segunda-feira, 5 de maio de 2008

Notas soltas sobre a vida, a solidariedade e outras coisas...

As campanhas do Banco Alimentar Contra a Fome têm vindo a mobilizar e a sensibilizar crescentemente as pessoas para a questão da pobreza, da fome e do desperdício. A percepção da crise que o País vive explica a manifestação de solidariedade quando os portugueses são interpelados para ajudarem. É o lado bom de uma realidade socialmente injusta que afecta muitas dezenas de milhares de famílias.
Deparamo-nos hoje com mais pessoas que precisam de ser ajudadas nas coisas mais essenciais da vida. Os alimentos são elementos fundamentais de vida. São a base sem a qual ninguém terá condições e forças para andar para a frente, para integrar e zelar pela unidade e bem estar da família, para procurar trabalho, para se socializar e para tantas outras coisas essenciais a uma existência digna e plena. A situação económica do País está pior. Há muita pobreza silenciosa e assiste-se ao surgimento dos chamados “novos pobres”. São os idosos com as suas magras pensões que entre a saúde e a alimentação, entre os medicamentos e os alimentos escolhem os primeiros, restando muito pouco para fazer face aos segundos. São as famílias assoladas pelo desemprego e pela incapacidade de fazer face aos empréstimos contraídos que não conseguem assegurar as despesas mais básicas do dia a dia.
Se as campanhas do Banco Alimentar Contra a Fome podem ajudar muito muitas pessoas – alimentam uma média diária de cerca de 240.000 pessoas em todo o País – e se a solidariedade tem aqui uma função humanitária inigualável e insubstituível, o Estado não pode “assobiar para o lado”. Ninguém pode ficar descansado ao ouvir o ministro da agricultura dizer que não vai haver racionamento de bens alimentares em Portugal! O que quer isto dizer? Que os bens alimentares não faltarão nas prateleiras dos supermercados? Lá estarão mas certamente com um escoamento mais lento devido ao aumento do preço. É evidente que vai haver racionamento porque, como é óbvio, se o preço dos bens aumentar muitas famílias serão obrigadas a racionar a sua aquisição. Também parece óbvio que o seu orçamento não é elástico. Poderemos estar perante uma “falha” de mercado cuja gravidade exija uma intervenção do Estado.
A situação entre nós não se compara, é claro, com outras regiões do mundo em que a fome tem sido uma permanente ameaça, em que há muito se joga um difícil e ténue equilíbrio entre a sobrevivência e a morte de milhões de pessoas. Mas em Portugal há fome. Não nos iludamos. É um dado adquirido.
A escalada internacional dos preços dos bens agrícolas de primeira necessidade não deixará de nos causar problemas. Temos que estar atentos e minimizar os seus efeitos. A solidariedade fará o seu papel. E os responsáveis políticos terão que fazer o seu!
NOTA: Este texto foi ontem publicado mas inadvertidamente apagado. Volta agora a estar no "ar".

6 comentários:

  1. Na data em que se comemorou o aniversário da revolução de Abril, a "dos cravos", o Sr. Presidente da República, "manifestou-se" públicamente preocupado pelo facto de os jovens desconhecerem os factos importantes da história deste País. Aludindo a essa causa, registou também o caro Dr. JM Ferreira de Almeida no seu texto intitulado "O "meu" 25 de Abril"
    que os jovens do seu districto, não só conheciam como ensinaram o significado do dia da liberdade.
    (foram os jovens que deram uma lição a quem a ela compareceu, sobre o sentido profundo, no passado e para o futuro, do 25 de Abril.)
    Depois, num comentário posto ao nosso muito amado comentador JC, JMFA, adianta uma tese sumária, com a qual concordo em pleno...(Meu caro JotaC, pode crer que é Povo do melhor. Repetidas vezes abandonado à sua sorte, sem os cómodos que são comuns em qualquer localidazeca do litoral, é gente que vai construindo o seu futuro literalmente à sua custa.) Sábias palavras, de quem tem uma visão arguta sobre um problema social quem paraliza este país... O povo é bom, é lutador, é constructor, mas é travado por um poder central que ao invés de ajudar a realizar-se, age e legisla no sentido inverso.
    Neste estado de direito, onde o cidadão deveria auferir de direitos iguais e onde todo o cidadão deveria estar protegido nos seus direitos mais básicos e elementares, assiste-se a uma ostracização e burocratização que visa atirar para guetos, aqueles que sendo mais frágeis, calam sob o paseo da impotência e saboreiam o amargo de um fim de vida que por direito lhes deveria ser amena.
    Voltando ao raciocínio do nosso caro JMFA, parece-me que nunca tanto como hoje, se torna necessário descentralizar o poder e regionalizar. Isto porque, apesar do constrangimento da realidade social do país, encontramos nos pequenos centros, mais empenho por parte dos autarcas, juntas de freguesia e entidades de carácter social, naquilo que respeita às condições de assistência aos idosos e no apoio às actividades lúdicas e intelectuais dos jovens.
    Assim, cara Margarida Corrêa de Aguiar, acredito e espero, que a Liberdade entendida pelos jovens de Lamego, seja a real e efectiva Liberdade de que Portugal necessita, uma liberdade que coloque a todos indiferencialmente num plano de igualdade e de respeito.
    Já agora, termino o comentário,roubando as frases do nosso muito amigo JMFA ...
    Mas saiba-se que é bom sentir a primavera anunciada por aquelas jovens andorinhas.
    Enche-nos o coração de esperança no futuro.
    ;)

