Lembro-me que há já alguns anos - 22 para ser preciso - da primeira vez que estive em Macau, me terem oferecido um livro (de que não recordo o título e que hoje procurei e não encontrei...) no qual se fazia a prognose de que no princípio do século XXI a República Popular da China iria provocar uma alteração radical no jogo dos poderes económico e político à escala mundial.
A previsão confirma-se. A China transformou-se numa potência determinante do rumo do mundo e da economia mundial. E dela depende já a estabilidade de muitos Estados, não por via político-militar, como aconteceu na segunda metade do seculo XX, mas de um poder mais imperceptível.
Cenário improvável, quase de ficção, para a maioria dos dirigentes do mundo ocidental dos anos 80 e 90 do século passado, a verdade é que, no jogo das interdependências, os chineses, silenciosamente, foram dando as cartas. Sem que nesta parte do mundo se tivesse a percepção, que só agora vai ganhando forma, que o baralho é made in china.
A Unica, revista que acompanha o ´Expresso´desta semana traz um trabalho sobre o que chama invasão silenciosa.
Revela, por exemplo, que hoje a China ocupa o segundo lugar na lista dos maiores exportadores do mundo, e arrecada o terceiro quando se fala em países importadores. Só em 2007, o volume de exportações da União Europeia para o gigante asiático chegou aos 48 mil milhões de euros. Em Portugal, a Associação Comercial e Industrial Luso-Chinesa assegura que há 20 mil chineses legalizados, 5 mil estabelecimentos comerciais e 400 restaurantes.
Estes números dizem bem da dimensão do fenómeno, que foi crescendo paciente e silenciosamente como é próprio da personalidade oriental.
Mas porventura tão revelador como estes dados é o ensaio que a Unica revelará sobre como é viver um dia sem produtos chineses.
Julgamos que esses produtos são só os que se encontram nas lojas que um pouco por toda a parte vendem toda a sorte de quinquilharia e servem sobretudo um consumidor de baixo poder aquisitivo atraído pelos baixos preços. Mas é, mais uma vez, uma ilusão, um jogo de sombras em que a realidade está por detrás do biombo.
Despertado pela ideia do ´Expresso´, olho à minha volta e faço o teste. O telemóvel, o computador onde escrevo, o rato, a caixa dos óculos que uso, o polígrafo, a pendrive, o agrafador, enfim, muito do que neste momento me rodeia e faz parte do meu dia-a-dia é feito na China. O que faz parte do meu dia-a-dia e a que eu não posso renunciar...
Quase imperceptivelmente a China ocupa-nos. E faz nascer no Ocidente uma torrente de recursos financeiros que explicam o crescimento económico e a rápida melhoria da qualidade das centenas de milhões de famílias do outro lado do mundo.
Os custos para o Ocidente, esses só agora se estão a fazer sentir. Nos preços dos bens essenciais. Veremos a prazo em que mais...
Caro JMFerreira de Almeida, reportando-me à ideia inicial expressa no seu texto, permita-me que acrescente o recente reatar de "contactos" políticos entre China e Japão, o que poderá ser para alem de uma "estratégia oriental" para dominar mais eficientemente a economia mundial, pode ainda ser perfeitamente uma estratégia militar para ameaçar sobretudo os estados unidos. Podemos com facilidade imaginar que os Japoneses não tenham esquecido as bombas de Hiroshima e Nagazaky, lançadas pelos aviões americanos no preciso dia e ano do meu nascimento (podiam ter assinalado o evento de uma forma que pudesse constituir para mim, motivo de orgulho). A não esquecer ainda que a China, apesar de dissimuladamente letargica, tem uma política totalmente antagónica à europeia e americana. Pelo sim, pelo não, vou estabelecendo laços de cordialidade e alguma amizade com a chinezinha Li da loja mais perto de mim, não vá precisar de uma "cunha" quando as brigadas vermelhas invadirem "isto".
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