo teoricamente perfeito não funciona e empanca em cada esquina.
A terminar, dois exemplos: veja-se o caso espanhol onde houve um regime totalitário bem mais forte aliás do que o nosso. A transição política em Espanha demorou sete anos a ser feita, desde 1975 quando morreu o Generalissimo Francisco Franco até 1982 quando finalmente se pacificaram as forças armadas e houve a alternância de governo pacífica da 1ª para a 2ª legislaturas constitucionais, dentro de canônes democráticos e com a vitória de um partido diferente daquele que governou Espanha durante a 1ª legislatura. Durante esses 7 anos os espanhois, com o poder, não direi real mas de facto, numa pessoa só, o Rei, figura aglutinadora e respeitada por todas as forças sociais, políticas e militares, aprenderam a viver em democracia, aprenderam a usar as instituições democráticas e a conviver uns com os outros. E, convenhamos, já nessa altura os espanhois eram um povo socialmente mais avançado do que os Portugueses. Talvez cá um processo de transição tivesse que ter demorado algo mais do que os 7 anos que demorou a trasição no Reino vizinho.
Veja-se também o caso Francês onde o modelo democrático de matriz anglo-saxónica não funcionou no pós-guerra, sendo necessária uma nova constituição, mais afastada do modelo de governo britânico, mais restritiva, com menos repartições e divisões de poderes, mas mais adequada à França e aos Franceses. Com a Quinta Républica conseguiu França alcançar em menos de 5 anos a paz, a estabilidade e a prosperidade que não havia conseguido nos 13 anos anteriores e estava fadada a continuar. Foi isto que o general de Gaulle percebeu e o levou a promover a transição da Quarta para a Quinta Républica em França.
Caro Zuricher
ResponderEliminarMuito interessante a sua análise. Aprendi bastante. Muito obrigado.
De qualquer modo temos que nos esforçar um pouco mais para ver se ajudamos a vencer este grave problema que nos afecta, como diz a Suzana, e sem intenção de "encher a mula"...
Professor,
ResponderEliminarAssim de repente, fiquei com a sensação de que estava - um pouco - aborrecido quando escreveu este post.
Não esteja assim. Veja as coisas pelo lado positivo. Por certo, devemos estar à frente da Colômbia ou da Nicarágua, ou até mesmo do Malawi e isso é positivo.