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  2. Drª Margarida Aguiar
    A existência de escassez global de alimentos era pouco previsível há escassos 20 anos. Havia fome, morte por fome em muitas zonas do globo, mas existia sobretudo uma incapacidade (leia-se falta de vontade) de partilhar as existências. Hoje fala-se de escassez geral de alimentos. Paralelamente constatamos que parte dos desvios no tipo de produção em paises pouco desenvolvidos não decorre unicamente da opção pelos produtos transformáveis em bio-energia. Decorre também do facto de a Europa e os EUA terem barrado a entrada a produtos hortícolas através de fortes subsídios à produção interna. Veja-se o caso francês.
    Como bem disse no seu texto, temos todos que ajudar a ultrapassar esta situação. Incluindo os responsáveis políticos. Formulo assim a questão porque se torna cansativo ver o permanente"passa culpas" para os responsáveis políticos esquecendo que vivemos numa Democracia Representativa. Em que, em última análise, todos somos responsáveis.
    Entretanto custa ver que até com os alimentos jogam os mercados. O jogo dos Futuros é quase sempre entusiasmante. Mas muitas vezes é abjecto. Oxalá não exageremos nos mercados de alimentos.

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  3. Concordo Caro Bartolomeu que teremos que caminhar no sentido de aprofundar a descentralização, em particular nas áreas sociais. A acção social tem razões de proximidade acrescida com todas as acções em que se organiza a protecção social. A proximidade entre os cidadãos e as entidades locais com responsabilidades autárquicas e vocacionadas para prestar apoios sociais e mobilizar vontades e interesses é um valor que tem sido atrofiado por um Estado centralizador que da cúpula tudo quer decidir e controlar. Este modelo de funcionamento está há muito "falido" e torna-se cada vez mais evidente que a melhoria da qualidade de vida das populações passa pela transferência de competências que do nível central para o nível local. Penso que os responsáveis políticos não terão outra hipótese que não seja caminhar neste sentido.

    Caro Manuel
    A especulação financeira dos bens alimentares é perigosa. Conhecemos há muito dois mundos, o do supérfluo, da zona dos países desenvolvidos que pagaram para não cultivar as suas terras ou para destruir as suas culturas, e o da fome, da zona dos países do terceiro mundo que ainda que tendo recursos naturais não têm como deles extrair os bens alimentares de que tanto precisam. É uma realidade paradoxal, quem tem não quer ter e quem não tem não consegue ter. Com a actual crise, os responsáveis políticos terão que repensar esta situação. É claro que somos todos responsáveis, mas muitos de nós não temos verdadeira consciência do caminho que o mundo levou nos últimos anos.

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  4. Cara Margarida
    Curvo-me respeitosamente perante este obra épica que só honra àqueles que auxiliam e cooperam, das mais variadas maneiras, nesta notável cruzada a favor dos desfavorecidos pela sorte, num país roto pela injustiça social e pelo desemprego. Assiste-me entretanto, como entusiasta que procuro ser nestas iniciativas, colocar uma pequena pergunta ao governo que gostava de ver respondida com sinceridade e sem a tradicional mentira que o vem cada vez mais, caracterizando. E os senhores o que têm feito de registo neste domínio? Ai dos dois milhões de portugueses à beira da pobreza se não fossem iniciativas como esta e outras geridas por outras Instituições que também merecem o maior respeito e agradecimento, por todo o bem que levam e proporcionam aos outros.outrosvindo a realizar.

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  5. Caro antoniodasiscas
    A sua pergunta conduz-nos a uma outra que é a de saber como se complementam, onde começa e acaba cada uma das componentes, da solidariedade e da política redistributiva. Quais são os níveis de responsabilidade que cada uma delas deve assumir, quais os equilíbrios desejáveis?
    Uma coisa é certa, enquanto que as políticas redistributivas não têm tido a eficácia desejável, a solidariedade tem vindo a ganhar profundidade.

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  6. Este notável trabalho do Banco Alimentar e da Entreajuda, entre outras instituições que abnegadamente reunem solidariedades e ajudam os mais pobres, tem dois grandes méritos, a meu ver. Um, é provar que a sociedade civil pode fazer muito, mas mesmo muito, para combater as dificuldades que muitos sentem, sem estar à espera do Estado. por outro, traz à luz do dia muitas carências que de outro modo ficariam a sofrer em silêncio, que os Governos querem esconder, por impotência ou por calculismo, e aumenta a pressão para que se procurem políticas equilibradas e de melhor justiça social. Neste combate, todos têm um papel a desempenhar, honra aos que o fazem desta forma tão empenhada e persistente, procurando levar cada vez mais longe e melhor a sua acção.

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